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Felipão lembra susto com convite do Palmeiras e vê estrutura "espetacular"

Leandro Miranda

Do UOL, em São Paulo

03/08/2018 15h27

O Palmeiras apresentou nesta sexta-feira (3) Luiz Felipe Scolari como seu novo treinador. Em sua terceira passagem pelo clube, Felipão revelou ter recebido o convite do diretor de futebol Alexandre Mattos com um telefonema de madrugada em Portugal, onde morava. O técnico de 69 anos recebeu do presidente Maurício Galiotte uma camisa número 3 com seu sobrenome, posou para fotos e agradeceu à diretoria pela oportunidade.

Scolari se disse "motivado, convicto" em seu terceiro trabalho pelo clube. E deu detalhes do convite recebido para assumir a vaga que era de Roger Machado - como o fato de que poderia ter assumido o comando de uma seleção após a Copa do Mundo de 2018.

"Era madrugada quando o Alexandre conversou comigo - um pouco assustado, porque tocou o telefone de madrugada. Depois que atendi o telefone que fui me dar conta, conversando. Vi então a possibilidade de voltar, mas como não imaginava essa situação, e estava vivendo uma outra situação de entendimentos com seleções, voltei à cama e não dormi mais. Não foi tão difícil ficar um pouco acordado, depois conversar com a família. Nós tínhamos um outro planejamento. Assustado, mas depois pensando, convicto vendo que tinha uma possibilidade de voltar ao Palmeiras, uma equipe que tenho uma identificação, com a torcida... Projetamos para o dia seguinte o primeiro contato", explicou, dizendo-se "muito feliz em retornar à minha casa".

Felipão ainda comparou seu retorno à segunda passagem pelo Palmeiras, em 2012. Na ocasião, o time sofria sem poder jogar em seu estádio, em reformas - o Allianz Parque só foi aberto em 2014 após remodelação. Durante sua passagem, o Palmeiras conquistou a Copa do Brasil, mas foi rebaixado no Campeonato Brasileiro.

"Na última oportunidade em que aqui estive, éramos itinerantes. Jogávamos em Barueri, no campo da Portuguesa, em Presidente Prudente, porque não tínhamos nosso estádio que é maravilhoso. Temos uma estrutura que possivelmente posso te dizer que vivi assim em Londres, no Chelsea, e mais nenhum lugar. É espetacular tudo aquilo que o Palmeiras hoje possui e pode dar a seus jogadores e seus treinadores. O elenco é muito bom, como outros times do Brasil têm elencos muito bons", elogiou.

"Tínhamos dificuldade financeira muito grande, tínhamos que fazer contratações sem gastar nos empréstimos e pagando um valor quase irrisório para os jogadores, que ainda nos deram o título da Copa do Brasil. Eu ainda bato palmas a eles, por tudo aquilo que fizeram. Lutaram, lutaram e conseguiram uma Copa do Brasil em 2012, onde tínhamos mil e uma dificuldades. Hoje não temos isso, temos algumas, sim, claro, mas vivemos uma situação diferente", completou.

Felipão viaja ainda nesta sexta para Belo Horizonte, onde vai encontrar a delegação do Palmeiras pela primeira vez. O time enfrenta o América-MG no domingo (5), pelo Campeonato Brasileiro, no jogo que marcará a estreia do treinador nesta terceira passagem pelo alviverde.

Confira os melhores momentos da apresentação de Felipão:

A "roda dos técnicos" no Palmeiras

"Acho que o elenco tem um técnico por muito mais tempo quando esse técnico e sua equipe também sejam vencedores. Infelizmente ainda continua essa situação de resultados, mesmo os torcedores não aceitam que um técnico não seja um vencedor de uma competição. Espero terminar meu contrato aqui em 2020 com muitas vitórias e títulos conquistados pelo Palmeiras. Mas não somos só nós que queremos ganhar títulos, as outras equipes também querem ganhar e temos que respeitar".

Tem acompanhado o futebol brasileiro?

"Não seguíamos apenas de Portugal, mas na China também, vendo os jogos. E era um motivo especial quando envolvia Palmeiras, ou outra equipe como o Grêmio, porque ia na casa de alguém, passar determinado momento da noite para tomar um chimarrão, jantar e ver o jogo. Era um momento até de integração para ver os jogos. Mas a gente tinha pleno conhecimento do que estava acontecendo até no Brasileiro da Série D, que o Caxias disputa, porque somos lá daquela região. Tínhamos conhecimento completo da situação dos times aqui do Brasil, quando dava para assistir os jogos, além dos contatos que a gente tem".

O que falta para os técnicos da "nova geração"?

Falta trabalhar, adquirir experiência. Não é de um dia para o outro que um técnico é formado. Ele vai adquirindo experiência com as situações vividas a todo dia e a todo ano. São técnicos promissores, que estão evoluindo, vão passar por uma ou outra dificuldade, mas vão acrescentar para o futuro.

Cuca elogiou os técnicos "velhinhos"

"Se o Cuca é velhinho, então eu... (risos) Ele é experiente, isso sim. Podemos falar que as pessoas muitas vezes aprendem e têm oportunidades boas, como eu estou tendo, com uma idade um pouco maior. Nelson Mandela aos 71 anos foi presidente da África (do Sul) após passar 27 anos na cadeia. Então os jovens são promissores, são bons, mas ainda vão ter uma ou outra situação, um percalço no meio do caminho. São técnicos que daqui a um, dois, cinco anos vão estar no mercado tomando conta totalmente. E nós, os mais velhos, temos a experiência a nosso favor, sim, e temos a jovialidade, porque não vejo como fazer diferente. Com a idade que tenho, não faço nada diferente de quando tinha 10 ou 15 anos a menos".

