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Alex relembra Luxa no Cruzeiro, recusa ao Galo e vê Athletico acima do Coxa

Alex, do Cruzeiro, comemora gol marcado contra o Fluminense no Brasileiro de 2003, vencido pelo clube mineiro - REUTERS/Bruno Domingos
Alex, do Cruzeiro, comemora gol marcado contra o Fluminense no Brasileiro de 2003, vencido pelo clube mineiro Imagem: REUTERS/Bruno Domingos

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

18/04/2019 16h00

Alex quase foi corintiano, mas o coração segue verde e branco, com tons em azul. Ídolo de Coritiba e Cruzeiro (além do Palmeiras), o meia e possível futuro técnico falou abertamente sobre Copa do Mundo, Palmeiras e até política no especial recentemente publicado pelo UOL Esporte, na última semana.

O ídolo não deixou de relembrar os tempos de glória no Cruzeiro, tampouco as rivalidades com os Atl(h)éticos, com recusa ao Galo e uma certa admiração por Mário Celso Petraglia, histórico dirigente do Furacão.

O início de carreira no Coxa teve, indiretamente, uma referência cruzeirense. "Eu vou para a seleção sub-17 em 92. E nessa seleção tinha o Ronaldo Fenômeno. No ano seguinte, o Ronaldo estreia no Cruzeiro, e no mesmo ano o Zé Elias estreia no Corinthians" cita, lembrando que já era amigo de Zé Elias antes mesmo de ambos se profissionalizarem:

"O Zé teve um período em que o pai dele foi transferido (para Curitiba) para trabalhar e o Zé jogava pelo Clube Curitibano e eu jogava pela AABB (Banco do Brasil). Fomos adversários, acho que um ou dois anos. Aí eu pensei: 'Pô, Ronaldo estava comigo na seleção esses dias, estreou no Cruzeiro. O Zé Elias era o meu adversário de futsal, está estreando no Corinthians. Vamos tentar fazer disso com que eu consiga estrear no Coritiba o mais breve possível'".

Alex estreou no Coxa aos 17 anos.

"Eu com 9 anos vou para o Coritiba e começo a frequentar o Coritiba todo o dia. A mesma paixão que eu tinha pelo Sócrates e pelo Zico, eu passo a ter pelo Tostão (meia do Coxa nos anos 80-90). E aí eu vi o Tostão, e Atletiba era gol do Tostão, e jogo grande era gol do Tostão, e eu colocando na minha cabeça: 'Eu quero ser igual a esse cara aí'. Ficava imitando ele. Aí eu passo a ser um torcedor do Coritiba para seguir aquele time, que é o time de 89, com Tostão, com Osvaldo, com Serginho, com Dias, Kazú, esse pessoal aí. E aí eu passo a frequentar o clube todos os dias, e sou um coxa-branca", contou, sobre o episódio relatado no especial, de ter uma família corintiana.

Cruzeiro em dois tempos e a briga jurídica com o Parma

Antes de brilhar no time da Tríplice Coroa, Alex teve uma rápida passagem pelo Cruzeiro e acabou voltando ao Parma, de onde saiu com direito à briga judicial.

"Nessa da minha briga na Justiça, eu assino com o Cruzeiro com a liminar da Justiça do Trabalho. Então eu vou jogar, caçam a minha liminar, não jogo. Foi assim até dezembro. Quando chega em dezembro, a Fifa me suspende. Contrato duplo, um com o Cruzeiro, um com o Parma. Só que o Cruzeiro sabia da minha situação, e eu tinha contrato com o Cruzeiro até a Copa de 2002. Só que qual foi a minha surpresa? Eu sento com o Marco Aurélio, os Perrellas, em dezembro. Eu saio de férias e eles falam para mim assim: 'Vai tranquilo. Descansa que você se apresenta dia 4 de janeiro aqui'. Falei: 'Beleza, tranquilo'. A gente tinha uns exames médicos para antecipar, para ganhar tempo da pré-temporada, 17 ou 18 de dezembro. Voltei para Belo Horizonte, fiz todos os exames médicos, sentei de novo com os Perrellas e com o Marco Aurélio. Reafirmaram que eu ficaria e eu voltei para casa tranquilão. E tinha uma reunião marcada na Fifa, em Zurique, no dia 20 de janeiro de 2002."

