Conheça Rafael Filinov, apontado por Kia como real investidor da MSI/Corinthians

Simpático, porém recluso. É assim que Rafael Filinov, 45 anos, mostrou-se à reportagem do UOL Esporte. Não é para menos, já que o empresário, um dos muitos oligarcas russos que enriqueceram de maneira desconhecida nos anos 1990 após o fim da União Soviética, está sendo apontado no Brasil como o real investidor da parceria MSI/Corinthians, investigada por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. 

Depois de quase uma semana de negociações com assessoras e assistentes para uma entrevista, o próprio empresário explicou que não falará à imprensa. “Estou enfrentando um processo judicial, você entende. Meus advogados não me autorizaram a falar nada agora”, disse pelo telefone à reportagem.

O processo que investiga a parceria está na 6ª Vara Federal de São Paulo e tem oito réus, entre eles Kia Joorabchian, Boris Berezovsky e Alberto Dualib. Após cinco anos de investigação, Rafael Filinov foi apontado pelos antigos operadores da empresa estrangeira como o real investidor da MSI. A acusação, no entanto, avalia a argumentação com cautela e não descarta que o russo seja apenas um “laranja” (leia sobre o caso no box acima).

Telecom, arte e minérios

Como no Brasil, Rafael Filinov é pouco conhecido também na Rússia, exceto por suas ligações com Boris Berezovski – e consequentes mandados de busca e nomeações para as diretorias de negócios variados.

Nascido em 18 de junho de 1967, Filinov cresceu na cidade de Uliánovsk, 900 km a leste da capital, e lá se formou em 1988 na Escola Superior Militar (UVVKUS, na sigla em russo). Menos de dez anos depois, em 1996, aos 29 anos, era o cofundador de um dos primeiros grandes provedores de internet da Rússia, o Cityline, que foi incorporado em 2001 pela Golden Telecom por US$ 29 milhões, segundo publicou na época o jornal econômico russo "Vedomosti".

Entre seus sócios na Telecom estavam Emelian Zákharov, Egor Shuppe e Demien Kudriavtsev. Já ali, em meados dos anos 1990, a companhia oferecia internet ilimitada a um terço do preço médio no mercado russo. Isso porque, segundo o "Vedomosti", quem estava por trás do projeto era Boris Berezovski, que já possuía ativos de corporações de mídia, além de negócios com petróleo (em 1996 foi nomeado presidente do conselho de diretores da Sibneft, maior petrolífera russa, hoje conhecida como Gazprom), além de ter ocupado no período cargos públicos, entre eles o de deputado. Assim, os jovens fundadores da companhia não temiam perder dinheiro com a empreitada.

Confirmando a informação do "Vedomosti", todos os idealizadores da Cityline têm fortes ligações com o empresário expatriado. Shuppe é marido da segunda filha de Berezovski, Ekaterina. Kudriavtsev era considerado o braço direito do empresário quando teve sua entrada proibida na Rússia em 2001 justamente devido a essa ligação, como noticiou à época o jornal "The Moscow Times".

Desde 2006, ele é diretor-geral da editora Kommersant, que publica o jornal de mesmo nome e foi propriedade de Berezovski de 1999 a 2006, quando este vendeu a companhia a seu parceiro Badri Patarkashvili, morto em 2008.

Já Emelian é sócio de uma galeria de arte contemporânea chamada Triumph, instalada no prédio da antiga loja de automóveis LogoVaz, de propriedade de Berezovski. Ele possui também um fundo de investimentos de mesmo nome, criado pelo empresário, que é dirigido desde 2009 por Rafael Filinov.

Novas tecnologias e arte, porém, não são os únicos interesses de Filinov, como mostram em seu Facebook as fotos de enormes casas com piscina à beira-mar, por vezes em companhia da filha adolescente, Kátia. A esposa, Nadezhda, costuma ser fotografada com ele em eventos da galeria. 

Outro ramo de atuação do multifacetado Filinov é a exploração mineral. Desde 2007, ele é diretor-executivo do depósito de ouro Djeruialtin, no Quirguistão, país da antiga União Soviética ao sul da Rússia. Em 2011, suas conexões com o Quirguistão lhe renderam uma busca do FSB (Federal Security Bureau, órgão que substituiu a antiga KGB na Rússia) na galeria Triumph.

Os documentos que os agentes descreveram ao jornal "Izvétia" mais parecem saídos de um romance policial juvenil. Um deles era um plano para a apropriação de uma fábrica no povoado quirguiz de Ak-Tiuk, onde se concentra o processamento de metais da região, e levou à detenção do colecionador Ivan Nazarov, em cujo escritório foi encontrada a papelada.

O plano supostamente explicaria a inatividade da Golden Silver, companhia que Filinov comprou do governo quirguiz um pacote de ações nos anos 1990, mas a deixou intacta sem nunca utilizá-la. Segundo informou o órgão à imprensa, também teria sido encontrado um contrato em inglês entre Filinov e Platon Elenin, nome que Berezovski carrega no passaporte britânico, transmitindo ao último direitos e benefícios da companhia panamenha Creole Associates Inc.

Alguns dias antes dessa busca, Filinov lia, durante o Prêmio Triumph de Literatura, fundado por Berezovski em 1991, uma lacônica mensagem enviada por este: “Estou feliz em parabenizá-los com esse acontecimento maravilhoso. Felicidade a vocês e fé”.

No Facebook, o empresário mostra que a ligação com Boris vai além dos negócios. Uma das fotos que Filinov disponibiliza em seu perfil pessoal mostra Berezovsky em Israel, orando, com a seguinte legenda: “Última reza de BB antes do julgamento”, sem explicar que julgamento seria esse.

As relações de Rafael Filinov com Berezóvski são certas, apesar de obscuras. Mas sua ligação à MSI permanece um mistério.