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Com R$ 4,5 milhões a receber, Cristian avalia rescisão com Corinthians

Daniel Vorley-14.mar.2017/AGIF
Imagem: Daniel Vorley-14.mar.2017/AGIF

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

16/03/2017 04h00

Afastado do elenco principal do Corinthians e publicamente criticado pelos dois dirigentes mais importantes do futebol, o volante Cristian avalia com cuidado os próximos passos da carreira. Aos 33 anos e com contrato válido até dezembro de 2017, ele tem aproximadamente R$ 4,5 milhões a receber entre salários e encargos, mas não descarta a possibilidade de alcançar um acordo e rescindir o vínculo.

Cristian se preocupa com o próximo passo que dará, o que reforça uma motivação pessoal de ainda se provar no futebol em seu mais alto nível no Brasil. Em conversas recentes, o volante manifestou o desejo de encontrar uma nova equipe onde possa jogar regularmente e recuperar o melhor ritmo. É justamente pela falta dessa oportunidade que ele se magoou com o treinador Fábio Carille.

As mágoas do jogador afastado. E as razões para a perda de tanto espaço

Uma das reclamações do jogador, internamente, é de que ele ajudou Carille em sua passagem como interino no ano passado. Ao assumir o lugar de Cristóvão Borges, o treinador assegurou titularidade imediata a Cássio, em detrimento da melhor fase de Walter, o que gerou ruídos no vestiário. Cristian avalia que ajudou o comandante a levar uma mensagem positiva ao grupo, mas não recebeu dele um voto de confiança em troca. Não por acaso, ao reassumir a equipe, Carille não adiantou qual seria o goleiro titular para 2017.

No último Campeonato Brasileiro, Cristian havia iniciado sua trajetória sob o comando de Tite com a sensação de que poderia dar uma volta por cima e, enfim, render o esperado pelo Corinthians. Já na era Cristóvão Borges, começou lesionado, recuperou espaço, mas foi novamente ao fim da fila com Carille. As oportunidades surgiram de novo com Oswaldo de Oliveira, mas o baixo rendimento do volante amadureceu a ideia de mudanças para 2017.

Sem muita fé na recuperação do jogador, Carille e a direção optaram por contratar Gabriel e Paulo Roberto para a função que era ocupada por ele. O primeiro reforço se tornou titular absoluto e resolveu, de imediato, uma antiga dor de cabeça do setor. Reserva discreto e barato, Paulo recebeu o respaldo do treinador e ajudou a selar o fim da segunda era Cristian. O fato de não ter sido comunicado em dezembro que estava fora dos planos deixou o jogador absolutamente contrariado, até porque participou regularmente da pré-temporada.

Do outro lado, a avaliação da equipe técnica é de que o rendimento de Cristian, principalmente físico, nunca foi o necessário para uma função tão desgastante quanto a que ele executa no time. A dificuldade em jogar com intensidade elevada e pressionar pela bola eram demandas desde os tempos de Tite à comissão para que o volante evoluísse dentro do trabalho.

Afastamento de Cristian pode render processo contra o Corinthians

Cristian 2009 - Eduardo Knapp/Folhapress - Eduardo Knapp/Folhapress
Cristian teve passagem de destaque e três títulos pelo Corinthians entre 2009 e 2010
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Especialista em direito esportivo, o advogado João Henrique Chiminazzo afirma que Cristian, ao ser afastado, pode ir à Justiça contra o Corinthians.

"É mais uma decisão arbitrária, temerária e que ignora todos os preceitos legais. Diversas fontes do Direito demonstram essa violação. O trabalhador tem direito à ocupação efetiva, que é trabalhar em condições iguais a todos os outros trabalhadores. A partir do momento em que você o coloca para trabalhar separado, você viola o direito de ocupação efetiva. De fato, só jogam 11 jogadores, e não se questiona ser titular ou não, mas o jogador precisa ser preparado nas mesmas condições que os outros, ter os mesmos treinamentos que os outros", indica o advogado.

