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Time de cartola de 15 anos é acusado de dever salários aos jogadores

Jogadores do Esperia Bola na Cesta estariam sem receber seus salários - Reprodução Facebook
Jogadores do Esperia Bola na Cesta estariam sem receber seus salários Imagem: Reprodução Facebook

Daniel Neves

Do UOL, em São Paulo

27/09/2013 06h00

Presidido pelo garoto de 15 anos Pietro Vendramini, o projeto que retomou o basquete profissional do Esperia entrou na mira da recém-criada Associação de Atletas Profissionais de Basquetebol do Brasil (AAPB). A entidade apresentou denúncia ao Ministério do Trabalho acusando a falta de pagamento dos atletas do tradicional clube paulistano.

Segundo o advogado da AAPB, Filipe Souza, os atletas que defendem o Bola na Cesta/Esperia no Campeonato Paulista estão sem receber salários desde que foram contratados. Alguns deles estariam há quatro meses sem vencimentos.

“Desde que eles chegaram lá, dizem que na semana seguinte o problema será resolvido. E conversando com os atletas, você percebe que eles estão desesperados”, disse Souza ao UOL Esporte. “Tem gente que tem filho, precisa pagar pensão. Eles estão desolados, a situação é desesperadora”.

Com apenas 15 anos, Pietro Vendramini criou o projeto Bola na Cesta, que previa a criação de times de base e profissional. Contando com o investimento financeiro de seu avô, o advogado e empresário Luiz Vendramini, o jovem cartola firmou parceria com o Esperia para gerenciar as equipes de basquete do tradicional clube.

"O meu sonho era ir para os Estados Unidos para estudar e jogar basquete. Eu estava querendo começar a treinar sério, mas não tinha onde treinar. Só tinha treinos de escolas e clubes. Clubes você precisa passar por peneira ou comprar o título. Eu decidi criar o Bola na Cesta para ajudar jovens na mesma situação", afirmou Pietro, em entrevista ao UOL Esporte em março de 2013.

Primeiro campeão estadual, em 1924, e local da primeira sede da Federação Paulista de Basquete,  o Esperia foi o clube procurado para parceria, que inicialmente previa apenas o trabalho com a base. O time adulto, porém, também acabou contemplado pelo projeto e retomou suas atividades.

Com a parceria com o Bola na Cesta, o Esperia esteve em quadra para a disputa da primeira fase da divisão principal do Campeonato Paulista em 2013. Perdeu 12 dos 13 jogos que disputou e terminou na última colocação. Atualmente, a equipe participa da divisão de acesso do Estadual e também aparece na lanterna, com duas vitórias em seis partidas. A fase classificatória do torneio termina no dia 17 de outubro.

“Esses jogadores não podem sair do Esperia porque não conseguem jogar em outro clube no mesmo campeonato e os times de outras competições estão basicamente montados”, comentou Filipe Souza. “E sair de São Paulo, que é o principal centro do basquete, é prejudicial ao atleta. Você tem uma exposição muito menor”.

Responsável pelas finanças do projeto, Luiz Vendramini admite a existência de dívidas com os atletas, mas nega que haja atrasos que cheguem a quatro meses e promete acertar as pendências na próxima semana. O avô de Pietro afirma que os custos com o time profissional foram muito acima do esperado e que a falta de patrocínio põe em risco a continuidade do Bola na Cesta.

“Se não houver patrocínio até o fim do campeonato, será difícil de continuar. É impraticável tirar do bolso uma despesa como essa. Tanto que estou vendendo alguns dos meus imóveis para cobrir, inclusive o apartamento onde moro hoje”, afirmou Vendramini. “O custo hoje é de R$ 50 mil por mês. A dívida está em torno de uns R$ 80 mil, mas a cada mês fica maior. Mas vamos pagar, quem deve tem que pagar”.

Vendramini também ressaltou o trabalho social realizado pelo Bola na Cesta, que conta com 120 jovens em suas categorias de base. Os atletas, muitos deles crianças carentes, têm refeições, alojamento e escola bancados pelo projeto, além de receberem uma ajuda de custo.

“Não me arrependo nem um pouco do que fiz [investir no time] porque fiz isso pelo Pietro, sabia que não daria lucro. E quando você entende o contexto que esses meninos atendidos estão envolvidos e a ajuda que damos a eles, você fica tocado. Se tivesse que fazer tudo de novo, eu faria”, afirmou Vendramini.

Apesar do projeto ser gerido pelo Bola na Cesta, a AAPB procurou o Esperia em busca de uma solução para o problema, já que o clube é quem tem o registro junto à Federação Paulista de Basquete. Uma reunião agendada entre as partes, porém, acabou desmarcada pela agremiação, o que levou a associação a procurar o Ministério do Trabalho.

Procurado pelo UOL Esporte, o Esperia emitiu um comunicado em que ressalta que o Bola na Cesta é responsável por suas equipes de categorias acima do sub-16, entre elas a profissional, e que os atletas têm contratos com o projeto de Pietro e Luiz Vendramini, não com o clube.

O clube ainda afirmou desconhecer qualquer reclamação por parte dos atletas quanto a atrasos salariais e disse ter solicitado mais informações aos responsáveis pelo Bola na Cesta. Sobre a reunião com a AAPB, o Esperia admite que o encontro foi cancelado e diz que a remarcação do compromisso ainda não ocorreu por não possuir telefone ou e-mail de contato da associação.