Brasileiro que jogou pela Croácia diz que "só Modric jogaria pelo Brasil"
Se existe algum brasileiro que não se surpreende com a Croácia jogando a final da Copa do Mundo, ele tem nome e sobrenome: Jorge Sammir Cruz Campos, ou simplesmente Sammir.
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Nascido na cidade baiana de Itabuna, o meia de 31 anos é mais um exemplo de jogador que deixa o Brasil cedo e se acha no exterior – naturalizado croata, ele fez parte do elenco que disputou o Mundial de 2014 justamente em seu país natal.
Seja na seleção ou no Dínamo Zagreb, clube no qual atuou por sete anos, Sammir jogou com a maioria dos croatas que estão fazendo história na Rússia. Em entrevista ao UOL, sobram elogios ao “palhaço e brincalhão” Vida, ao “moderno” Perisic e ao “focado” Modric, a quem sucedeu com a camisa do Dínamo de Zagreb.
O meia, atualmente sem clube, afirma categoricamente que não há motivos para se surpreender com a ida da Croácia para a final, a qual vai assistir a final bem perto dos seus ex-companheiros de clube. “O pessoal está muito feliz. Este povo merece”, diz ele, que considera a França “60% favorita”. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.
Comparação com o Brasil
Pouco antes do Mundial, a finalista Croácia perdeu por 2 a 0 um amistoso contra o Brasil, que caiu nas quartas de final. E se a bola rolasse agora? “Não sei. Jogo é jogo. O Brasil foi melhor que a Bélgica e perdeu. Num jogo tudo pode acontecer, então falar que o Brasil ganharia da Croácia de novo é muito difícil”, analisa Sammir.
Apesar de ter chegado à final do Mundial, a Croácia não teria muito a oferecer para a seleção brasileira. Tanto que, quando questionado quais jogadores croatas teriam espaço no time de Tite, Sammir é curto: “O Modric. Acho que só ele. A seleção brasileira é boa também. O Perisic talvez... São jogadores modernos”.
Ele também apontou semelhanças entre o estilo de jogo das duas seleções. “Gostam de ter a posse, e não gostam de correr muito atrás da bola. Os dois com a bola no chão, futebol técnico”.
Sammir deixou Itabuna aos 12 anos de idade para atuar nas categorias de base do Atlético-MG. Aos 15, transferiu-se para o Atlético-PR e em seguida foi emprestado para Ferroviária, Paulista de Jundiaí e São Caetano. A ida para o país europeu ocorreu aos 19.
“Joguei um torneio pela seleção de base no Japão e a Croácia também participou. Joguei bem para caramba, e os croatas me procuraram. Como meu contrato com o Atlético-PR iria acabar, aceitei ir para o Dínamo de Zagreb”, conta.
Mesmo jovem, Sammir não demorou para se firmar no time croata. Em sete anos, conquistou o campeonato nacional sete vezes consecutivas. O convite para defender a seleção não demorou a chegar, e ele conseguiu o passaporte em 2012. A estreia foi em outubro do mesmo ano, em amistoso contra a Macedônia.
Sammir também fez parte do grupo que representou a Croácia no Brasil em 2014. Ele atuou apenas na goleada por 4 a 0 contra Camarões, na segunda rodada, vendo do banco a equipe perder para Brasil e México e deixar a competição logo na primeira fase.
Depois da Copa de 2014, Sammir não foi mais convocado. Ele explica o motivo. “Fui para a China e eles mesmo me falaram que lá seria ruim de acompanhar. Mas eu disse que não tinha problema e fui”.
Desde que deixou o Dinamo Zagreb em 2014, o meia rodou por Getafe, da Espanha, e três times chineses – Jiangsu Suning, Hangzhou Greentown e Wuhan Zall. Agora está sem clube. “Tive algumas propostas do Brasil, mas achei que não era o momento de voltar”.
Na torcida pelos amigos
Com a perda de espaço, Sammir nem chegou a atuar sob o comando do técnico Zlatko Dalic, que levou os croatas à façanha de chegar à final. “Só joguei contra ele aqui no campeonato. Os jogadores me falaram que ele é humilde, gosta de conversar. Com certeza gostaria de ter trabalhado com ele”, afirma.
Desta forma, restou ao brasileiro torcer pelos ex-companheiros à distância, com carinho especial pelo terceiro goleiro Livakovic, o lateral Vrsaljko e os zagueiros Lovren e Vida – este último que causou polêmica na Rússia ao mandar uma mensagem para a Ucrânia. “O Vida no dia a dia é brincalhão. É o palhaço do time, faz a alegria da galera. De mais amigos são esses quatro aí”, diz Sammir.
Questionado sobre Modric, considerado o craque do time, o meia relembrou quando conheceu o hoje destaque do Real Madrid ainda nos tempos de Dinamo Zagreb, onde ele iniciou a carreira. “Jogamos juntos uma temporada e meia. Quando eu cheguei, o próprio Modric deu uma entrevista falando que eu seria o sucessor dele. Sempre gostou de mim. Nos dávamos bem dentro e fora de campo”, conta, antes de elogiar o ex-colega.
“Ele tem uma força mental muito grande. A concentração dele é 90, 120 minutos, foco total. Ele não erra muito também, sempre teve um bom passe. Eu não vejo ninguém jogando mais que ele nesta Copa a não ser o Mbappe, mas é outra posição. Na posição dele o Modric é o melhor”.
Sammir ainda enalteceu a força do elenco croata e disse que houve uma “química” entre os jogadores. "Para mim não é surpresa que chegaram na final. Só olhar os jogadores e os clubes pelos quais jogam. Não é surpresa nenhuma”.
Clima para a final
Sammir disse que pensou em não ir ver a final do Mundial, mas decidiu ir a Rússia. Ele ressaltou que o clima na Croácia é de alegria total. “Todo mundo está feliz. Eram 50 mil pessoas na praça central (na semifinal contra a Inglaterra), fechada para os carros. Todos se abraçando. É um povo que estava precisando. Mostra para o mundo um país pequeno, que recentemente estava em guerra. Também acho que a campanha vai trazer mais investimento no futebol”.
E o que esperar da final contra a França? “Eles têm mais experiência, mais história. Coloco uns 60% de favoritismo para a França. Mas espero que dê 2 a 1 para a Croácia”, diz Sammir, mais um torcedor croata na multidão. “Eu estou muito feliz. Meu coração é vermelho e branco”.
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