De repente, o negócio com o Cruzeiro faz água. "Qual foi a minha surpresa? No dia 4 de janeiro, quando eu estou no aeroporto em Curitiba, toca o meu telefone, era o Maluf, o diretor do Cruzeiro: 'Não venha, que eu teu contrato está rescindido'. Falei: 'Como assim?', 'Não, ninguém quer aqui. Os Perrellas não querem, o Marco Aurélio não quer'. Falei: 'Cara, mas eu já tô no aeroporto. Pego meu voo, pego minhas coisas e assino'. 'Não, não. Nem venha, ninguém quer te ver'. Falei tá bom. 'Só manda um representante para pegar o que é teu e tal'. Falei: 'Beleza'. Aí me deu um desespero. Falei: "Eu não tenho mais contrato com o Cruzeiro e tenho reunião na Fifa dia 20. O que que faço? E tenho Copa do Mundo daqui seis meses". Fiquei treinando em Curitiba sozinho, dia 20 fui para a Suíça."

Alex então vai ao Parma. "Quando eu chego na Suíça, o dirigente já era o Arrigo Sacchi. Aí o Arrigo Sacchi reconhece a dívida do Parma e nós fazemos um acordo. Ele fala: 'Você tem uma semana para arranjar um time no Brasil ou você vai jogar na Udinese, da Itália'. Falei tá bom. Liguei para o Vanderlei, que era o treinador do Palmeiras na época, e volto para o Palmeiras." Então há o episódio da Copa com Felipão e a ida ao Cruzeiro para a sequência de títulos.

Luxa, o maior técnico do Brasil

Luxa no CEC - Marcelo Regua / Light Press - Marcelo Regua / Light Press
Luxa: o melhor, segundo Alex
Imagem: Marcelo Regua / Light Press

Alex não pensa duas vezes em defender Vanderlei Luxemburgo como o melhor técnico do Brasil, especialmente quando perguntado se o treinador perdeu o respeito no mercado.

"O meu ele tem. E vai ter sempre. Para mim, ele é o melhor de todos. Eu vejo com tristeza (Luxa fora do mercado). Tem muito treinador ruim, muito. Tem muito treinador que se esconde atrás do calendário, tem muito treinador que você não vê nada no time dele. E continua empregado, troca de clube, sai para outro. A questão do Luxemburgo eu vejo que ele foi muito polêmico ao longo de toda a carreira. Então ele não paga pela competência, ou pela incompetência, no caso. Ele paga pela pecha que ele criou de ser controverso muitas vezes, de ser polêmico várias vezes. O colocam como arrogante, o colocam como prepotente."

Esse não é o perfil que Alex encontrou quando trabalhou com o técnico.

"Se você fizer uma pesquisa, cara, com 100 jogadores que tiveram na mão dele e na mão de outros treinadores, eu aposto com você que no mínimo 70 vão votar nele como melhor. Agora, jogadores nascidos até... eu coloco a geração do Robinho e do Diego. Jogadores nascidos até 2005, 2006. A partir dali, são jogadores que, assim, no nascimento nasceram ali em 84, 85. À partir dali, é um outro Vanderlei, é um Vanderlei que veio do Real Madrid, e aí já uma nova concepção de jogador de futebol, de jogo de futebol, comportamental. Porque as mudanças foram acontecendo e ele provavelmente não se encaixou naquilo que era a modernidade."

Coração o afastou do Galo, mas não o impede de admirar Petraglia

R10 - Nelson Antoine/AP - Nelson Antoine/AP
Ronaldinho e Alex: dupla barrada no Galo por respeito do craque à torcida celeste
Imagem: Nelson Antoine/AP

Declaradamente coxa-branca, Alex é dos raros jogadores que nunca esconderam o time mesmo atuando em outros clubes.

"Sim, não vejo problema nenhum. Antes de você ser jogador de futebol, você foi criança, você torceu para alguém. Isso vale muito para vocês também jornalistas. É uma briga... você tem que entender o seguinte, antes o cara foi criança, ele tem o time dele. 'Ah, ele vai aceitar jogar no rival de quando ele era criança?' É uma decisão dele, se ele vai querer ou não. Mas eu sinceramente, eu não vejo problema."

Ainda assim, o carinho pelo Cruzeiro não o permitiu jogar no Atlético-MG que viria a ser campeão da Libertadores. "A ideia era que eu fosse para jogar com o time do Ronaldinho. E ele (Alexandre Kalil) me explicou, vários jogadores que tinham jogado no Atlético, no Cruzeiro e tinham ido para o Atlético. E a gente conversou a respeito de história, a respeito de Cruzeiro e de Atlético. Aí ele me falou como é que o Atlético ia funcionar e que o Atlético faria. Tanto que quando o Atlético ganha a Libertadores eu pego o telefone e ligo para o Kalil. Falo: 'Olha, aquilo que o senhor me falou lá atrás realmente está acontecendo. Parabéns'. Eu não quis por um motivo bem simples. Eu falei: 'A história que eu tenho no Cruzeiro me impede de jogar no Atlético."

