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Será a "Lava Jato do Esporte" uma possibilidade real para o futuro?

Agentes da Polícia Federal cumprem mandados de prisão e busca e apreensão durante a 56ª fase da Lava Jato nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia - Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo
Agentes da Polícia Federal cumprem mandados de prisão e busca e apreensão durante a 56ª fase da Lava Jato nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia Imagem: Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo
José Cruz

28/02/2019 14h38

O governo federal discute investigar o dinheiro público que o extinto Ministério do Esporte destinou às confederações. Os focos da varredura seriam os contratos (verba orçamentária) e os patrocínios das estatais. Porém, para se ter uma verdadeira "Lava Jato do Esporte", a investigação deveria incluir os projetos da Lei de Incentivo e os gatos -  ops, errei - os gastos dos megaeventos esportivos.

Estranhamente, o esquema de corrupção identificado em confederações pelo Ministério Público e pela Polícia Federal do Rio de Janeiro, há cinco anos, não evoluiu. Ali estava o caminho das pedras para a descoberta de uma rede de fraudes com o dinheiro do esporte e das parcerias olímpicas com governos e empreiteiras. 

A decisão do governo de investigar as denúncias surge quando empresas estatais começam a abandonar o apoio ao alto rendimento. E coincide com a reportagem da Folha de S. Paulo, do domingo (24), contando que, só em 2018, sete estatais investiram R$ 381 milhões em 73 contratos.

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Em tese, o esporte enfrenta a sua pior crise das últimas décadas, atingindo a estrutura do sistema. No início, denúncias de corrupção envolveram cartolas da elite, como o então comandante olímpico Carlos Arthur Nuzman e o ex-presidente da CBF José Maria Marin, condenado pela Justiça dos Estados Unidos.

Os problemas se agravaram e o terror, agora, é pela escassez de dinheiro público nas confederações. Por extensão, as federações agonizam. Na iniciativa privada, Nike, Nissan e Bradesco não renovaram contrato com o Comitê Olímpico do Brasil. O drama cresceu em janeiro deste ano, quando o presidente Jair Bolsonaro chaveou o cofre público que abastecia o alto rendimento -- só de patrocínio das estatais, a perda foi de 50%, coisa de R$ 190 milhões, ainda segundo a Folha.

É preciso lembrar os tempos de fartura. Foi em 2003, no primeiro ano de mandato do ex-presidente Lula, que o esporte entrou nas prioridades do governo. A grana saía do Orçamento da União, da Lei de Incentivo, das Forças Armadas, Caixa Econômica, Petrobras, Infraero, Banco do Brasil, Correios, Eletrobras, BNDES, além dos tradicionais repasses das loterias federais, via Lei Piva. Sem contar os investimentos dos Estados e municípios, principalmente, no Rio de Janeiro, sede do Pan-Americano de 2007 e demais megaeventos.

Com tanto dinheiro, nada faltou à preparação da elite dos atletas aos Jogos Rio 2016. E estava garantida a primeira classe dos nossos "esforçados dirigentes" nas viagens internacionais. Nessa festa esportiva, o futebol entrou na farra e mais de cem clubes tiveram perdoada boa parte de suas dívidas fiscais, que somadas beiravam os R$ 5 bilhões. O saldo está sendo pago em até 240 meses. Generosidades da então presidente Dilma Rousseff.

Nesse panorama geral, faz sentido o governo investigar para saber quem lucrou com os grandes eventos esportivos e como esse ganho aconteceu. O contribuinte ficará agradecido se, pelo menos, parte do dinheiro for devolvido. Ilusão? Nada disso! Os políticos e poderosos empreiteiros da Lava Jato que se mudaram para Curitiba que o digam.

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