Na contramão de boleiros, goleiro corintiano vive "sonho do Gol quadrado"

Banco do motorista lá atrás para vencer a falta de espaço. Paciência na hora de dar partida à espera do aquecimento do motor. Ambiente quente pela falta de ar-condicionado e muita, muita dificuldade para fazer curvas simples com a direção convencional do automóvel antigo. O goleiro Walter não se importa com essas adversidades. Dono de um Gol 1989, o jogador do Corinthians realiza um sonho ao conduzir um carro desejado há tempos.

Cravado entre automóveis luxuosos deixados pelos outros atletas do time corintiano no estacionamento do CT Joaquim Grava, o Gol quadrado destoa. No cenário, vira um destaque por ser um modelo pouco comum entre os jogadores de futebol dos grandes clubes brasileiros.

Comprado em setembro passado, o carro se tornou um exemplo do modo de vida simples adotado por Walter, que uniu o sonho de infância a princípios de vida ao escolher um carro bem mais barato que os demais. Além de comprar um carro desejado, o goleiro, preocupado com o futuro e o pós-carreira, também evitou extravagâncias financeiras.

"Eu gosto bastante do carro, era um sonho de moleque ter um gol quadradinho. Era um sonho de menino. Está realizado. Você olha para ele e está bem bonito, todo original", disse Walter, que, sem dinheiro, viu oportunidades escaparem antes de ser atleta do Corinthians.

Com o sonho enfim concretizado, a ideia inicial era deixar o carro na cidade de Jaú, no interior paulista. Nos primeiros meses após a aquisição, porém, o carro foi usado diariamente no trajeto até o CT do Corinthians a fim de matar a vontade.

Nas férias de fim de ano, Walter viajou com o carro para Jaú, pois ficaria na cidade por algumas semanas. Lá, nas ruas mais tranquilas, aproveitou ainda mais o automóvel ao usá-lo todos os dias. E não escapou das brincadeiras dos vizinhos.

"Parei na casa da minha mãe, onde tem um bar na frente. Um cara brincou comigo e perguntou se estava quebrado. Minha mãe chorava de rir", contou o goleiro corintiano.

Longe do carro, Walter se mostra preocupado e monitora a situação. Segundo ele, os pais e os sogros ligam o carro para não deixá-lo muito tempo parado. Quando sobra um tempo, o jogador vai até a cidade para matar a saudade.

O caminho até o CT

Entre setembro e dezembro do ano passado, Walter usou o Gol diariamente para ir aos treinos do Corinthians. Com ele, passou por situações curiosas. Uma delas ocorria no momento de ir embora para casa. "Eu tinha de esperar uns 15 minutinhos para esquentar o motor. Senão ele não sai do lugar", afirmou.

A cena rendia brincadeiras entre os companheiros - alguns deles, como o volante Fellipe Bastos, ganharam até caronas. Alguns funcionários do clube, por sua vez, elogiavam o estado do carro.

No caminho de volta, havia dificuldade no trânsito pesado da cidade de São Paulo por causa da falta da direção hidráulica e a temperatura elevada no interior no veículo. "Ele não faz curva", brinca o goleiro, que amenizava o calor com a abertura do vidro quebra-vento.

Filosofia de vida

Atento às questões financeiras, Walter concluiu que carros são responsáveis pela perda de dinheiro, seja na compra, na manutenção e no próprio uso diário.

Por isso, o jogador vendeu um carro recentemente e optou por um modelo compacto e mais econômico para usar em São Paulo com a família. Além disso, segundo Walter, as viagens a Jaú ficaram bem mais baratas agora, pois o gasto com a gasolina caiu bastante.

Com esse pensamento, Walter dá até alguns conselhos aos jogadores mais novos do elenco do Corinthians. Para ele, como a carreira do jogador de futebol é curta, o ideal é pensar bem antes de comprar um automóvel.

"A gente quer ter um carro legal, mas tem de ter o pé no chão para comprar essas coisas. Pode até ter dinheiro para comprar um melhor, mas é bom começar por um intermediário para não ter gasto. Hoje é gasto, é jogar dinheiro fora. A gente tenta passar isso para a molecada", disse.

Depois de chegar no Corinthians, por exemplo, o goleiro decidiu comprar uma casa para a família e traçar planos para investir o salário. Para isso, Walter ganhou até a ajuda de um profissional da área.

"Quando você chega numa certa idade, você pensa nisso. Passei por muitos clubes pequenos, com salários baixos. Quando entrei aqui já pensei em comprar minha casa, ter um lugar para morar, porque o resto a gente dá um jeito. Depois, investir e guardar para o futuro. Gosto de ficar atento", ressaltou.