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Plano especial do Vasco é indício de "financiamento de organizadas", diz MP

Eurico Miranda também aproveitou para anunciar a contratação do argentino Andrés Rios - Paulo Fernandes/Vasco.com.br - Paulo Fernandes/Vasco.com.br
Eurico Miranda criou plano de sócios para organizadas do Vasco
Imagem: Paulo Fernandes/Vasco.com.br

Bruno Braz e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

13/07/2017 04h00

O Ministério Público do Rio de Janeiro não enxergou com bons olhos o plano de sócios criado pelo Vasco para as organizadas e a maneira como ele tem sido conduzido pelas mesmas nos dias de jogos em São Januário, como mostrou a reportagem publicada pelo UOL Esporte na última quarta-feira (12). Na visão do órgão, a revenda de ingressos por uniformizada suspensa dos estádios é uma prática de “financiamento” do clube, que está na mira das autoridades depois da confusão generalizada do último sábado, quando confrontos depois do clássico com o Flamengo terminaram com a morte de um torcedor. 

“Esse fato [ingressos do plano 'sócio-torcida' sendo revendidos] é grave por reforçar que a relação entre os clubes e as organizadas é de financiamento. Na ação da torcida única, fizemos uma proposta de TAC em que esse tipo de vínculo seria proibido, mas os clubes se recusaram a assiná-lo. Estamos esperando a decisão de mérito do processo”, declarou Rodrigo Terra, promotor de Justiça do MP-RJ.

Terra se refere a uma ação de fevereiro deste ano, quando pediu que os clássicos cariocas fossem realizados com torcida única. Na ocasião, ele também pediu que os clubes encerrassem qualquer tipo de repasse de ingressos às organizadas. Hoje, no Vasco, uniformizadas têm acesso a um plano especial de sócio-torcedor que permite bilhetes a R$ 10, quando o torcedor comum chega a pagar R$ 90. Proibida de frequentar estádios por conta de participações em diferentes episódios de violência, a Força Jovem está entre as beneficiadas pelo plano especial.  

O Vasco se defende e nega que esteja financiando e fornecendo ingressos para as organizadas. O clube se baseia nas regras do plano “sócio-torcida” em que, teoricamente, mil torcedores membros de uniformizadas foram cadastrados e, ao apresentarem a documentação necessária, compram o bilhete no valor de R$ 10.

“Vem um desses que pretende ser algo no Vasco um dia e coloca que eu daria ingresso para torcida. Não dou um ingresso. Criei uma situação de facilitar, com limitação, venda para a sócio-torcida. Pagam R$ 10. São cadastrados. Fora isso, não dou ingresso”, diz o presidente vascaíno Eurico Miranda.

A diferença entre a teoria e a prática, porém, foi claramente notada pela reportagem antes do clássico entre Vasco e Flamengo, marcado pela morte do torcedor Davi Rocha. Na ocasião, a reportagem flagrou os ingressos do plano “sócio-torcida” sendo revendidos na sede da Força Jovem, que está suspensa dos estádios pelo Ministério Público. A comercialização, inclusive, atingia preços que variavam entre R$ 40 e R$ 50, bem mais que os R$ 10 impressos no ingresso. Antes mesmo do clássico, porém, já haviam diversos relatos de vascaínos em redes sociais reclamando da revenda de ingressos do plano.

MP e TJ destacam “fuga” dos clubes à biometria

A reportagem publicada nesta quinta-feira na coluna “De Primeira”, do UOL Esporte, mostra que em maio deste ano o Ministério Público tentou implementar um sistema de biometria na entrada dos estádios cariocas com o intuito de identificar elementos suspensos pela Justiça ou que sejam membros de organizadas proibidas de frequentar praças esportivas.

A ação foi acatada pelo juiz Guilherme Schilling, mas Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, CBF, Ferj e Maracanã S.A. entraram com recursos e o efeito suspensivo contra a decisão foi deferido pelo desembargador Gilberto Clóvis de Farias Matos, da 15ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

“Não há controle de acesso. Estamos batendo na tecla da biometria, isso tem de ser enfrentado. Não existem mecanismos para barrar, apenas uma decisão do juiz”, reclama o desembargador Mauro Martins, presidente da Comissão Judiciária de Articulação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais em Eventos Esportivos, Culturais e Grandes Eventos (Cejesp).

Na avaliação do promotor Rodrigo Terra, a confirmação da Polícia Militar de que membros da Força Jovem do Vasco são identificados e retirados quase todos os jogos em São Januário agrava ainda mais a situação do clube que se negou, ao lado dos demais, a implementar o sistema de biometria.

“Se a Força Jovem está proibida de frequentar o estádio, todos os seus integrantes também estão e o ingresso dos mesmos, em que pese a restrição, é clara violação ao dever de segurança, agravando a situação o fato de o clube ter obtido em segunda instância a suspensão da liminar obtida pelo MP-RJ visando a implantar a biometria que impediria integrantes punidos de comparecerem ao estádio”, diz Terra.