Relação com a imprensa

"Da minha parte é normal, não mudei e vocês provavelmente também não mudaram. Vocês vão fazer as perguntas que acharem interessantes e eu vou responder da minha forma, que acho que é o correto. Não se pode maquiar a situação. É um relacionamento normal. Quando ganhamos ou perdemos, não ganha o técnico ou perde o técnico. Perde o técnico, os jogadores e o país, ou o clube. Não existe um responsável apenas, existe um grupo de trabalho, que precisa assumir derrota ou vitória. É isso que vou tentar novamente, que a gente tenha esse pensamento. Posso não gostar de uma ou duas pessoas e não vou gostar o resto da vida, não vai mudar nada para eles nem para mim".

É lembrado mais pelo penta ou pelo 7 a 1?

"Não sei, não vou discutir nada. O último campeão mundial (pelo Brasil) foi em 2002, e eu estava junto naquela equipe. O último derrotado no campeonato mundial não fui eu, já passou. Eu não sou o último derrotado. O Brasil foi o quarto colocado no Mundial de 2014 e nós sabemos que ninguém vai mascarar uma derrota como a que nós sofremos, mas a vida continuou. Acho eu, pelo relacionamento que tenho vivido desde 2014, que sou lembrado muito e com muito carinho pelos torcedores por tudo aquilo que fiz na minha carreira e como pessoa, não apenas por um resultado negativo. Um resultado negativo não mascara 99 positivos. É a sequência da vida que vai me mostrar como posso ter uma derrota na vida e sair fortificado para fazer o meu trabalho. Não posso ficar pensando nisso, assim como não penso em 2002. Já passou, encerrou. Não perdi sozinho em 2014 e não ganhei sozinho em 2002".

Aprendizado na China

"A China te mostra, aqueles jogadores chineses, o que é ser humilde, ter vontade, ter dedicação e disciplina quando estão trabalhando contigo. O que eles me ensinaram é que mutias vezes precisamos ter tudo isso numa equipe para ter uma equipe de qualidade. Se a China não tem um campeonato tão badalado, tem grandes jogadores e grandes técnicos. E os atletas chineses me ensinaram isso. Para ganhar lá, precisa conviver, ter um relacionamento muito bom com eles, conhecer a cultura chinesa, como os jogadores gostam de se comportar. Tive um capitão fantástico, maravilhoso. Assim como tive aqui, no meu tempo de 'não camarões', nosso Assunção, que era espetacular. A China me deu isso, não sei se melhorou um pouco a minha tranquilidade, mas gostei demais de ter passado esses dois anos e meio na China. Me deram essa situação de poder cobrar dos meus jogadores, ou poder mostrar a eles como podemos ser uma grande equipe, com a dedicação que os chineses têm quando recebem os trabalhos que a gente efetuava com eles".

Palmeiras precisa de mais trabalho dentro ou fora do campo?

"Precisa de mim como técnico, por isso que fui contratado. Tenho que trabalhar dentro e fora de campo, ter a capacidade de fazer dessa equipe uma equipe totalmente competitiva, em todos os momentos. E não posso falar sobre o que se passou porque não vivi aqui, a ética me proíbe de pensar alguma coisa. Ainda vou conhecer os atletas para depois saber como vou trabalhar. Acho que o Palmeiras, neste momento, pelo convite que me fez, gostaria que eu estivesse presente em todos os momentos, dentro e fora de campo, com meus conhecimentos e minha parte também de relacionamento, que pode existir, boa com os atletas".

Cobrança da torcida por títulos

"Uma ou outra coisa não vai sair como a torcida espera, não é assim. Não se coloca uma equipe e se diz: só porque eu tenho essa equipe, já ganhou. No futebol não é assim. Sempre pode acontecer um imprevisto. A torcida acredita que nós vamos ter uma equipe qualificada, sim, disputando com outras equipes, e posso te dizer que vi Grêmio x Flamengo e gostei muito dessas equipes, vi o jogo do São Paulo e gostei. Então tem uma série de equipes que estão qualificadas para disputar um título de Brasileiro, Sul-Americana, Libertadores. Vamos ver se no nosso trabalho conseguimos ter uma equipe equilibrada em todos os jogos".

Como lidar com o elenco

"Todos devem saber que são importantes, e a pessoa que foi escolhida para estar aqui e escolhê-los para jogar tem que ter o respaldo deles, para que eu possa também respaldá-los, principalmente fora de campo. Vou assumir o que sempre assumi: se as dificuldades apareceram, mas fizeram o que eu pedi, se têm vontade de jogar futebol... ninguém nasceu jogador e palmeirense, mas está aqui, tem um contrato, deve gostar desse trabalho e dessa camisa. É isso que quero que eles sintam. Nós estamos aqui para defender as cores do Palmeiras até o fim. Se não formos capazes de vencer, bom, mas a vontade temos que demonstrar em todos os momentos. Vou respaldá-los de qualquer coisa, desde que eu tenha esse retorno. Mas pelo que o Paulo (Turra) e o Carlão (Pracidelli) estão me passando, teremos aqui um bom relacionamento".

Cadê o Murtosa?

"O Murtosa está resolvendo uns problemas particulares, ele mesmo disse: 'Não posso te acompanhar, não quero agora, deixa eu resolver minha vida. A partir de dezembro, janeiro, depois, se estiver resolvido, te aviso'. Ótimo, é assim que nós trabalhamos, eu e o baxinho. Provavelmente, um dia ele vai aparecer aqui para incomodar, visitar a gente. Mas nesse momento ele não tem condição de trabalhar com a gente porque está resolvendo problemas da sua vida particular, e a gente entendeu".