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Gerley chegou a desistir de futebol. Hoje, pensa até em voltar ao Palmeiras

CESAR GRECO/FOTOARENA/AE
Imagem: CESAR GRECO/FOTOARENA/AE

Emanuel Colombari e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

05/08/2017 04h00

Em sua segunda passagem pelo Palmeiras, entre 2010 e 2012, o técnico Luiz Felipe Scolari ficou marcado por uma metáfora: pedia "camarões" à diretoria do clube, expressão que utilizava para identificar jogadores mais experientes e badalados. O pedido tentava equilibrar o elenco formado a base de "pão, arroz e feijão" em 2010 - no caso, atletas contratados a baixo custo em times de menor expressão.

Um dos jogadores mais marcantes da fase "pão, arroz e feijão" do Palmeiras foi o lateral esquerdo Gerley. Contratado em 2011 após se destacar pelo Caxias no Campeonato Gaúcho, o jogador deixou o time um ano depois para reforçar o Bahia.

"Na época foi o Felipão que pediu a minha contratação. Quando eu fui para o Palmeiras, eu tinha 19 anos, quase 20. Era um sonho virando realidade", contou o lateral, hoje no Botafogo-SP, em entrevista ao UOL Esporte. Ao chegar no Palmeiras, Gerley recebeu conselhos do próprio Felipão para atuar.

"Ele disse para eu agarrar a oportunidade. Na época, quando eu cheguei ao Palmeiras, o lateral esquerdo era o Gabriel Silva (hoje no Granada). Ele estava na seleção brasileira de base, e eu cheguei e logo joguei. Fiz 18 jogos pelo Palmeiras no Brasileirão", completou.

Tudo indicava uma situação promissora para Gerley: ainda jovem, chegava a um grande clube com o respaldo de um dos principais treinadores do Brasil nos últimos anos. No entanto, a situação não saiu como esperado: a pressão da torcida do Palmeiras, os resultados instáveis e a própria "falta de foco" do jogador acabaram abreviando sua passagem.

"Faltou um pouco mais de foco meu, vamos dizer. Levar mais a sério. Eu era muito menino ainda, deixei a desejar. O erro foi meu", contou o lateral, que afirma ter tido problemas com seu então empresário, cujo nome não foi citado, para se firmar em um clube nos primeiros anos da carreira como profissional.

"Na época, o Felipão não queria que eu saísse do Palmeiras. O empresário brigou lá dentro. Ele me tirou e começou a me levar para todos os times, a rodar para vários times. Eu ficava um ano e ele queria me tirar - "vamos para esse", "agora esse". Esse foi um problema que eu sofri. Por ser jovem, isso acabou me influenciando, pois quando você está ali com tudo isso, o meu rendimento foi baixando", completou.

Ainda contratado pelo Palmeiras, Gerley passou a peregrinar por diversos clubes, sempre por empréstimo. Em 2012, foi rebaixado à Série B do Brasileiro pelo Bahia. Em 2013, passou por Ceará e Juventude. Em 2014, por Náutico e Marília. Em 2015, foi parar no Albacete (Espanha). Em 2016, reforçou o Madureira.

Foi aí que Gerley resolveu dar um basta na carreira. E desistiu de jogar.

O desgosto: "empresário me chantageou"

Cansado das decisões de seu empresário, Gerley viu que não tinha mais vontade de jogar. No começo de 2016, deixou o Madureira após poucos jogos. Ali, aos 25 anos, admitiu que poderia pendurar as chuteiras.

"Eu não estava feliz por estas coisas", conta, lembrando as agruras que enfrentou quando decidiu romper com o representante em questão.

"Quando eu saí do Náutico (2014), eu levantei as mãos para o céu. Mas eu era menino, e ele me dizia que tinha um contrato de gaveta. Eu fui acreditando naquilo. Ele me falava que eu tinha que pagar uma multa, essas coisas, essas historinhas de sempre. Até então, eu concordei com ele - eu não tinha dinheiro para pagar a multa. Só que aí eu fui ficando mais velho, mais experiente, conhecendo mais, e foi aí que eu pensei: 'tem alguma coisa errada'. Procurei um advogado, e foi onde eu consegui me desvincular dele. Não tenho mais nada com ele. Esse contrato de gaveta, na verdade, nunca existiu. Ele me chantageou", completou.

