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Menino que perdeu perna após agressão na escola por futebol encontra Cássio

Cássio ao lado de Gabriel no gramado da Arena Corinthians, antes do clássico contra o Santos - Bruno Teixeira/Ag. Corinthians
Cássio ao lado de Gabriel no gramado da Arena Corinthians, antes do clássico contra o Santos Imagem: Bruno Teixeira/Ag. Corinthians

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

11/03/2019 15h17

"Ele já sorria antes, mas agora é toda hora."

O menino Gabriel Santos, de 10 anos, voltou a viver um raro momento de felicidade ontem (10) ao encontrar seu maior ídolo em dia de clássico com estádio lotado. Ficar próximo do goleiro Cássio e ganhar atenção de outros jogadores do Corinthians antes do jogo contra o Santos em Itaquera ajudou a amenizar as dores profundas da criança, cuja perna fora amputada há apenas dois meses - além disso, ele voltou para casa com a esperança renovada. 

O jovem torcedor corintiano é natural de Caruaru, em Pernambuco, e tem de conviver com uma realidade completamente distinta à de um ano atrás. No fim de março de 2018, Gabriel foi espancado na escola durante o intervalo de um jogo de futebol improvisado com uma tampinha de garrafa. Habilidoso, ele virou alvo de três meninos, que desferiram dezenas de chutes na sua perna direita depois de serem driblados. Com medo de represálias dos agressores - dois da mesma idade e outro um ano mais velho -, chegou em casa e contou que tinha caído.

Gabriel 2 - Bruno Teixeira/Ag. Corinthians - Bruno Teixeira/Ag. Corinthians
Gabriel sorri ao ver aquecimento dos jogadores na Arena Corinthians
Imagem: Bruno Teixeira/Ag. Corinthians

Gabriel era estudante na escola municipal Professora Sinhazinha, já sofria bullying de outros estudantes e ficou em silêncio sobre a causa das dores na perna, fato que agravou o estado de saúde. A reportagem do UOL entrou em contato com a gestora da escola, mas foi informada de que ela não tinha autorização da Secretaria de Educação para comentar o caso.

"Ele disse que tinha caído na escola. Demos um remédio para ele, mas ele não melhorou. Depois de alguns dias levamos ele a uma unidade de saúde, fizeram um raio-X e disseram que tinha uma lesão no joelho. Depois ele contou o que aconteceu de verdade. Ele foi piorando e desmaiou", disse Fátima, que é vizinha da família no bairro Salgado, periferia de Caruaru.

Gabriel chegou a ficar em coma por 15 dias na UTI do Hospital Restauração, em Recife, por conta de uma infecção generalizada. Depois de passar a respirar sem a ajuda de aparelhos, o corintiano enfrentou sete meses de internação. Em janeiro, ainda com dores e sob risco de nova infecção, teve a perna direita cortada na altura do joelho.

A madrinha é hoje um dos suportes da família, constituída pela mãe, Izabel Santos, e sete filhos, incluindo Gabriel, o quarto mais velho. Desempregada, Izabel tem recebido doações para conseguir seguir em frente. Após a amputação, Gabriel ganhou uma cadeira de rodas e uma bolsa de estudos em um colégio particular até se formar no ensino médio - o garoto voltou a estudar nas últimas semanas e tem contado com uma carona oferecida pela escola, que irá durar dois anos.

Mas ainda falta muito. A casa em que vivem é pequena e inadequada para um cadeirante. Gabriel ainda precisa de acompanhamento psicológico, pois, segundo a madrinha, acorda alguns dias cabisbaixo e estressado com a situação atual. Além disso, ele sonha com uma prótese para facilitar a mobilidade. A família também deseja uma indenização. Nos últimos meses, alguns advogados ofereceram ajuda, mas as promessas não chegaram a se concretizar.

Primeiro dia de alegria real

O Corinthians soube da história de Gabriel depois que o jornalista Matheus Rocha entrevistou Gabriel para uma matéria de um portal ligado a um canal de TV filiado à Record. Sensibilizado, o repórter iniciou uma campanha nas redes sociais até chegar à esposa do goleiro Cássio, o maior ídolo do menino. O clube, então, decidiu trazê-lo para um jogo grande em Itaquera, por meio de seu Departamento de Responsabilidade Social.

Gabriel - José Manoel Idalgo/Corinthians - José Manoel Idalgo/Corinthians
Gabriel ao lado da madrinha, Fátima (à direita), e da mãe, Izabel (à esquerda), na Arena Corinthians
Imagem: José Manoel Idalgo/Corinthians

Assim, Gabriel veio a São Paulo para assistir ao clássico contra o Santos, acompanhado da mãe, da madrinha e do jornalista, que já virou um amigo da família. Todas as despesas foram pagas pelo Corinthians.

Na Arena, Gabriel vivenciou os momentos importantes do pré-jogo: presenciou o aquecimento dos jogadores, conheceu alguns deles, como os atacantes Gustagol e Vagner Love, e até entrou em campo ao lado de Cássio. "Ontem foi o primeiro dia de alegria para todos nós, porque nós vimos ele feliz de novo. Ele já sorria antes, mas agora é toda hora"", afirmou Fátima.

Gabriel e a família ainda levaram para Pernambuco uma semente de esperança. O menino encontrou Rogerinho, atacante e melhor jogador do time do Corinthians de Futebol de Amputados. "Ele percebeu que ainda pode jogar depois de vê-lo", contou Matheus.

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