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Política racha ambiente no Paraná Clube em meio a campanha ruim na Série A

Presidente Leonardo Oliveira (na foto) vive um racha com o empresário Carlos Werner - Site Oficial Paraná Clube/Divulgação
Presidente Leonardo Oliveira (na foto) vive um racha com o empresário Carlos Werner Imagem: Site Oficial Paraná Clube/Divulgação

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

17/05/2018 04h00

Em ano eleitoral, com pleito marcado para setembro, o Paraná Clube vive um racha no grupo que assumiu o poder em 2015, após a renúncia do então presidente Rubens Bohlen. Os “Paranistas do Bem” tinham como homens-chave o atual presidente, Leonardo Oliveira, e o empresário Carlos Werner, que até o começo do ano foi o mantenedor das categorias de base. Foi a partir do setor, aliás, que o racha começou.

Depois de 10 anos, o Paraná Clube retornou à Série A com grande expectativa e com o desafio de se manter na elite. Se o clube já sabia que teria o menor orçamento entre os 20 participantes, talvez não imaginasse a briga política que iria enfrentar internamente. Werner, uma espécie de “mecenas” do clube, agora cobra R$ 16 milhões do clube na Justiça. Para receber, em 15 de março deste ano, protocolou por meio de seus advogados um pedido para que sua dívida não seja incluída no “Ato Trabalhista”, assinado poucos dias depois.

O “Ato Trabalhista” consiste em uma intervenção judicial sobre as contas do clube, que passa a ser administrado sob os olhos da Justiça, que libera o clube de qualquer tipo de penhora, organiza a fila de credores e, mediante acordo de fluxo de caixa, vai fazendo os pagamentos - no caso do Paraná, a arrecadação é subdividida em 80% para o fluxo de caixa e 20% para os pagamentos.

A assinatura do ato foi celebrada pela diretoria paranista, pois liberou, por exemplo, o uso da verba da TV para a manutenção da equipe. A Justiça determinou que Leonardo Oliveira fosse indicado também como o interventor judicial. Werner, que apresentou à Justiça os comprovantes das dívidas, é um credor cível, portanto fora do ato, o que o coloca em condição de não estar entre as prioridades de pagamento.

Uma requisição é pelo terreno do CT de Quatro Barras, o “Ninho da Gralha”, onde Werner mantinha sua operação. “Quando dos mútuos feitos pelo Carlos ao Paraná, os Conselhos do clube autorizaram transferir o imóvel ao Carlos por conta dos créditos. O que o processo faz é apenas instrumentalizar essa situação”, disse Marcelo Ribeiro, um dos advogados do escritório que representam Werner. A Justiça recusou a petição por considerar os argumentos inconsistentes.

Leonardo Oliveira tem 37 anos e era corretor de seguros de saúde antes de se envolver na política do Paraná. Frequentava a sede social e conheceu Carlos Werner nos jogos de futsal das categorias infantis, pelas quais os filhos de ambos atuavam. Nenhum tinha vida ativa entre os “cardeais” do Paraná, até então oriundos de Pinheiros ou Colorados, os clubes que se fundiram em 1989 para dar origem ao Tricolor.

Werner e Oliveira se tornaram amigos. Quando surgiu a ideia de que a “Paranistas do Bem” pudesse assumir o clube, Werner viu em Oliveira o homem certo para a gestão. 

Política ferve nos bastidores e causa rompimento entre os aliados

Em 23 de setembro de 2015, o jornal paranaense “Gazeta do Povo” publicou uma foto de um abraço forte entre Oliveira e Werner, que acabavam de vencer a eleição para o clube. A manchete do jornal apontava que a vitória legitimava o poder do grupo Paranistas de Bem, acusados por Bohlen de darem um golpe para assumir o poder. Werner assumiu a superintendência das categorias de base do clube, mas figurou na apresentação do técnico Fernando Diniz, hoje no Atlético-PR, em julho daquele ano.

Diniz era visto como alguém que estava no gosto de Oliveira, mas, uma semana após a posse, foi demitido por Werner. Em entrevista coletiva, disse se sentir traído. Era a demonstração das forças no clube. O ano acabou, veio 2016 e Werner aos poucos foi saindo de cena. Ele indicou a contratação do atual gerente de futebol Rodrigo Pastana, em novembro de 2016. Pastana substituiu o ex-volante Hélcio Alisk, que recebe apoio informal de Werner na HSoccer, uma agência de representações de jogadores.

