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Como segurança do Corinthians ganhou bolsa universitária com gols do time

Juarez dos Santos conseguiu uma bolsa universitária cedida por patrocinadora do Corinthians - Divulgação
Juarez dos Santos conseguiu uma bolsa universitária cedida por patrocinadora do Corinthians
Imagem: Divulgação

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

27/07/2019 04h00

A história de Juarez dos Santos nunca mais será a mesma: aos 45 anos, ele está prestes a começar uma faculdade de educação física. Nesta semana o segurança do Corinthians passou em uma prova destinada a funcionários do clube e conseguiu bolsa de 100% em uma universidade que patrocina o uniforme alvinegro - o benefício, aliás, tem tudo a ver com o desempenho do time em campo.

Após tanto adiar os estudos, agora é finalmente a hora de "agarrar a oportunidade com unhas e dentes", segundo ele mesmo conta ao UOL Esporte.

Uma ação entre Corinthians e Universidade Brasil distribui bolsas de 100% a cada gol marcado, vitória, jogo sem sofrer gols e rodadas do Timão na liderança do Brasileirão. As primeiras rodadas já renderam 19 vagas universitárias, uma conquistada por Juarez. Não dá para saber qual gol ou vitória corresponde exatamente à bolsa dele, mas é fato que as conquistas corintianas nos últimos jogos são o que lhe permitem esta oportunidade.

Juarez conta que sua história começa de forma semelhante a de tantos outros migrantes do Brasil. Ele nasceu e cresceu em um lugarzinho esquecido pelo mundo, o município de Jussiape, no interior da Bahia, mas logo migrou a São Paulo em busca de oportunidades melhores. Desembarcou na capital paulista em 1991, aos 17 anos, sem saber quase nada de cidade grande. "Todo o mundo sabe que é difícil. Quando a gente chega de lá, é um pouco assustador porque não temos a visão que eu tenho agora, de fazer um planejamento para estudar", explica.

Em uma cidade nova, Juarez abriu mão dos estudos para trabalhar e conseguir se manter. Constituiu família, virou pai e passou a preparar para a filha Bianca o caminho que ele próprio nunca pôde percorrer. "Eu pulei esta etapa de estudos, porque foi ficando cada vez mais difícil. Hoje percebo que quem vem do Norte e Nordeste precisa quebrar este ciclo vicioso", enxerga. A responsável por dar um passo à frente foi justamente Bianca, que hoje tem sua própria família e cursa administração. "Ela já tem outra visão", aponta Juarez, que também é pai de Pablo, mais novo.

Seus passatempos e trabalhos secundários são o kickboxing e o muay thai, artes marciais em que dá aula, mas o que majoritariamente colocou comida na mesa nestes anos todos foram os trabalhos como segurança. Nas idas e vindas da área, foi convidado a trabalhar em um evento no Parque São Jorge e lá acabou efetivado pelo Corinthians, em outubro de 2018. Seria apenas mais um cargo, mas de repente virou uma ponte para a vida universitária.

"Fiquei sabendo da possibilidade de bolsa no ano passado, mas naquela época o processo para o primeiro semestre deste ano já tinha encerrado. Eu tinha interesse, então pedi para deixar meu nome na fila caso aparecesse uma oportunidade. Agora apareceu, e eu abracei com unhas e dentes", celebra Juarez, que fez a prova na Universidade Brasil na última terça-feira (23) e soube do resultado no dia seguinte. Ele agora aguarda a data de início das aulas.

A adaptação à nova etapa requer de Juarez certo malabarismo com horários. Ele trabalha no Parque São Jorge em regime de 12 por 36 horas, com turno das 7h às 19h a cada dois dias. Por isso tem combinado para sair mais cedo para a aula, compensando as horas depois. "Ainda vou conversar lá dentro, mas já estamos no caminho para ajustar", conta ele. Ao menos o trajeto até a faculdade estará facilitado: Juarez mora a 4 quilômetros do campus da Universidade Brasil em Itaquera. "Para mim é muito especial, vai agregar muito", aposta.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no quinto parágrafo desta notícia, o filho mais novo de Juarez dos Santos se chama Pablo, e não Fábio. O erro foi corrigido.

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