A superioridade recente do Athletico sobre o Coritiba também esteve em pauta.

"O Athletico abriu a diferença quando perdeu para a gente de 5 a 1, no mesmo ano de 95. Quando o Petraglia assume um posto, tira na época o Hussein Zraik, que era o presidente. E ele dá uma entrevista, eu lembro bem, na época, ele fala que o Athletico não passaria mais por aquela vergonha, a vergonha tinha sido a goleada, e que a partir dali, em dez anos ele seria campeão brasileiro, em 20 anos ele seria campeão do mundo. E foi atrás disso. Comprou onde é o CT hoje, que aquilo lá já foi várias coisas, já foi várias situações, foi convento, foi hotel. Hoje é o CT do Caju. Nesse período, eles saíram do Pinheirão, que era aquele... era difícil para eles ficarem jogando no Pinheirão. Fizeram um estádio pequeno, em 96, eles já jogam a Série A naquela Baixada menorzinha. Depois fizeram a Baixada que era só uma ferradura. Até que chegou o momento da Copa, que fizeram a Arena que a gente conhece. Então o Athletico se preocupou em olhar para o futuro. E o Coritiba, para mim, ele tem uma preocupação muito de defender mandato. Todos, sem exceção."

Alex Coxa - Heuler Andrey/Getty Images - Heuler Andrey/Getty Images
Alex pelo Coritiba: admiração pelo trabalho feito no rival Athletico
Imagem: Heuler Andrey/Getty Images

Alex continuou: "Da história do Coritiba eu excetuo só o Aryon Cornelsen, que foi o que imaginou o Coritiba um pouquinho para frente, que faz uma abertura para o estádio, faz uma coisa aqui ou outra. O próprio Evangelino (da Costa Neves, presidente campeão brasileiro de 1985), que é tido como o maior presidente da história, ele era preocupado em ganhar títulos. Ele ganhou títulos, mas quem vinha após Evangelino tinha problemas para solucionar a gestão dele passada. E assim vai indo, como é hoje. Hoje, a expectativa do Coritiba é de subir para a Série A em 2020. Ninguém imagina o Coritiba em 2025, ninguém imagina o Coritiba em 2030. Eu acho que a diferença do Athletico é aí. Ah, discussão. Como o Athletico fez, como deixou de fazer, esse é um outro ponto, mas o Petraglia e o pessoal deles do Athletico imaginou um futuro. Na minha visão, ela passa a acontecer à partir de 96, quando o Athletico retorna junto com a gente para a Série A e começa o caminho dele, e o Coritiba fica nessa de defender sempre o ano seguinte."

Agora pai, Alex procura estrutura para o caçula jogar

Alex família - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Alex com os filhos e a esposa: Felipe (à frente) agora tenta ser jogador
Imagem: Arquivo pessoal

Felipe, o caçula de Alex, começa a tentar ser jogador de futebol. Por Alex, para jogar em qualquer time que dê estrutura.

"Eu quero ver ele tranquilo, velho. Por exemplo, é o que eu sempre brinco com ele: se com 12 anos ele demonstrar o mesmo apetite, a mesma paixão e ele estiver jogando em uma boa condição, o primeiro trabalho meu como pai é arranjar um clube. Como que eu vou arranjar um clube? A minha preocupação não é o clube, a minha preocupação é quem vai treiná-lo, o que esse treinador vai passar para ele. Se for no Coritiba e o treinador que tiver lá de 13 anos, eu gostar daquilo que ele está mostrando para os meninos, pode ser o Coritiba sem problema nenhum. Porque futebol tem dois momentos, o momento do aprendizado, que é de quando o menino começa, 16 anos, e de 16 anos para frente. Então esse primeiro momento dos 11 até uns 15, 16, é importantíssimo que ele aprenda os conceitos todos que são exigidos no profissional, porque à partir dos 16 anos, se ele tiver qualidade, demonstrar qualidade para jogar, o treinador do time de cima pode puxar ele, tem que começar a jogar. E no profissional não tem tempo de aprender, tem tempo de aprimorar. A hora de aprender é aqui embaixo. Então nessa hora de aprender a minha preocupação é essa, do ambiente e do treinador, aquilo que ele pode passar para o menino."