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Tite é exceção na elite. Principais técnicos não treinam suas seleções

Jose Mourinho segura uma banana durante jogo do Manchester United na Liga Europa - Andrew Yates/Reuters - Andrew Yates/Reuters
Imagem: Andrew Yates/Reuters

Do UOL, em São Paulo

01/04/2017 04h00

Se hoje há quase um consenso de que o melhor técnico do Brasil está à frente da seleção, o mesmo não se pode dizer das outras grandes potências internacionais. Apontado como principal responsável pela reviravolta que levou Neymar e companhia à Rússia antes de todos os rivais, o comandante do time verde-amarelo é uma exceção entre os treinadores.

Rivais diretos, países como Alemanha, Espanha, Argentina, Itália, Portugal não têm a sorte de contar com os nomes que são apontados pela maioria como os melhores a caminho da Copa do Mundo. França, Holanda e Inglaterra, outros países que fazem parte desta elite, também têm treinadores que geram incertezas nos torcedores, mas vivem uma safra sem grandes opções no mercado.

A constatação passa por diversos fatores. O principal deles é que, ao contrário do que acontece com seus rivais diretos, o Brasil não é um pólo exportador de treinadores para o futebol europeu, onde atua a maior parte das estrelas da bola. No começo da semana, um levantamento feito pelo UOL Esporte mostrou que nenhum brasileiro comanda qualquer equipe das dez principais ligas do Velho Continente.

Sem perspectiva concreta de comandar uma grande equipe europeia, a seleção brasileira ainda é vista como ápice da carreira dos treinadores brasileiros. O próprio Tite é exemplo disso. Quando perdeu para a Dunga a disputa pela sucessão de Felipão em 2014, o treinador desabafou: “Eu me preparei. E na medida que você acompanha os canais de comunicação, na medida que tu sai na rua e reconhecem seu trabalho nos últimos cinco anos, com Libertadores invicta, Mundial emblemático, Brasileiro, Recopa... Não é questão de ser o melhor, mas o momento do meu trabalho era muito forte”, disse ele à ESPN em setembro daquele ano.

Tite, é bom lembrar, vinha de um título brasileiro com o Corinthians quando aceitou o chamado da seleção. Em 2012, quando Mano foi demitido, o então presidente José Maria Marin chegou a elogiá-lo publicamente quando contratou Felipão. O clube alvinegro temia que um convite da CBF pudesse até demovê-lo de disputar o Mundial de Clubes daquele ano. Como o convite só viria de fato quatro anos depois, as prioridades do técnico não precisaram ser testadas. 

Para outros técnicos de ponta do planeta, porém, a seleção não chega a encher os olhos. Veja abaixo a situação de algumas das principais seleções e como os principais treinadores do planeta lidam com o assunto.

Argentina

Simeone comanda mais um bom trabalho com o Atlético de Madri - Reuters / Wolfgang Rattay - Reuters / Wolfgang Rattay
Imagem: Reuters / Wolfgang Rattay

Com a seleção em crise e ameaçada de não ir à Copa, Edgardo Patón Bauza está ameaçado de demissão. Como acontece em cada troca de treinador por lá, os nomes de Jorge Sampaoli e Juan Pablo Simeone, ambos na elite europeia, surgem como favoritos ao cargo. “Me sinto jovem para dirigir a seleção. Quero dirigir mais rodado, com alguns anos a mais. Também temos de ver se me chamam no futuro”, disse Simeone à rádio argentina Metro 95.1, aparentemente ignorando as duas finais de Liga dos Campeões que ele alcançou com a "zebra" Atlético de Madri.

Foram três convites ao “Cholo”, como ele é conhecido, mas ele segue preferindo se manter no clube de Madri. Em entrevista à TyC Sports, Carlos Dibos, cunhado de Simeone e ex-preparador da seleção, disse que a “panelinha” de Mascherano e Messi desempenha papel importante na recusa do ex-volante, sempre sondado para os principais cargos do futebol europeu.

A bola da vez agora é Sampaoli. Técnico do Sevilla, ele poderia voltar a treinar seleções caso a AFA (Associação de Futebol da Argentina) topasse pagar sua multa. Só que ele também está na mira de clubes de peso após o primeiro ano na Europa, e a busca por reconhecimento no Velho Continente não deixa ninguém garantir que ele vá entrar na briga com Tite em um futuro próximo.

