Gustavinho Lima: Finais do NBB estão em boas mãos
O duelo que decide o campeão do NBB 11 começa amanhã (19). Franca, com 23 vitórias e 3 derrotas, e Flamengo, com 22 vitórias e 4 derrotas, foram os dois primeiros colocados na tabela e derrubaram seus adversários um a um para ganhar o direito de disputar o principal caneco do basquete nacional.
Seria fácil dizer que deu a lógica, mas falar em lógica é traiçoeiro quando se trata de esporte.
O esporte não é ciência, não há exatidão, existe o improvável e o imponderável, mas alguns números mostram a força das duas melhores equipes do país. Joguei pelo Corinthians nesta temporada, e estes foram os únicos dois times que não conseguimos vencer.
O Flamengo maltrata os adversários nos rebotes, é o primeiro neste quesito na Liga. Com uma tábua agressiva comandada pelo gigante Varejão, detentor do anel de campeão da NBA e ex-companheiro tanto de LeBron James quanto de Steph Curry. Olivinha, o maior reboteiro da história da competição, é desses jogadores que não tem bola perdida, é a alma do time e xodó da torcida. Complementam o time dos reboteiros rubro-negros, o sólido pivô das Bahamas David Nesbitt e o versátil Rafael Mineiro, que além de forte no rebote ofensivo, é um grande defensor de "missmatch".
No duelo das quartas de final, sentimos na pele a força da equipe do Flamengo. O Corinthians, em seu primeiro NBB, vinha de uma série dura e desgastante contra o Brasília, onde vencemos nos detalhes. O duelo das multidões seria mais indigesto. Sofremos com as segundas chances, com o constante revezamento flamenguista e não conseguimos conquistar uma vitória no confronto. 3x0 para eles.
O argentino Balbi, armador de uma tranquilidade absurda, botou a bola de baixo do braço e deu ritmo ao quinteto titular. Marquinhos foi decisivo. Na minha opinião, é o melhor jogador da liga. Muitos torcem o nariz dizendo que falta sangue para o craque, mas, com seus 2,08m de altura, ele se torna quase imarcável, uma espécie de Kevin Durant brasileiro.
Apesar das estrelas, o grande diferencial do esquadrão carioca é rotação. Com a troca constante e entrada de jogadores do banco, conseguem jogar sem cair o padrão e podem sustentar e dar energia ao time durante toda a temporada.
O Flamengo vem de uma série dura contra o Botafogo a mais grata "surpresa " deste NBB. É importante ressaltar que Léo Figueró, coach do Fogão, já tinha feito um ótimo trabalho como assistente de Rodrigo Barbosa, em Caxias do Sul no ano anterior e montou um time muito aguerrido e solidário, que vendeu caro a vaga na Final ao Mengão, com 3x1 ao final.
Diferentes jogadores foram importantes ao longo da série: Deryk, especialista em tiros de 3 apareceu bem, Jonathan agressivo no rebote de ataque e Davizinho foi o cara do jogo 4, organizando o time e tomando boas decisões, além do Marquinhos que mais uma vez chamou a responsabilidade.
O basquetebol moderno está cada vez mais físico e sugere maior rotatividade, não existe mais esse papo de jogar em 5 e os reservas entrarem só para descansar os titulares.
Gustavo de Conti, técnico do Flamengo, usa e abusa do seu plantel. O atual campeão do NBB é visto por muitos como um cara hostil e até grosseiro, mas na minha opinião é o melhor coach do país. Sempre arranca o melhor de seus atletas, valoriza o jogo em transição, os chutes de 3 pontos e o principal, trata todos seus comandados de maneira igual.
A capital do basquete
No Parque São Jorge, a nossa temporada podia ter sido outra, mas o basquete não é uma ciência exata. Arremessamos a bola para vencer Franca no primeiro jogo do campeonato, mas a bola caprichosamente tocou no aro, subiu e não entrou.
De lá pra cá, o time do interior de São Paulo, atual campeão paulista e da Liga Sul-americana contou com seu ginásio, o Pedrocão, lotado e só perdeu três vezes no campeonato.
O técnico Helinho merecidamente recuperou o prestígio na capital do basquete. Depois de perder a Final do Super 8 em casa para o próprio Flamengo houve boatos de que seu cargo estaria ameaçado, mas respondeu com trabalho. Tem na mão o time que hoje talvez jogue o basquete mais bonito no Brasil.
Tem um quinteto bem definido: Elinho, David Jackson, Jimmy, Lucas Dias e Cipolini que jogam por música.
Elinho, maestro da equipe, tem três trofeus tatuados no braço, e agora chegando a mais uma final pode fazer um novo rabisco. Depois que foi dispensado do Mogi, foi para a final de quase todos os campeonatos que disputou. É o melhor armador atuando no Brasil e a pergunta que não quer calar é: por que não veste a amarelinha?
Atual campeão pelo Paulistano, junto com Lucas Dias, eles têm uma química incrível. Lucas, para mim, é talvez o maior talento surgido no Brasil nos últimos anos. Esguio com 2,08m de altura e 2,20m de envergadura, joga como 4, verdadeiro matador de bola, abre a quadra e deixa as defesas dos adversários muito vulneráveis.
Eu, como capitão do Corinthians, tive direito a voto, e o escolhi como MVP do torneio, com todo respeito a JP que fez uma excelente temporada pelo Mogi e deve abocanhar o prêmio.
O time joga coletivo, tem o melhor índice de assistências por erros da Liga. Abusa dos "pick and rolls" com Elinho e também com seu suplente, o jovem e muito bom jogador Alexey, e com Cipo que encaixou bem demais jogando de 5, rolando pra cesta e também fazendo o "pop out" para o chute com Hettsheimer, jogador de seleção brasileira que após sofrer com lesões, voltou matando. Apesar de seu tamanho, é um dos grandes chutadores da liga.
Assim como o Flamengo, o time francano também aposta na rotação. Conta com um banco fortíssimo: André Goes, jogador frio e muito inteligente que pode atuar em mais de uma posição, Didi, ala muito atlético que recentemente jogou o Nike Hoop Submitt e deixou boas impressões para os olheiros americanos, e Alexey, o ótimo jovem armador em constante evolução.
O "matchup"
Um "matchup" interessante se desenha entre Jimmy, melhor defensor da última temporada, e Marquinhos, atual MVP do campeonato.
Se o Flamengo tem Marquinhos, Franca tem David Jackson. O craque é o melhor americano "Team Player" da Liga. Os estrangeiros vêm ao Brasil com a função de decidir os jogos e muitas vezes extrapolam o direito de ficar com a redonda. Jackson partilha bem a laranja sem deixar de ser decisivo.
O bicho vai pegar nessa série, seria leviano apontar algum favorito.
Algum comentarista diria que é Franca, pois tem o mando de quadra nessa melhor de 5. Já o crítico apostaria no Flamengo, que ganhou o título do Super 8.
Poucos times venceram uma partida sequer contra essas duas equipes. Certamente hoje todos as outras 12 equipes vão ter soluções para todos os problemas de Franca e Flamengo. Vamos analisar os números, opinar que jogador tem que jogar, quem tem que passar a bola para quem. Vamos falar que o juiz errou e dizer como estava fácil de meter aquela bola. Só que do sofá de casa.
O basquete não é ciência exata, a única certeza é que o futuro campeão do NBB 11 joga um basquetebol de altíssimo nível.
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