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Ex-corintiano sofre para apagar fama de polêmico e problemas com álcool

Eduardo Ramos jogou a Série B de 2008 pelo Corinthians - Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians
Eduardo Ramos jogou a Série B de 2008 pelo Corinthians Imagem: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

27/01/2019 04h00

Cachaceiro, polêmico, encrenqueiro... Os adjetivos acompanharam o ex-jogador do Corinthians Eduardo Ramos durante boa parte de sua carreira. E não foi à toa. O meia que hoje defende o Cuiabá e recentemente ajudou o time mato-grossense a conquistar o inédito acesso à Série B coleciona episódios negativos que ainda estão na memória de muitos torcedores, em especial os rubro-negros pernambucanos, que viram, em 2011, o jogador tentar colocar fogo e depois rasgar um boné do Sport durante a comemoração do acesso do Náutico à Série A do Campeonato Brasileiro.

Ainda em Recife, mas pelo rival Náutico, o meia se envolveu em uma suposta tentativa de suborno por parte do Sport, que teria lhe oferecido dinheiro para fazer corpo mole no segundo jogo da semifinal do Pernambucano de 2011. E ainda na capital pernambucana, pelos dois clubes, o meia foi cobrado por frequentar demais a noite e abusar da bebida alcoólica.

Porém, o Eduardo Ramos que o UOL Esporte conversou não parece, nem de longe, o mesmo jogador que passou boa parte da vida profissional acumulando e se defendendo de polêmicas. Feliz no Cuiabá, apesar da menor projeção, o jogador de 32 anos hoje só quer jogar bola. Mas admite: não é fácil apagar a fama que construiu especialmente fora das quatro linhas.

"Tem coisas que só o tempo para ajeitar e colocar as coisas em ordem. Claro que prejudica [ter fama de polêmico]. Ninguém gostaria de ter fama ruim no futebol, e depois que se cria é difícil você mudar isso. Eu sempre escuto de treinadores e ex-treinadores que eu poderia estar em time maior, ter feito carreira em clubes grandes, mas eu me sinto feliz e honrado de ter vestido camisetas importantes e ter conquistado acessos e títulos. Isso para mim é muito marcante. Se poderia ser melhor ou não, não cabe a mim e não tenho essa noção", diz o meia.

"Peço desculpas até hoje à torcida do Sport"

Conversando com Eduardo Ramos, fica claro que o maior arrependimento de sua vida profissional está no episódio em que rasgou o boné da principal organizada do Sport durante a festa de comemoração do acesso à elite pelo Náutico, em 2011. Ele diz que ainda pede desculpas aos torcedores, mas alega também que acabou influenciado por pessoas que estavam em volta.

Eduardo Ramos em passagem pelo Sport - Aldo Carneiro/Folhapress - Aldo Carneiro/Folhapress
Imagem: Aldo Carneiro/Folhapress

"São coisas na vida que só o tempo para te trazer esse amadurecimento, essa noção. Eu peço desculpa até hoje à torcida do Sport. Ali a gente estava comemorando, uma noite sem dormir praticamente... Não vou dizer que ninguém me obrigou, não é isso, mas acabamos sendo influenciados por pessoas, torcedores e pessoas próximas a nós, mas sem dúvida foi uma atitude lamentável da minha parte. Isso ano cabe mais hoje. É uma falta de respeito a instituição e a torcedores. Da mesma forma como eu me desculpei naquela época, até hoje peço desculpas pela minha atitude e foi um arrependimento muito grande", recorda o atleta, que atuou em 28 partidas pelo Corinthians em 2008.

Em relação ao suposto suborno, Eduardo Ramos nega e diz até já ter esquecido o assunto: "A mim não chegou, não foi diretamente comigo. Se chegou a acontecer algo... Mas a gente sabe que no futebol acontece de tudo no extracampo. Diretoria, torcedores, quem tem acesso ao clube... Mas é algo que eu excluí da minha vida porque não chegou nada a mim, então acredito que, se aconteceu algo, foi de muito mau gosto e já excluí da minha vida".

Pediu até para não ser mais chamado de cachaceiro

Sincero, Eduardo Ramos não esconde que abusou do álcool durante uma parte da carreira. A vida boêmia fez parte de sua vida profissional e ele mesmo admite que chegou a pedir a jornalistas e torcedores para não ser mais chamado de cachaceiro. Porém, é mais uma coisa que o meia faz questão de deixar para trás, até aconselhando meninos a não repetir o que ele fez.