"Já no campo do futebol, o regulamento da Fifa, no seu artigo 15, prevê também uma justa causa desportiva. Isso significa que o atleta que não jogar determinado número de jogos tem direito a pedir uma justa causa desportiva. 'Se não estou jogando, não sirvo para esse clube e posso sair sem pagar nada'. Isso existe para proteger a ocupação efetiva. Afastar o jogador é caracterizado dentro do direito brasileiro algo que a gente chama de assédio moral", aponta.

"O trabalhador é retirado de uma situação de trabalho e colocado em uma situação prejudicial para que ele não se sinta à vontade e peça demissão. Os tribunais brasileiros já têm decidido que treinar separado dentro do futebol é falta contratual, e pode ensejar rescisão de contrato de trabalho e, consequentemente, permitir ao atleta cobrar a multa contratual e o dano moral", concluiu Chiminazzo.

Em sua nota oficial, o Corinthians lembrou que "o volante terá todos os seus direitos respeitados e continuará tendo as mesmas condições de trabalho que o restante do elenco no Centro de Treinamento Joaquim Grava, passando a exercer suas atividades em horários a serem definidos pela Comissão Técnica".

Na manhã de quinta-feira, Cristian divulgou um comunicado em que explicou as declarações ao jornal Lance!. Leia abaixo o comunicado na íntegra:

Diante da divulgação pública do meu afastamento e das declarações do diretor de futebol Flávio Adauto e do gerente de futebol Alessandro Nunes, do Corinthians, explico:

Na tarde da última quarta-feira, tive uma conversa com os dois dirigentes do clube e ambos me passaram que eu seria afastado, para treinar em horários diferentes do grupo, por conta de declarações feitas em matéria do jornal LANCE!. Segundo eles, por dois motivos: ter revelado a história ocorrida nos EUA, quando minha aliança sumiu no quarto que eu estava hospedado, e por ter respondido a uma pergunta sobre dirigentes do Fenerbahcçe terem ido ao CT Joaquim Grava.

Sobre o episódio dos EUA, reafirmo que não tive respaldo algum dos dois dirigentes. Nada foi resolvido, tanto que, se tivesse sido, teria minha aliança de volta ou algum esclarecimento perante a situação. Não vejo como um fato corriqueiro, tanto que o assunto foi parar na polícia do país, sem solução. Mas se não consideram como problema, respeito a opinião de cada um.

Sobre os dirigentes turcos, apenas respondi a uma pergunta do repórter. O mesmo, inclusive, deixa isso claro na matéria: "Cristian não quis entrar em detalhes, mas o LANCE! apurou que, por ter atuado no clube turco, o volante foi acionado para entreter os visitantes que já aguardavam há horas no local para serem atendidos". Em nenhum momento o objetivo da visita foi interferir no assunto, mas sim para dar um respaldo aos visitantes. Nada além disso. Não cabe a mim entender ou procurar os motivos do vazamento da notícia.

Em nenhum momento, durante a conversa da tarde da última quarta-feira, foi questionada a minha situação física, técnica ou o meu comprometimento com o trabalho. Se fosse por esses motivos, não precisaria de todo esse tempo para uma definição como a tomada. Não tenho nenhum atraso no clube e cumpro com todas as minhas obrigações.

Infelizmente, não estou sendo aproveitado por opção, mas sempre respeitei as decisões da comissão técnica. O que me chateou, e deixei isso bem claro, foi não ter sido avisado antes que não seria aproveitado. Assim, teria tempo para procurar outro clube ou uma melhor situação para as duas partes. Com os campeonatos em andamento, ficou mais difícil, mas respeitei a decisão, cumprindo tudo o que me foi passado. Minha relação com o técnico Fábio Carille seguiu a mesma.

Por muito tempo, apanhei e vi notícias mentirosas envolvendo o meu nome, trazendo uma carga emocional para mim e para minha família. Por conta disso, resolvi colocar a minha versão dos fatos. Queria deixar claro que a minha admiração pela entidade Corinthians será eterna, independentemente do que aconteça. Reconheço que, por conta das lesões, minha segunda passagem não foi como eu esperava. Porém, sempre trabalhei procurando conquistar o meu espaço e assim sempre será. Eu confio no meu futebol e continuarei me dedicando para jogar em alto nível.