Exaltado por continuidade, Fla de Bandeira esbarra em dilema da demissão
O Flamengo vive um autêntico dilema para a reformulação do departamento de futebol na próxima temporada. Não que seja um fato absolutamente inédito, mas a gestão esbarra em um incômodo obstáculo para promover uma série de mudanças reivindicadas pelo grupo da situação SóFLA (Sócios pelo Flamengo). Trata-se da resistência do presidente Eduardo Bandeira de Mello em se desfazer de determinados profissionais.
É consenso que o mandatário foi peça importante no processo que colocou o Flamengo nos trilhos desde 2013. No período, o Rubro-negro se organizou financeiramente e colecionou elogios por pregar a continuidade do trabalho de saneamento. Só que o desempenho abaixo da expectativa na temporada cobrou o seu preço no futebol. Vice-presidentes até ameaçam sair se as exigências da situação por mudanças não forem atendidas.
O entendimento é de que a atuação no futebol precisa ser enérgica. Ao contrário da parte econômica, na qual a sequência trouxe benefícios, quem cobra as alterações defende que no carro-chefe do clube não se pode insistir com quem teve chances e não entregou o resultado esperado. O desempenho aquém do previsto em 2017 é utilizado nos debates.
A expectativa do SóFLA está no vice de futebol, Ricardo Lomba. Integrante do grupo e no cargo há menos de dois meses, o dirigente é a esperança dos pares políticos de que o departamento de futebol terá outra cara em 2018. Eles querem, por exemplo, as saídas de Alex Muralha, Gabriel, Márcio Araújo, Rafael Vaz e Romulo. Também desejam os desligamentos do preparador de goleiros Victor Hugo e do coordenador de psicologia Fernando Gonçalves. Sobre Fred Luz, CEO do clube, existe a reivindicação de que o executivo deixe de ter interferência no futebol e volte para a sede social da Gávea.
O debate também está na autonomia que Ricardo Lomba terá para mudar a cara do futebol rubro-negro. A princípio, o trabalho caminha com trocas de ideias sobre o panorama atual. Ele, no entanto, pode ser um dos VPs a deixar o cargo caso não tenha carta branca para desenvolver o trabalho. Lomba tem o apoio do grupo político e também da maioria da torcida.
Eduardo Bandeira de Mello permitirá tantas mudanças?Esse é o questionamento nos bastidores do Flamengo. O presidente do clube é resistente ao processo de demissão. Com o discurso do profissionalismo na ponta da língua, ele costuma se defender quando cobrado mais intensamente por mudanças. Dispensar, conforme pregam figuras influentes do clube, não é o forte do mandatário.
O episódio mais recente envolveu o técnico Zé Ricardo. Atualmente no Vasco, ele era considerado carta fora do baralho pela maioria dos vice-presidentes desde a eliminação na primeira fase da Copa Libertadores. Bandeira defendeu o treinador e a dispensa só foi consumada após a última rodada do primeiro turno do Campeonato Brasileiro.
Demitir técnicos sempre foi um dilema para o presidente. Em 2013, Jorginho foi dispensado pelo ex-vice de futebol, Wallim Vasconcellos, e pelo então diretor executivo, Paulo Pelaipe. O presidente ainda sustentava que o profissional precisava de mais tempo.
Com Cristóvão Borges, em 2015, Bandeira de Mello foi pressionado ao extremo pelos seus pares. Foram inúmeras mensagens no celular até que ele fosse convencido a mudar. Flávio Godinho, então vice de planejamento, foi o responsável por levar a maior parte dos pedidos dos dirigentes até o mandatário. Fã do treinador, o presidente só se curvou depois de muito custo.
Aposentado do BNDES, no qual exercia a função de chefe do departamento de meio ambiente, Eduardo Bandeira de Mello não lidava diretamente com as demissões no banco. Para integrantes da diretoria ouvidos pela reportagem, o presidente sustenta a confiança no sucesso dos profissionais que contrata. O problema é que virou uma questão política e será necessária a mudança de paradigma. Caso contrário, a gestão viverá o seu momento mais decisivo.
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