Topo

Fórmula 1

Interlagos ganha poda e coleta de entulho pré-F1; Prefeitura nega maquiagem

Gustavo Franceschini

Em São Paulo

21/11/2011 06h00

A região do autódromo de Interlagos está diferente do normal. Os moradores do bairro da zona sul de São Paulo notam muitos caminhões, um aumento do fluxo de carros e muitos funcionários da Prefeitura. Às vésperas do GP Brasil de Fórmula 1, o entulho foi recolhido, as árvores e praças da região foram podadas e as ruas estão mais limpas, em uma espécie de maquiagem para os estrangeiros que assistirão à corrida.

COMPARE A SITUAÇÃO ATUAL COM UMA IMAGEM ANTIGA DA RUA ADIB CASSEB

  •  

A reportagem do UOL Esporte esteve nas cercanias do autódromo na última quinta-feira e verificou os trabalhos. Um caminhão-pipa se ocupava de limpar os paredões da ponte Jurubatuba, que dá acesso à avenida Interlagos. Uma outra equipe, por sua vez, fazia a poda do canteiro central em frente a um dos portões do autódromo.

Moradores e pessoas que trabalham na região são unânimes em afirmar que a prática é comum antes do GP de Fórmula 1. Em uma volta de carro pela região, ainda é possível conferir mais caminhões da Prefeitura trabalhando na limpeza de pontos de entulho. As sinalizações de guias e ruas, todas muito novas, também evidenciam o fato de terem sido refeitas recentemente.

“Ih, moço. Isso é sempre assim. Eu moro aqui há 20 anos e eles sempre fazem isso antes da corrida. Mas é só nessa época. Passou a corrida volta tudo ao normal”, diz uma moradora que não quis se identificar.

A Prefeitura não nega a operação. Consultada pela reportagem, a subprefeitura de Capela do Socorro, que atende à região, admite que leva em conta o planejamento do autódromo na hora de programar suas operações de limpeza e nega a “maquiagem”.

Segundo o departamento de comunicação do órgão, ações que seriam espalhadas em dois meses são concentradas para atender a demanda da Fórmula 1. Além disso, pequenas ruas que seriam atendidas apenas sob demanda dos moradores também entram no planejamento da Prefeitura, o que faz com que toda a região mude de aparência.

Uma das mudanças mais notáveis é a da Rua Adib Casseb, colada no muro de um dos lados do autódromo. O espaço estreito normalmente é usado como depósito de entulho dos moradores da região, atrapalhando até a circulação dos carros. No dia em que a reportagem esteve no local, os muros estavam limpos e sem lixo algum na calçada.

Uma busca na ferramenta Google Maps corrobora o que dizem os moradores. A imagem do site visivelmente é mais antiga, mas retrata o cenário de acúmulo de lixo e sujeira no meio da rua que a reportagem não encontrou na semana passada. 

A diferença no cenário foi a mesma na alça de saída da ponte Vitorino Goulart que chega à praça Automóvel Clube Paulista. Os terrenos, normalmente lotados de entulho, estavam limpos e com a grama aparada. A subprefeitura explica que os dois pontos compõem uma lista de 70 locais de sua jurisdição que são considerados viciados, já que enchem de lixo poucos dias depois da limpeza.

A subprefeitura argumenta que cada um deles deveria receber de duas a três coletas por ano. Uma delas acontece próxima ao GP Brasil justamente para coincidir com as outras operações para a corrida. Os moradores da área discordam.

“Aqui está sempre muito sujo. Eles só passam a coleta agora por causa da Fórmula 1. Tem dia que você mal consegue passar pela rua por que o lixo transborda”, disse José Matias, taxista que trabalha na região e acompanhou a reportagem na rua Adib Casseb.

A solução definitiva, segundo a subprefeitura de Capela do Socorro, passa pela aprovação do novo contrato que a Prefeitura pretende implantar para a coleta da cidade. A ideia é reunir os hoje mais de 50 serviços em dois consórcios que custariam cerca de R$ 2 bilhões e seriam mais fáceis de fiscalizar.

No sistema atual, no entanto, outros bairros sob a batuta da mesma subprefeitura apresentam defasagem em relação a Interlagos pré-Fórmula 1. O bairro de Cidade Dutra, a 4 km do autódromo, por exemplo, sofre com canteiros com grama mal aparada, sinalizações de pista mal feitas ou apagadas e pontos de acúmulo de lixos nas ruas.

Na Rua Santo Antônio do Cântaro, por exemplo, o muro de um terreno que fica em frente a uma escola pública municipal acumula sujeira e lixo. Questionada sobre a disparidade, a subprefeitura divide a culpa e diz que os moradores da região não colaboram com a limpeza, depositando os detritos em lugares inadequados. 

Fórmula 1