Topo

Dorival "cede à própria vontade" e escala São Paulo mais veloz e eficiente

Bruno Grossi

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/03/2018 04h00

Sim, você não leu errado. Dorival Júnior "cedeu à própria vontade" e finalmente se soltou para fazer o que queria para o São Paulo. O técnico conversou com a diretoria de futebol com mais frequência nos últimos dias, ouviu cobranças sobre o desempenho do time e ponderou o que gostaria de fazer. As mudanças foram feitas de forma gradativa, do jogo de domingo contra a Ferroviária para o duelo da última quarta-feira, contra o CRB, quando o Tricolor ganhou, enfim, mais a cara de seu treinador.

Nas últimas semanas o torcedor são-paulino viu o time derrapar com Nenê, Diego Souza e Trellez várias vezes dividindo espaço em campo. A situação chegou ao limite na semana passada, quando o São Paulo perdeu por 2 a 1 do Ituano e enfrentou a ira da torcida na volta para casa. Na ocasião, o UOL Esporte revelou que a escalação com os "indesejados" Nenê e Trellez e poucos novatos em campo era uma espécie de estratégia de Dorival Júnior. 

Embora preferisse um time mais móvel e jovem, o treinador entendia que precisa mostrar, na prática, que os jogadores escolhidos pela diretoria não se encaixariam no perfil do time, o deixando mais lento e engessado. Outra razão para usá-los era para evitar que os mais novos fossem queimados pela pressão que afeta o Tricolor. Mas p visível desempenho ruim e uma conversa mais dura com a diretoria abriram caminho para que Dorival, aos poucos, colocasse em campo a formação que sempre quis. 

O que se viu no jogo de ida da terceira fase da Copa do Brasil foi uma equipe mais veloz, sem guardar posição no "terço final" do campo e aplicando algumas das jogadas trabalhadas nos treinos. Tudo isso com descanso para o "valente" Diego Souza, que jogou mais do que treinou em 2018, e para Nenê e Tréllez, dois reforços que não estavam nos planos iniciais de Dorival e que devem agora precisar de paciência para recuperar espaço.

"Dá para a gente encontrar qualquer situação, desde que tenha tempo para treinar. Jamais vou dizer que não dá para ter Diego, Cueva e Nenê ou qualquer outra formação. Mas é preciso de tempo para treinar e mudar o que começamos treinando. Dá para fazer, mas tem um processo a ser respeitado. Não dá para colocá-los em campo e falar 'se vira'", explica o treinador, provando que a própria tentativa inicial de usá-los juntos sem muitos treinos não era a ideal.

Essa "revolução" foi estruturada pelo diálogo com dirigentes, que deram carta branca para as escolhas do técnico. Valdivia, indicação de Dorival, se estabeleceu como um dos pontas do time. Brenner ganhou chance como centroavante. E os dois acabaram sendo decisivos para construir o 2 a 0 sobre o CRB. Fôlego para o comandante!

Um novo falso 9

A ideia de jogar sem um centroavante fixo, como era Lucas Pratto, já passava pela cabeça de Dorival desde o fim do ano passado. A comissão acreditava que Brenner poderia até ser titular se um ponta de peso, decisivo, fosse contratado. O garoto começou 2018 com moral, fez toda a pré-temporada como referência do time principal, mas só havia jogado um tempo contra o Novorizontino e alguns minutos contra o Madureira na função.

Contra o CRB, recebeu nova chance e deu ao time alternativas que Diego Souza, acionado só no segundo tempo, não estava conseguindo entregar - seja por características próprias ou pelo desgaste físico. Brenner não parou um segundo, deixou os zagueiros confusos, explorou as costas dos laterais - assim deu assistência para Valdivia marcar - e só não fez mais porque o passe dos meias anda descalibrado até para tabelas curtas.

Meio-campistas na área

Essa movimentação de Brenner permitiu ao São Paulo contar com elementos surpresa na área do CRB. Foi assim que Hudson sofreu o pênalti perdido por Christian Cueva. Foi assim que o peruano teve chance clara no segundo tempo e que Valdivia apareceu para marcar o primeiro gol e desperdiçar mais duas oportunidades.

Esses lances de infiltração são exigidos quase que diariamente nos treinos de Dorival, que não conseguia aplicar nos jogos pela lentidão que andava impregnada na equipe. O técnico quis dar tempo aos reforços, mesmo que isso afetasse suas próprias convicções. Agora, promete pensar em alternativas para que, eventualmente, até Diego, Cueva e Nenê voltem a atuar juntos.

Cartilha do treino

A presença de Brenner também influenciou em outro trunfo que vem do CT da Barra Funda. Tabelas e ultrapassagens pelas laterais. Entram aí os dois gols. O primeiro com o centroavante disparando após passe de Militão e cruzando rasteiro, coma a defesa desprevenida. O segundo com Militão acionando Cueva, mas não se omitindo e aparecendo para receber de volta e finalizar. Jogadas simples, eficientes e cansam de ser treinadas no dia a dia. Além dos lances de gol, o CRB sofreu com pelo menos mais seis ocasiões semelhantes, baseadas na velocidade e na chegada à linha de fundo.

Time "à moda Dorival" seguirá

Dorival Júnior não escondeu a satisfação com a melhora do time após ceder às próprias convicções. A ideia, dependendo dos exames fisiológicos, é manter a base que venceu o CRB para enfrentar o Linense no domingo, às 19h30, e até o Palmeiras na rodada seguinte. "Não é que seja o ideal, mas foi a formação que mais trabalhamos, com dois pontas, meias de chegada, flutuação do homem centralizado. E é natural que a equipe se dê muito bem com isso", disse o técnico, aliviado e ciente da contradição criada por ele e pela pressão que o cerca neste início de ano.

Isso não significa que os veteranos serão esquecidos. Dorival, inclusive, fez questão de colocar Diego Souza como peça essencial para o desenvolvimento dos garotos: "Temos que reconhecer e ver o quanto foi importante o respaldo que ele deu aos jovens. Para ter Brenner, Boia, Bissoli, Caique, Pedro, Paulinho, você precisa ter os que dão mais sustentação para a molecada poder produzir. É importante a mescla e buscaremos esse equilíbrio".