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Libertadores vira arma do Atlético-MG para estancar rotina de prejuízos financeiros

Clube acumulou déficit de R$ 149 milhões nos últimos 5 anos, um dos maiores  - Bruno Cantini/Site do Atlético-MG
Clube acumulou déficit de R$ 149 milhões nos últimos 5 anos, um dos maiores Imagem: Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

16/07/2013 11h00

O confronto contra o Olímpia nesta quarta-feira representa muito para o Atlético-MG. Em campo, o time alvinegro iniciará pela primeira vez na história uma disputa de título da Copa Libertadores. Fora, a diretoria fará a maior aposta para estancar uma série histórica de prejuízos do clube, que acumulou um déficit de R$ 149 milhões nos últimos cinco anos.

Entre os maiores clubes brasileiros, o Atlético-MG registrou o terceiro pior resultado de 2012: foram R$ 33 milhões no vermelho, números que bateram apenas os de Botafogo (R$ 49 milhões) e Flamengo (R$ 60 milhões).

Um ano antes, a equipe mineira havia registrado um prejuízo ainda maior. Com R$ 36 milhões de perdas, o time só não foi pior do que o Botafogo (R$ 43 milhões).

A série de prejuízos operacionais no Atlético-MG ignorou até mesmo o crescimento de receita. Entre 2011 e 2012, o faturamento da equipe saltou de R$ 99,8 milhões para R$ 162,9 milhões. Ainda assim, o déficit ficou acima dos R$ 30 milhões.

Um dos motivos para isso é que os custos operacionais subiram na mesma proporção. O gasto do Atlético-MG com o futebol, que havia sido de R$ 91,3 milhões em 2011, atingiu R$ 125,8 milhões na temporada seguinte.

O gasto com futebol consumiu 84,5% do que o Atlético-MG faturou em 2012. Um ano antes, as maiores equipes do Brasil haviam investido no esporte uma média de 69% de suas receitas.

“O Atlético-MG aumentou o faturamento como nunca, mas também aumentou o custo do futebol como nunca”, ponderou Amir Somoggi, consultor independente que estuda há anos as finanças dos principais clubes do futebol brasileiro.

Segundo Somoggi, desde 2004, quando ele iniciou o levantamento, o prejuízo anual do Atlético-MG sempre esteve próximo dos R$ 30 milhões. “Não houve uma evolução no modelo de negócios”, apontou o consultor.

Investimento no CT - O que mudou no Atlético-MG durante esses anos foi o perfil do clube. Um exemplo é a enorme lista de intervenções na Cidade do Galo, o moderno centro de treinamentos usado pela equipe. Desde 2005, o espaço abriga também as atividades das categorias de base.

“Alguns jogadores que surgiram são frutos desse investimento. Outra coisa é que eles montaram um time certo, com um técnico que está lá há bastante tempo e que conta com boa estrutura”, completou Somoggi.

O balanço patrimonial do Atlético-MG aponta R$ 223,1 milhões em tributos e contribuições sociais a pagar. Além disso, o clube possui R$ 167 milhões em empréstimos e financiamentos (R$ 49,3 milhões de curto prazo e R$ 118,5 milhões de longo prazo).

“Os times de futebol no Brasil não têm fins lucrativos. Então, o que acontece é que a busca pela competitividade gera esse tipo de coisa. Não dá para se comparar com uma empresa, que precisa entregar resultado ano a ano. Um clube de futebol precisa entregar resultados dentro de campo”, analisou Thiago Biscuola, economista que trabalha na empresa RC Consultores.

A dívida grande e o prejuízo recorrente nos últimos anos aumentam a relevância que a decisão da Libertadores tem para o caixa do Atlético-MG. Nem tanto pela premiação do torneio continental, que historicamente não está entre as mais altas, mas pelo que a competição pode gerar.

Em 2012, por exemplo, o Corinthians recebeu R$ 10 milhões da Conmebol por ter sido campeão da Libertadores. O valor é 50% menor do que a equipe alvinegra amealhou neste ano por ter obtido a taça do Campeonato Paulista.

“O título tem de ser o ponto de partida para um trabalho muito maior. Ele pode alavancar várias receitas”, projetou Fabio Kadow, jornalista e publicitário com especialização em comunicação digital e marketing esportivo.

A conta exata do impacto que a Libertadores pode ter nas finanças do Atlético-MG, contudo, ainda não é clara. O presidente do clube, Alexandre Kalil, vetou qualquer prognóstico antes do término da decisão contra o Olímpia.

“Com jogadores como o Ronaldinho e o Bernard e com o time indo bem, o Atlético-MG já devia estar desenvolvendo um plano de marca para aumentar a receita. O clube tem uma oportunidade única para se fortalecer”, opinou Somoggi.