Espanha

Pep Guardiola aplaude - Paul Ellis/AFP - Paul Ellis/AFP
Imagem: Paul Ellis/AFP

Maior referência do banco de reservas na última década, Pep Guardiola está em seu terceiro país diferente na carreira e não há nada que indique a seleção espanhola em seu horizonte. Nas poucas vezes em que fala sobre o assunto, o técnico desconversa. “Treinar a seleção nacional? Você nunca sabe o que pode acontecer”, disse ele em um evento em 2012, logo após deixar o Barcelona para um período sabático.

Ligado à Catalunha, Guardiola não deixou de exercer influência na Espanha multicampeã da última década com o estilo implantado no Barcelona, mas nunca esteve perto do cargo principal. Os veteranos Luis Aragonés e Vicente del Bosque comandaram o país nos momentos de glórias e hoje é Julen Lopetegui quem comanda a atual geração. Até outros treinadores de destaque do país, como Luis Enrique ou Unai Emery, seguem mais focados em clubes.

Itália

Antonio Conte reage durante partida do Chelsea - Reuters / Hannah McKay  - Reuters / Hannah McKay
Imagem: Reuters / Hannah McKay

Exceção à regra da maior parte da Europa, a Itália ocasionalmente tem seu principal treinador à frente da seleção. Hoje, não é o caso. Carlo Ancelotti, Massimiliano Allegri e Antonio Conte são, respectivamente, líderes dos Campeonatos Alemão, Italiano e Inglês com Bayern de Munique, Juventus e Chelsea, enquanto Giampiero Ventura comanda a seleção do país com só um título da Série C em seu currículo.

Ancelotti, um dos maiores vencedores da Liga dos Campeões em todos os tempos, jamais assumiu a seleção de seu país, preferindo peregrinar e vencer por Itália, Inglaterra, França, Espanha e Alemanha. Allegri ainda não deixou seu país, mas também não dá sinais de que vá atrás da seleção tão cedo. Há três anos no comando da Juventus, ele é um dos mais cotados a assumir a vaga de Arsene Wenger caso o veterano francês de fato deixe o Arsenal.

Conte é a exceção. O homem que surpreende Guardiola e Mourinho na Inglaterra comandou a Itália de 2014 a 2016 e foi um dos responsáveis pela surpreendente campanha na Eurocopa do ano passado, quando uma seleção considerada fraca caiu só nos pênaltis diante da Alemanha.

Alemanha

Jurgen Klopp após Liverpool x Chelsea - Carlos Delgado/AP Images for International Champions Cup - Carlos Delgado/AP Images for International Champions Cup
Imagem: Carlos Delgado/AP Images for International Champions Cup

Comandante da seleção há mais de dez anos e campeão mundial em 2014, Joachim Low é hoje, indiscutivelmente, um técnico de ponta. Só que, ao contrário de seus pares na elite, ele construiu toda sua carreira na Alemanha, sendo alçado ao comando depois que Klinsmann pediu demissão em 2006.

Hoje, o alemão mais badalado à beira dos gramados é Jurgen Klopp, do Liverpool, que nem fala em migrar para a seleção. Na verdade, o caminho pode até ser o contrário. “Na Alemanha eu já vi de tudo. Se for no exterior eu estaria interessado, quando a hora chegar, em ser treinador de clube”, disse Low em outubro do ano passado. Não será tão cedo, ao menos, já que ele tem contrato com os atuais campeões mundiais até 2020.

Portugal

Antítese de Pep Guardiola na última década, José Mourinho segue sendo tratado como um dos principais treinadores do planeta, mas jamais assumiu a seleção. Por pouco, diga-se. Em 2010, ele chegou a aceitar o convite da federação após a Copa, mas acabou voltando atrás para fechar com o Real Madrid. Em 2014, foi mais taxativo: “Não aceitaria”, disse à TVi24.

Enquanto isso, Portugal tem de se contentar com treinadores de currículo mais enxuto. Fernando Santos, atual comandante, assumiu o time após a Copa de 2014 credenciado “apenas” pelo bom trabalho com a Grécia, derrotada pela Costa Rica nas oitavas daquele Mundial.

E não é que faltem treinadores. Portugal, de acordo com o levantamento do UOL Esporte, é o país que mais exporta treinadores para outras ligas de ponta da Europa, com seis técnicos nesta situação. O problema é que destaques como Leonardo Jardim, do Monaco, também dão preferência a clubes em relação à seleção.