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CR7 e o time de um homem só: vitória mostra Ronaldo maestro de Portugal

Cristiano Ronaldo faz sinal pedindo VAR durante Portugal x Marrocos  - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images
Cristiano Ronaldo faz sinal pedindo VAR durante Portugal x Marrocos Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

Luiza Oliveira

Do UOL, em Moscou (Rússia)

20/06/2018 11h10

Cristiano Ronaldo mantém o semblante concentrado no túnel que dá acesso ao campo. Cerra os lábios e coça o cavanhaque algumas vezes. Se o novo visual estava incomodando, ele se esqueceu disso assim que pisou o gramado. Antes de entrar, a leitura labial indicava ‘vamos lá’. Parecia um recado para ele mesmo. Vamos lá fazer história mais uma vez.

E ele não quer saber de perder tempo. O locutor anuncia o início da partida contra o Marrocos, nesta quarta-feira no estádio Luzhniki, em Moscou, com um ‘Are you ready?’ para a torcida. Ele sai dando pulos para aquecer em direção ao círculo central como se respondesse ‘sim, estou’. Logo nas primeiras bolas, pressiona o tiro de meta. Aos 4 minutos, executa mais uma vez suas missões no mundo: fazer gols e quebrar recordes.

Mergulhou de cabeça depois de um bom cruzamento do colega Cédric. A tradicional comemoração com um belo salto no ar e a parada em pose com os braços abertos parecia ganhar um ‘upgrade’ com um giro com os dedos. 1 a 0 para Portugal.

Não era um gol qualquer. Era o quarto do artilheiro do Mundial em apenas 94 minutos de jogo. Ali, ele superava sua marca de todas as Copas anteriores e chegava aos 85 tentos pela seleção portuguesa. O agora maior artilheiro europeu em jogos internacionais superou Ferenc Puskás, com 84 gols em 89 jogos pelas seleções da Hungria e da Espanha nos anos 50 e 60.

Com tantos recordes, se deu ao direito de uma pequena pausa para água. Mas já saiu correndo para orientar o time. Levou os dois dedos indicadores à cabeça em um claro sinal: ‘ok, estamos ganhando. Precisamos usar a cabeça agora’.

Mas o time não obedeceu seu líder. O tempo foi passando e CR7 não gostava do que via. O Marrocos exercia uma pressão adiantada e criava muito mais, só não empatou o jogo porque errava as finalizações. Incomodado, ele se posicionou sozinho no meio do campo próximo ao círculo central e, como um mastro, ergueu os braços de frente para a sua orquestra e fez o gesto de ‘vem’ para o time avançar. O gesto se repetiu algumas vezes, todas em vão. 

É fácil perceber que Cristiano não é só a referência técnica na equipe que joga por ele e para ele. É o cérebro. Quando não tem a bola, passa quase todo o tempo gesticulando, indicando, apontando. No escanteio rival, vira defensor e aproveita a corrida até a área para passar a mão na cabeça do zagueiro.

Ora fala com o camisa 10 João Mário ao seu lado, ora com o técnico Fernando Santos. No intervalo, o árbitro nem finaliza o sopro do apito. CR7 rapidamente se junta ao técnico e os dois descem ao vestiário na resenha. O jogador fala mais que o treinador.

CR7 não teve vida fácil na etapa final. Mas a bola seguia atrás dele. No segundo tempo, Gonçalo Guedes foi chutar e errou o passe. Mesmo sem querer, a bola acabou encontrando o português, que isolou a finalização. E não importa: se chegou nele, vai para o gol.

O exigente atacante também teve sua paciência testada. Aguentou a torcida pegando no seu pé. Ao errar uma bola ou cair em uma falta dura, uma parte da arquibancada gritava: “Messi, Messi”. Era uma clara provocação que se repetiu em alguns momentos do jogo.

O time também não ajudava. Ficou recuado em boa parte do segundo tempo e via os rivais com quase o dobro de finalizações. CR7 não estava gostando nada daquilo. Parecia irritado com os companheiros e chegou a dar um bico para a arquibancada.

É verdade que ele ficou meio apagado depois gols, mas seguia tentando animar os ânimos e mudar um pouco o panorama perigoso nos minutos finais. Pedalou na entrada da área e até resolveu dar uma de malandro. Caiu de maduro na área e cavou a falta. Fez um teatro pedindo que o árbitro usasse o VAR, mas ele nem deu bola.

No fim, estava conformado. Pediu o fim do jogo, cumprimentou quase todo mundo em campo enquanto dava aquela espiadinha no telão para rever seu gol. Não foi brilhante, mas a missão estava mais que cumprida.

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