Meia Eduardo Ramos realiza um treinamento físico pelo Náutico - André Nery/Site oficial do Náutico - André Nery/Site oficial do Náutico
Imagem: André Nery/Site oficial do Náutico
"Somente o tempo mesmo... No futebol, quando você faz uma coisa ruim, você fica marcado para sempre. Você pode fazer dez coisas boas, mas uma ruim vai marcar mais que as boas. Eu nunca tive lesão, nunca deixei de trabalhar ou treinar. Como atleta, você precisa do corpo, estar bem fisicamente, e, sem dúvida, em algum momento deve ter atrapalhado. Mas serve de aprendizado para a vida. Hoje, vejo meninos começando e, um pouco dos conselhos que eu dou é justamente esse: aproveitar, valorizar, deixar isso de lado, porque passa muito rápido e tem que ser aproveitado da melhor maneira possível", acrescenta o jogador de 32 anos.

Corinthians: "realizei um sonho que poucos conseguem"

Eduardo Ramos foi contratado pelo Corinthians em 2008 para jogar a Série B. Ele vinha de uma passagem pelo modesto Anápolis, de Goiás, e apesar do sonho de defender o time alvinegro, não foi aproveitado como imaginava. No ano seguinte, pediu para ser emprestado para jogar mais e, depois disso, não voltou mais a vestir a camisa alvinegra. Mas não se arrepende.

"Eu sou muito grato a todo mundo da época, ao Mano, ao Andrés... Eu realizei um sonho que poucos conseguem. Tive a oportunidade de, em 2008, jogar quase todos os jogos da Série B, Copa do Brasil, semifinal e final jogando, e num clube tão grande, isso vale muito. Em 2009 já começou a mudar um pouco o investimento do clube. Chegavam jogadores de muita qualidade, de muito nome, e na verdade eu que pedi para sair para o Mano, para ser emprestado. Achei que era a melhor opção e não me sinto prejudicado de forma alguma. Não dá para dizer que não tive chances ou fui bem aproveitado. Sou muito grato a todos e foi uma oportunidade incrível na minha vida", recorda.

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Expectativa no Cuiabá: "por que não brigar por acesso"?

"A expectativa no Cuiabá é a melhor possível. Apesar de ser um clube jovem, hoje já se encontra na Série B e, dentro de suas condições, temos tudo que precisa: uma estrutura legal, uma administração bem-feita, um presidente que realmente atua, que ama o futebol, honra seus compromissos, salários em dia, então a expectativa é de fazer uma boa Série B, além de brigar pelo título estadual e fazer uma boa Copa do Brasil.

Futebol não existe uma lógica. Mas a gente tem os pés no chão e, pelo contato que tenho com a diretoria, o clube, o principal foco e objetivo é a gente se manter. Mas isso é um planejamento. Futebol a gente sabe que não existe lógica. O que importa é ter um time forte, competitivo, e, se tiver oportunidade, por que não brigar por um acesso? Colocar o clube na Série A seria algo perfeito e marcaria história em mais um clube com mais um acesso importante".

Passagem pela Grécia: "acrescentou muito"

"A ida para a Grécia foi um aprendizado muito grande. Muito novo, acho que eu tinha 20, 21 anos, foi a primeira saída, e financeiramente não era algo bom, mas foi um aprendizado bacana. Acho que tudo na vida conta e hoje eu consigo ver com outros olhos e, com certeza, acrescentou muito para a maturidade de hoje".

Corinthians, Sport, Náutico, Vitória...

"Eu me sinto feliz e lisonjeado porque Corinthians marca, mas tenho orgulho de dizer que tive a felicidade de jogar num clube como o Sport, ser campeão estadual, ser eleito o craque do Campeonato Pernambucano... É um clube que não tem a tradição que o Corinthians tem, mas é um clube enorme, de uma torcida enorme. Como no Náutico também, em seguida, conseguimos um acesso para a Série A numa campanha inédita, sem perder nenhum jogo em casa. Camisetas que marcaram. Assim como a do Vitória, tivemos um acesso em 2012, e é também um clube muito grande, de uma torcida gigantesca".

Jogar em rivais: "Em Belém foi uma cobrança absurda"

"Você defender clubes rivais é sempre uma cobrança muito grande. Foi assim em Recife, mas a pior foi em Belém. Foi uma cobrança absurda. Em 2014, no primeiro ano no Remo [depois de defender o Paysandu], foi muito difícil desenvolver um bom futebol e ganhar o respeito e o carinho do torcedor. Mas ao passar quatro anos no Remo, foi o clube onde mais me identifiquei, que eu mais tenho carinho, é um clube que eu realmente torço, tenho contato com a maioria dos funcionários e jogadores que estão lá. É um clube que eu torço muito para que cresça e que possa voltar à Série A porque merece. Tem uma torcida linda, incrível, realmente um fenômeno nas arquibancadas. É algo gratificante vestir aquela camisa e jogar com aquela torcida do seu lado. Foi bacana. Apesar da cobrança, eu me sinto feliz. E mesmo sendo rivais eu consegui sucesso".