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Petraglia comenta laços com Bolsonaro, ataca CBF e pede mudanças na lei

Petraglia falou em público sobre a relação com Jair Bolsonaro - Reprodução/TVCAP
Petraglia falou em público sobre a relação com Jair Bolsonaro Imagem: Reprodução/TVCAP

Do UOL, em São Paulo

06/11/2018 21h00

O presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia, falou publicamente pela primeira vez sobre o apoio que deu à campanha do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), quando chegou a usar a estrutura do clube para manifestações indiretas durante a campanha.

Em entrevista à Rádio Transamérica de Curitiba, Petraglia confirmou que pretende ser um agente indireto do futebol para Bolsonaro, mas negou as especulações de que poderia ocupar um cargo em alguma pasta: “Fake News (risos), que está na moda. É uma questão de princípios, nós optamos pessoalmente por apoiar o novo Governo. Não tenho nenhuma intenção. Já passei o meu tempo de político, meu tempo de empresário. Minha dedicação é ajudar o Atlético. Claro, que nós precisamos que aconteçam as mudanças no futebol”, disse.

Ele seguiu: “Para isso estou com esse governo indiretamente. Já tentamos criar a nossa liga, agora uma outra tentativa, de criar associações, e vamos continuar trabalhando para ajudar o futebol brasileiro. E obviamente em ajudando o futebol brasileiro estaremos ajudando o nosso Atlético Paranaense”, disse, para rasgar elogios ao futuro Ministro da Justiça, o paranaense Sérgio Moro, visto em jogos do Atlético na Arena da Baixada.

Petraglia disse que espera apoio de Bolsonaro para aprovar uma lei que permita que os clubes possam ter injeção de capital estrangeiro. “Não podemos querer que o novo Governo dê prioridade ao Esporte. Temos problemas seríssimos de educação, de saúde pública, de corrupção. O futebol tem que ser tratado de forma absolutamente independente”, declarou. Ele ainda se disse contrário a apoio estatal no futebol: “O que precisamos buscar no novo governo é buscar as novas leis, não depender de dinheiro público, abrirmos a nossa economia, para que venha capital estrangeiro, que venham os clubes empresas, para que vendamos o espetáculo e não os nossos artistas. Como a Inglaterra fez.” O Atlético é um dos clubes patrocinados pela Caixa Econômica Federal.

Ataque à CBF relembra julgamento de 1996

Petraglia demonstrou satisfação com a queda de personagens importantes no futebol brasileiro, como Ricardo Teixeira e José Maria Marin, mas se mostrou inconformado com a eleição de Rogério Caboclo, aliado de Marco Polo del Nero, afastado do futebol. “Eu pensei que não fosse viver para ver esse momento. Eu comecei essa briga em 96 e eu sempre me recordo da frase do meu advogado, Miguel Reale Junior, naquele julgamento: “Mario, para a história da sua vida, é melhor que esse tribunal te condene”. E 20 anos depois, ele estava certo.”

O dirigente prosseguiu: “O sistema do futebol brasileiro, da corrupção, faz parte do modelo que vinha essas épocas todas. O futebol, essa indústria que foi criada também por um brasileiro, João Havelange, que acabou morrendo no descrédito, nos deixou uma herança maldita, o seu genro. Mas o clubes não conseguem se unir o suficiente para tentar mudar esse estado de coisas. O futebol brasileiro é regido pelo direito privado. Nós conseguimos no Profut incluir mais os 20 votos da Série B. A lei foi aprovada naquele momento com pesos unitários. Ficamos com 40 contra 27 das federações. Fizeram uma assembleia que está sub-judice, da inconstitucionalidade da assembleia deles, aí mudaram os pesos, federações peso 3, série A peso 2 e B peso 1. Então ficou tudo como Dantes no quartel de Abrantes.”

O cartola voltou a apostar em Bolsonaro para agir junto à CBF: “Os governos anteriores não fizeram nada, Fenando Henrique, Lula, Dilma também. Tinha a bancada da bola. Eu acreditei, então nós vamos trabalhar muito a partir de janeiro. Hoje mesmo o senador Álvaro Dias (Podemos) deu uma declaração, então é chegado o momento de passar a limpo o futebol. E o que é passar a limpo: ter transparência, independência e botar os ladrões na cadeia. Todo o dinheiro que está lá não é relação da CBF. Exploram os clubes, os jogadores.”

Prejuízos ao Atlético são “preços a serem pagos”

Questionado pelos entrevistadores se erros cometidos contra o Atlético nos jogos do Brasileirão são parte de uma suposta retaliação às posições políticas de Petraglia, como dito pelo técnico Tiago Nunes após a derrota por 2 a 1 para o Inter no último domingo (04), o cartola respondeu: “Eu tenho princípios. Isso não tem preço. Esse custo contra a desonestidade, contra os princípios do ilícito, do que não presta, tem que se pagar, seja ele qual for. Se o Atlético está pagando, não entro nesse mérito, não me compete, está fazendo em nome da sua consciência, da instituição e em nome do todo. Se tem custo, pagamos.” 

As manifestações políticas renderam uma punição de R$ 100 mil ao Atlético, por descumprir o regulamento da CBF que exige autorização prévia para qualquer manifestação em campo.

Sobre o pênalti para o Inter, afirmou que o clube não fará nenhuma representação junto à CBF: “Tem alguma coisa para fazer? Nada. O que resulta disso? Perda de tempo. Houve, todo mundo viu. A sociedade, vocês da imprensa, que formam as opiniões, julgaram. Até providenciaram ofício, eu falei, ‘não manda, não serve nem praquilo’.”