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Vontade, Neymar e amizades: como Santos tirou do São Paulo sua nova aposta

Rodrygo, do Santos - Ivan Storti/Divulgação - Ivan Storti/Divulgação
Rodrygo praticamente pulou o sub-20 e estreou com o técnico Elano em 2017
Imagem: Ivan Storti/Divulgação

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo*

09/03/2018 04h00

Titular nas duas últimas partidas do Santos no Campeonato Paulista mesmo aos 17 anos recém-completados, o atacante Rodrygo é a aposta do técnico Jair Ventura em 2018 e do próprio clube para presente e futuro na posição. O tratamento dado ao jovem que veste a camisa 43 no elenco profissional é semelhante ao que tiveram ídolos da história recente do clube, como Robinho, Neymar e Gabigol: pelo sucesso nas categorias de base, ele cresceu cercado de cuidados, preparação e expectativas. O curioso é notar que tudo isso poderia estar acontecendo com a camisa do São Paulo, e não do Peixe.

Antes de desembarcar na Vila Belmiro para cumprir toda a trajetória até chegar ao time titular, Rodrygo foi jogador do rival nas divisões inferiores, com atividades no futsal e também no Centro de Formação de Atletas de Cotia. Ele esteve no São Paulo entre oito e dez anos de idade e sempre mostrou bom potencial, de acordo com pessoas ouvidas pelo UOL Esporte. Três fatores, porém, fizeram com que ele trocasse o Tricolor pelo Peixe em 2010: decisão pessoal e familiar após conversas com amigos, inspiração na trajetória de Neymar e melhores condições contratuais.

"Estava formando um elenco sub-9 no São Paulo, recebi indicação de outro professor amigo meu e pedi para trazer o Rodrygo. Ele era realmente diferenciado porque foi muito bem orientado pela família. Disputamos muitos campeonatos, chegamos a ser campeões metropolitanos de futsal e sempre desenvolvendo fundamentos com treinos de duas a três vezes por semana, com jogos aos fins de semana. Ele sempre foi focado e tinha humildade de prestar atenção mesmo sabendo que era diferenciado", conta Ailton Carvalho, o Lira, ex-técnico das categorias menores do futsal do São Paulo e hoje em atividade como professor do colégio Augusto Laranja, em São Paulo.

Rodrygo no São Paulo - Acervo pessoal/Lira - Acervo pessoal/Lira
Rodrygo é o camisa 17 do futsal do São Paulo nesta imagem, último de pé à direita
Imagem: Acervo pessoal/Lira

Outro treinador de Rodrygo no São Paulo e ainda um dirigente do futsal do clube foram procurados pela reportagem, mas por ainda prestarem serviço ao clube preferiram não se manifestar sobre a promessa perdida. Por outro lado, o técnico Fabrício Monte, do futsal do Santos, lembra do momento em que recebeu um jogador que já conhecia e que já o havia atormentado com a camisa de um time rival.

"O Rodrygo jogava futsal no São Paulo e atuava com um ano a menos que a categoria. Nós íamos jogar e víamos ele. Às vezes era um time do São Paulo não tão forte, mas tinha ele enchendo o saco, ganhava sozinho da gente", brinca Fabrício, que ainda revela um dos "anjos da guarda" de Rodrygo: Robson, pai do meia Lucas Lourenço e amigo de Eric, pai do atacante.

"Um dia o pai do Lucas Lourenço disse para mim: "Você gostaria do Rodrygo aqui no Santos?". O pai do Lucas tinha amizade com o Eric, pai do Rodrygo, de frequentar ginásio mesmo, e veio falar comigo que o Rodrygo tinha vontade de jogar no Santos e tal. Para sair do São Paulo o Rodrygo precisava de algo certo no Santos e eu falei que podia trazer, que colocávamos na escola onde eu trabalho, arruma casa, arruma tudo. Aí trouxemos e ele chegou vestindo a camisa, parecia que estava aqui há anos".

Rodrygo no futsal - Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Divulgação - Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Divulgação
Rodrygo defende o Santos desde 2010
Imagem: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Divulgação

Consultado pelo UOL Esporte, Eric Batista de Góes, pai de Rodrygo, confirma a versão: "O Lucas Lourenço já estava lá e fomos por causa dele. A ideia era que eles jogassem juntos, e foi o que aconteceu".

Lucas Lourenço e Rodrygo permaneceram três temporadas invictos no futsal do Santos enquanto atuaram juntos. Eles foram promovidos ao elenco profissional do futebol de campo entre os últimos meses de 2017 e o início de 2018. O meia ainda não estreou e voltará a ter sequência de jogos nas categorias de base, enquanto Rodrygo segue sua trajetória no profissional.

Todo mundo queria jogar no Santos

Além da influência de Lucas Lourenço e da possibilidade de um bom contrato mesmo com pouca idade, Rodrygo teve influência pessoal na decisão de trocar o São Paulo pelo Santos. O ano era 2010, quando uma nova geração de Meninos da Vila chefiada por Ganso e Neymar mostrava alto rendimento sob o comando de Dorival Júnior. Naqueles tempos, todo jovem jogador se encantava pelos dribles e goleadas do Peixe, e Rodrygo também surfou no "efeito Neymar".

"O que mais atrai jogador a vir para o Santos é a facilidade de subir para o profissional. O Santos não tem medo de lançar e a torcida tem paciência com o garoto. É histórico. Os garotos sobem confiantes, porque sabem que terão apoio. E o Rodrygo é o mais próximo do Neymar que o Santos tem. Não tem o que por ou o que tirar. É marrentinho igual, habilidade pelos lados com uma facilidade extrema, trabalha as duas pernas e finaliza muito bem, faz gols. Ele sabe jogar de frente e de costas e tem uma qualidade acima da média, além de chamar responsabilidade. O Neymar era isso, com todos esses atributos. Sempre falei isso e diziam que eu estava maluco. Para mim ele vai estourar em um ano, porque é acima da média", elogia Fabrício Monte.

Do futsal do São Paulo, Rodrygo chegou ao Santos para revezar entre a modalidade e o futebol de campo, na categoria sub-11. No campo ele já chegou marcando sete gols na edição do Campeonato Paulista de 2011 e foi artilheiro do Estadual da categoria em 2012, com 20 gols. Ele só parou de jogar no futsal em 2015, por determinação da gerência das categorias de base. Com foco exclusivo aos gramados, atuou no sub-13, sub-15 e sub-17 com grande destaque. Pelo sub-20 mal passou: já tinha qualidades para virar profissional, e assim foi.

Até o momento, Rodrygo soma 11 partidas e dois gols no time principal do Santos. O azar é do São Paulo.

* Colaborou Bruno Freitas, do UOL, em São Paulo