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MP/RS quer cadastrar torcida e diz que repasse de verba incentiva violência

Brigas internas na torcida do Grêmio não são raras, como na inauguração da Arena, em 2012 - Jefferson Bernardes/AFP
Brigas internas na torcida do Grêmio não são raras, como na inauguração da Arena, em 2012 Imagem: Jefferson Bernardes/AFP

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

12/12/2013 14h40

O repasse de verbas que ultrapassam R$ 1 milhão do Grêmio a torcidas organizadas revelado nesta quinta-feira preocupa o Ministério Público do Rio Grande do Sul. Segundo o procurador José Francisco Seabra Mendes Júnior, da Promotoria do Torcedor, tal situação incentiva a disputa de poder. A ideia do MP é cadastrar os aficionados para ter controle das ações.

"O cadastro é previsto no Estatuto do Torcedor. Há algum tempo quando iniciamos as atividades da Promotoria do Torcedor entramos em contato com os clubes. O Inter nos informou que o cadastro estava desatualizado e no Grêmio não havia. A partir daí começamos a negociar para ter esta importante situação. O cadastro é necessário para individualizar o torcedor, e nem só por isso, mas também para se dimensionar o tamanho das torcidas organizadas", disse ao UOL Esporte.

Neste ponto, um problema seria o fato de duas grandes torcidas de Inter e Grêmio se consideraram movimentos espontâneos, e não organizadas. A Popular do Inter e a Geral do Grêmio afirmam não se enquadrar nos quesitos de torcidas, pois não há sede, mensalidade ou cadastro interno. Mas o MP discorda.

"Se criou o mito que não são torcidas organizadas. Mas de acordo com o Estatuto, a organizada não precisa de um presidente ou de uma personalidade jurídica. Qualquer reunião de adeptos com os mesmos cânticos e que frequentem o mesmo espaço no estádio, que possuam qualquer liderança é uma organizada. Esta ideia de movimento espontâneo é equivocada. Geral e Popular são organizadas e têm que se cadastrar. Já tratamos isso com as lideranças", afirmou o promotor.

O cadastro tem base no que ocorre em São Paulo. Com auxílio da Federação Paulista de Futebol, mais de 50 mil torcedores já foram credenciados. O planejamento é que no início do ano que vem seja assinado um termo de ajustamento de conduta e o cadastro inicie.

"A ideia é essa. Avançaremos no início do ano que vem com este termo de ajustamento de conduta. A importância também se dá para dimensionar a torcida. Saber o tamanho de cada uma delas. Até mesmo no repasse de verbas isso pode influenciar. Uma torcida pequena, recebe menos, uma maior, mais. A Brigada Militar também será beneficiada por este controle", opinou.

Porém, o repasse de verbas, na visão do MP, é o grande causador da violência entre torcedores do mesmo time. As disputas de poder nas torcidas são motivadas, na avaliação do procurador, por dinheiro.

"Como são recursos privados sendo destinados a outra entidade privada, no caso a torcida, não há como o MP intervir. Porém, isso nos preocupa muito. Porque o repasse estimula brigas internas. Passamos a ver uma grande parte das brigas em estádios de futebol sendo protagonizadas por torcidas do mesmo time por conta da disputa de espaço entre elas. Os mais fortes tentam se impor e isso acaba gerando violência", concluiu.

O Grêmio repassou mais de  R$ 1 milhão para subsidiar viagens de torcidas organizadas com o clube entre 2011 e 2012. Neste ano, quando a atual gestão assumiu o comando, cortou tal verba.