O Paraná encerrou a Série B em 2016 no 15º lugar e iniciou uma revolução em sua gestão de futebol. Aos poucos, as ideias de Pastana e Werner não batiam. Apesar de indicado pelo dirigente, Pastana atritava com o investidor – à essa altura, já fora da mídia – e Leonardo Oliveira colocava panos quentes. O time encaixou em 2017 e arrancou pelo acesso para a Série A.

O investidor, que administrou o Ninho da Gralha até o final de 2017, queria que o clube colocasse em campo uma equipe só com jogadores Sub-17 no Paranaense. Pastana rejeitou a ideia, as coisas esquentaram e Leonardo Oliveira comprou a briga do gerente de futebol. Werner pegou os recibos dos aportes que tinha e rompeu com Leonardo. Os investimentos no futebol cessaram e o Paraná se viu apertado para pagar os salários até a reta final da Série B.

No meio do ano, Werner voltou à cena: alugou a Arena da Baixada e investiu na compra de ingressos para que o recorde do estádio atleticano fosse batido. Contratou uma agência de marketing e promoveu a partida, que acabou com vitória paranista por 1 a 0 sobre o Inter, com anúncio de 39.414 ingressos vendidos. O custo da operação para a compra do jogo foi de cerca de R$ 400 mil, sendo que metade foi abatida de uma dívida do Paraná com o empresário. O contrato de Werner de aluguel da Arena não passou pelo Paraná e não consta no balanço 2017 do Atlético. O time confirmou o acesso, Werner deu entrevistas e aos poucos foi minando sua relação com Oliveira. A gota d’agua veio na virada do ano.

O acordo funcionou até o racha definitivo entre ambos, em março deste ano. Em reunião recente organizada pelos remanescentes dos “Paranistas do Bem”, Oliveira e Werner discutiram pesadamente na frente de outros membros. A razão foi o pedido de Werner para sua dívida não ser incluída no “Ato Trabalhista". 

Werner negou que tenha feito o pedido e enviou uma carta a todos os conselheiros em que dizia: “Fui um dos maiores incentivadores do Ato Trabalhista. Então, não iria contrariar um ato do qual participei diretamente da sua origem, juntos aos demais conselheiros. E não sou contra, não só por coerência, mas por viver intensivamente os problemas que impediam (e continuam impedindo) a regular vida do Paraná Clube.(...)” A versão de Werner foi corroborada pelo advogado Marcelo Ribeiro, que afirmou ainda que seu escritório tem mais de 10 credores do Paraná na esfera cível. Porém, no processo que corre na 5ª Vara Cível do Foro Central de Curitiba, é possível verificar que Carlos Werner é o requerente da ação (veja o documento aqui).

Desde a assinatura do “Ato”, em 28 de março deste ano, Leonardo Oliveira acumula a presidência do clube e a função de interventor judicial. A decisão foi da Justiça do Trabalho, que também arbitrou uma remuneração mensal de R$ 25 mil para Oliveira administrar as contas do clube. Até mesmo as contratações precisam passar pelo crivo da Justiça, se estiverem fora do orçamento combinado. Em caso de nova falha administrativa quanto às finanças, Leonardo Oliveira responde às eventuais dívidas com seu patrimônio pessoal.

Oliveira revela ataques de Werner, que negou história

O UOL Esporte procurou o presidente Leonardo Oliveira e o empresário Carlos Werner. Oliveira confirmou os fatos e a reunião recente, que envolveu ainda dirigentes de outras épocas, como o ex-presidente Aquilino Romani, e os ex-diretores Vavá Ribeiro, João Kitéria e Waldomiro Gayer Neto, entre outros.

“Fomos passar a limpo, lavar a roupa suja. O Carlos me atacou e a situação política ficou ruim completamente. Ele diz que foi o (advogado Augusto) Mafuz, que não tem a assinatura dele e que não sabia. Ele assume o compromisso de tirar essa ação. Me disse: ‘só quero receber, não quero saber disso’. E não fez nada", afirmou Oliveira.

Procurado, Werner disse que a situação com Oliveira é “normal” e pediu para não dar entrevistas sobre os demais temas. “Eu prometi a todos os meus que não falaria com imprensa. Preciso deixar o futebol, não irei compor chapa, não vou concorrer à presidência".