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Sem Ferguson, Manchester United terá incertezas dentro e fora de campo

Fernando Duarte

Do UOL, em Londres

09/05/2013 11h00

Se ainda é cedo para cravar o impacto que a aposentadoria do técnico Alex Ferguson terá no Manchester United, especular que o futuro do clube está cercado de incertezas dentro e fora de campo não é um exercício muito radical de imaginação. Além da perda de uma referência para um estafe que não se resume ao plantel de jogadores, a saída do homem que comandou os "Diabos Vermelhos" por 27 anos ocorre num momento que já era de redistribuição de forças no futebol inglês e europeu.

Ferguson deixa o banco do United para assumir um cargo de diretoria numa temporada em que o clube reafirmou seu domínio nas competições domésticas, conquistando o 13º título do Campeonato Inglês em 21 temporadas desde que os times mais importantes do país romperam com o restante das divisões profissionais e formaram um campeonato comercialmente “blindado”.  Mesmo em 2012, quando o rival local Manchester City foi campeão, a decisão ocorreu apenas na última rodada e depois de o United jogar fora uma vantagem na tabela que chegou aos dois dígitos (o City levou no saldo de gols).

Porém, há questões sobre o atual elenco. Para muitos observadores, Ferguson na verdade operou pequenos milagres nos últimos quatro anos. Foi em julho de 2009 que o clube inglês vendeu Cristiano Ronaldo para o Real Madrid por € 90 milhões e não substituiu o português com nenhuma contratação de impacto por decisão do dono do clube, o magnata americano Malcolm Glazer.

“Toda empresa sofre com a partida de grandes líderes, que normalmente resulta em momentos de incerteza. Essa situação não muda apenas porque estamos falando de um clube de futebol”, afirma Andre Spicer, professor de comportamento organizacional na Cass Business School, de Londres.

ALEX FERGUSON DEIXA O COMANDO DO MANCHESTER UNITED

  • Ninguém se engane. A decisão de se aposentar como treinador após o final da temporada inglesa, em 19 de maio, não significa o fim da influência de Alex Ferguson no Manchester United. Na verdade, o anúncio de que, após 27 anos no comando, o escocês se juntará ao Conselho Deliberativo do terceiro clube mais rico do mundo desde já desponta como um problema para um eventual sucessor. Ferguson, de 71 anos e mostrando sinais mais definitivos de cansaço, cedeu as rédeas do United, mas ficará sentado bem perto do próximo cocheiro. LEIA MAIS

O Manchester perdeu o título da temporada de 2009-10 para o Chelsea, mas apenas por um ponto. Foi campeão em 2011, ano em que também fez a final da Liga dos Campeões, perdendo para um Barcelona no auge de seus poderes. Comentaristas ingleses não hesitaram em dizer que o treinador ganhou jogos nas campanhas. Isso tudo depois de o atacante Wayne Rooney, uma das poucas estrelas do clube, anunciar no meio da temporada que deixaria o clube.

Rooney ficou, mas hoje é uma figura periférica num time em que a salvação veio com os gols do holandês Robin Van Persie, que Ferguson fez das tripas coração para “roubar” do Arsenal em agosto de 2012 e que o rival londrino só vendeu porque faltava um ano para o final do contrato. Sem Van Persie, o United sofre na frente, a ponto dos laterais Rafael da Silva e Patrice Evra serem mais eficientes em gols e assistências que os pontas Nani, Valencia e Ashley Young.

Na defesa, Ferguson sofreu com as seguidas lesões do sérvio Nemanja Vidic e a dupla inglesa Phil Jones e Rio Ferdinand – este já com 34 anos e sem a mesma velocidade de antes. É tentador imediatamente assumir que Malcolm Glazer vai autorizar a abertura do cofre durante o próximo período de transferências, só que a realidade financeira do United é diferente do que sugere a terceira posição na lista da consultoria Deloitte de clube mais ricos do mundo.

Ainda que tenha arrecadado € 396 milhões na temporada passada e seja um exemplo em termos de desempenho comercial, o United tem dívidas da ordem de € 400 milhões, resultantes do empréstimo para a compra do clube que Glazer repassou para o negócio – uma transação polêmica e que gerou protestos de torcedores. Justiça seja feita, o montante foi reduzido pela metade nos últimos anos, mas ainda assim obrigou o United a ser mais conservador. 

Enquanto isso, Chelsea e Manchester City, amparados por donos bilionários, acumularam talentos. Se não houve um domínio completo da Inglaterra e do mundo, os dois dividiram as principais taças do ano em 2012, a Liga dos Campeões (Chelsea) e a Premier League (City). Longe de ser um primo pobre, já que conta com um estádio para 75 mil pessoas e uma marca avaliada em quase € 650 milhões, os “Diabos Vermelhos” certamente têm menos espaço de manobra.

‘’Se o Manchester sofrer uma queda de produção nesse período pós-Ferguson, a faca e o queijo estarão nas mãos de Chelsea e Manchester City para dominar a Premier League. Eles contam com muito mais músculo financeiro, mesmo agora que a Uefa está exigindo mais responsabilidade fiscal’’, avalia Rory Miller, acadêmico da Football Research Unit, da Universidade de Liverpool.

VEJA AS CONQUISTAS DE FERGUSON NO MANCHESTER

  • Liga dos Campeões: 1999 e 2008

    Mundial de Clubes: 1999 e 2008

    Recopa Europeia: 1991

    Supercopa da Europa: 1991

    Campeonato Inglês: 1993, 1994, 1996, 1997, 1999, 2000, 2001, 2003, 2007, 2008, 2009, 2011, 2013

    Copa da Inglaterra: 1990, 1994, 1996, 1999, 2004

    Copa da Liga Inglesa: 1992, 2006, 2009, 2010

    Supercopa da Inglaterra: 1990, 1993, 1994, 1996, 1997, 2003, 2007, 2008, 2010, 2011