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De catimba na pegada a unha cortada, entenda estratégias e regras do 'braço de ferro'

Atletas competem no 34º Mundial de Luta de Braço em São Vicente - Leandro Moraes/UOL
Atletas competem no 34º Mundial de Luta de Braço em São Vicente Imagem: Leandro Moraes/UOL

Maurício Dehò

Do UOL, em São Vicente (SP)

14/09/2012 12h02

Quem pensa que braço de ferro só se disputa no bar está muito enganado. Por sinal, essa ideia é até uma ofensa para cerca de 830 jogadores que competem no Mundial de Luta de Braço - esse sim o nome considerado correto do esporte. O campeonato está sendo realizado na cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo, e queda após queda, mostra que as regras e as estratégias físicas e mentais são tão importantes quanto a força na briga pela medalha de ouro.

A origem do braço de ferro não tem uma data precisa, mas estima-se que os antigos egípcios já disputavam para saber quem tinha o “muque” mais forte. Na década de 1970 começaram os primeiros esforços para se organizar as regras e há 33 anos foi disputado o primeiro  Mundial.

“O princípio é realmente daquela coisa lúdica do braço de ferro. Como nosso futebol, não há uma criança que nunca brincou de braço de ferro. E em 1977 se resolveu criar regras unificadas e a Federaçao Internacional”, conta Humberto Panzetti, tricampeão mundial e hoje vice-presidente da entidade.

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O objetivo da disputa é claro, forçar o braço do oponente a bater na mesa. Mas, até se chegar a isso, muito se passa, mesmo que muitas lutas sejam decididas em décimos de segundo.

Entre as regras está a divisão em idade, categorias de peso – a pesagem é no dia do evento –, sexo e a mão usada, direita ou esquerda. Mas há outros detalhes também interessantes, como a exigência de unhas cortadas para evitar que atletas machuquem rivais. Assim, a mulherada pode pintar as unhas, mas só pode exibir seus estilos com elas curtas, como muitas brasileiras tem feito neste Mundial.

As mesas têm alturas e tamanhos definidos. Há também a exigência de que a mão livre segure o pino colocado nesta mesa. Já a mão e o braço que atacam tem uma série de determinações. A mais importante diz respeito ao começo do combate, em que antebraços, punhos e mãos dos competidores tem de estar alinhados. Como a disputa pela melhor pegada possível começa antes da liberação, já é um momento tenso para a luta. Depois, a movimentação é livre e o jogo de alavancas começa.

Com o jogo valendo, o cotovelo de apoio não pode sair da base, ou o duelo recomeça. Assim também acontece se as mãos se soltarem - elas são amarradas em caso de reincidência. Há também faltas, como usar o peso do ombro ilegalmente, soltar o pino ou a mão, sendo que duas delas causam eliminação.

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  • Você pode nunca ter ouvido falar no termo luta de braço. Mas com certeza está familiarizado com o que é o ?braço de ferro?. Este esporte que ainda traz consigo a imagem de uma competição de bar chega ao seu 34º Campeonato Mundial, e tem o Brasil como sede. A cidade paulista de São Vicente recebe o evento anual, que foi aberto nesta quinta-feira e vai até domingo. E, apesar do clima de gincana e até de uma roda de funk dos atletas para suportarem o atraso, tudo o que os competidores querem é mostrar que fazem um esporte de verdade.

Força nem sempre ganha luta

Tão importante quanto isso são as estratégias dos lutadores e as táticas usadas, mesmo que a definição possa ser instantânea, ou durar cerca de 30 segundos ou, mais raramente, até um minuto. Há diversos tipos de pegadas e, quando os lutadores estão tomando posição, começa a catimba para saber quem conseguirá alguma vantagem.

“Tem muita catimba, sim. Depende da pegada, há uma certa intimidação, já que você está cara a cara com o adversário. Você pode fingir que vai fazer um movimento, forçar em certo ponto da mão, e mudar para outra tática enganar seu rival, por exemplo”, diz o campeão mundial de 2004 Giuliano Pareja.

Vale notar, também, que a gama de movimentações não é tão simples quanto parece. Uma angulação diferente na mão, no punho ou no antebraço fazem toda a diferença neste jogo de alavancas.

“É na mão que um atleta sente a tática que pode usar. Por exemplo, se você está contra um atleta muito forte, precisa saber ficar mais alto do que ele, para evitar esta potência. Você tem de saber com cada atleta qual jogo você pode usar. Estudamos muito vídeos e vemos nossos rivais dentro da própria competição”, conta Clóvis Cavalo, campeão mundial e um dos competidores no adulto e masters em São Vicente.

VEJA A APRESENTAÇÃO DO MUNDIAL DE LUTA DE BRAÇO