De volta ao Brasil, sem clube, sem vontade, Gerley passou "quase dez meses" sem entrar em campo em 2016 - justamente o período posterior à passagem pelo Madureira. Naquele momento, desgostoso com o futebol, parecia caminhar para um fim de carreira prematuro.

Mas foi aí que veio a nova chance. Natural de Central de Minas (MG), foi chamado para defender o Democrata de Governador Valadares no Campeonato Mineiro de 2017. O time foi apenas o 10º colocado (entre 12 times) do torneio, mas a experiência ajudou Gerley a recuperar o desejo de jogar futebol.

Gerley e família - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Lateral aproveito período longe do futebol para passar tempo com a família em MG
Imagem: Acervo pessoal
"Eu tinha desistido, mas aí eu recebi uma proposta de um clube próximo à minha cidade, de Governador Valadares (MG), do Democrata, para disputar a primeira divisão do Mineiro. Foi onde eu fui voltando a gostar, sem mais aqueles problemas", contou.

No período longe dos gramados, Gerley aproveitou o tempo em Minas Gerais ao lado da família. "Bravo com a bola", como descreveu, ficou ao lado da esposa, Ingrid, e do filho Vicenzo, nascido durante sua passagem pela Espanha. No entanto, foi o apoio do pai, Gelsê, que o fez desistir da desistência.

"Foi o meu grande incentivador. Ele falava: 'se é uma coisa que você gosta, então porque vai parar?'", relembra Gerley. "Fiquei quase 10 meses perto dele. Ele ficava batendo nessa mesma tecla: 'por que você está fazendo isso? Você é novo, tenta mais'. Foi aí que apareceu o Democrata, que era perto da minha cidade", completou.

Nova chance na elite. Talvez no Palmeiras

O retorno ao futebol pelo Esporte Clube Democrata valeu a Gerley uma oportunidade para jogar a Série C do Campeonato Brasileiro pelo Botafogo-SP. Em 12 jogos da equipe na competição, atuou em 11, sempre como titular. Foram seis vitórias, quatro empates e uma única derrota. O time lidera o Grupo B da primeira fase do torneio, com 21 pontos em 12 rodadas.

Contratado pela equipe de Ribeirão Preto (SP) até o final do ano, Gerley hoje trocou o empresário do início da carreira por outro representante, que conheceu quando defendia o Palmeiras. "Tenho um cara trabalhando comigo que é perto da minha cidade. É na base da confiança", conta. "Foi outro que falava: 'não larga, vamos jogar, vamos trabalhar'. Hoje eu estou com ele", completou.

Fã de Marcelo, lateral esquerdo do Real Madrid, Gerley ainda aposta em novas chances com equipes de ponta do futebol brasileiro.

Gerley no Botafogo-SP - Rogério Moroti/Agência Botafogo - Rogério Moroti/Agência Botafogo
Gerley sonha com nova chance na elite. Mas primeiro quer acesso com o Botafogo-SP
Imagem: Rogério Moroti/Agência Botafogo

"Ainda sou novo, tenho 26 anos. Meu sonho é voltar à elite do futebol brasileiro. Miro isso e trabalho para isso. Mas primeiro o meu pensamento é somente no Botafogo-SP e conseguir o nosso objetivo aqui: o acesso para a Série B do Brasileiro do ano que vem - e, consequentemente, uma Série A", disse.

Destaque na Série C, Gerley diz "esperar o que Deus tem preparado". Mas não descarta nem mesmo um retorno ao Palmeiras - onde, segundo ele, a situação "seria totalmente diferente" hoje em dia.

"Por que não? É uma grande equipe. No começo lá, eu fui muito bem recebido, fiz bons jogos. Miro, sim, um dia voltar lá. Porém, primeiro penso no Botafogo-SP, conseguir o acesso para a Série B", acrescentou.