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Novo n° 3 do mundo, Bruno Soares vê duplas como "horizonte" para o Brasil

Felipe Noronha

Do UOL, em São Paulo

07/10/2013 06h00

Gustavo Kuerten esteve pela última vez no top 10 do ranking da ATP em maio de 2002 (7°). Desde então, nenhum outro brasileiro se aproximou do topo do mundo no tênis. Até 2013, quando Bruno Soares, 31, conseguiu finalmente quebrar este tabu e, dese junho, é presença constante entre os 10 melhores em duplas. Nesta segunda-feira, ele foi além e entrou no top 3 do ranking, recorde do país na lista de duplistas - e por isso ele vê a modalidade como um "novo horizonte" para o país.

Dessa maneira, surge a expectativa: seria Soares uma espécie de "novo Guga", a principal esperança de que o tênis brasileiro crie novos nomes que consigam resultados consistentes no circuito mundial? Ele foge da comparação com o principal tenista da história do país, mas mostra esperança de que sim, seu nome possa ajudar o tênis brasileiro nesse sentido. 

"Não vou influenciar como o Guga, que foi muito maior. Mas estamos influenciando pessoas, elas torcem, assistem. E é isso que as traz para o esporte. Isso é o mais importante. Com a gente influenciando o tênis só tem a ganhar", afirma, em contato com o UOL Esporte. O uso da terceira pessoa do plural não é um modo de fugir da responsabilidade: ele a divide com Marcelo Melo, outro duplista nacional que ronda o top 10 do mundo na atualidade.

Ambos formam a dupla do Brasil na Copa Davis, e provavelmente estarão nas Finais da ATP, torneio final do ano que reúne os melhores em simples e duplas. Soares, já garantido, quebrou um tabu de 12 anos do Brasil: Guga, em 2001, foi o último a disputar a competição. E é assim que ele vê na categoria uma chance de melhora para o país.

"As pessoas vão enxergando isso como uma nova possibilidade. O jogador passa a saber que tem um novo caminho a seguir. A modalidade é diferente. Muito cara só joga simples bem, é normal. Outros têm talento diferenciado para duplas. A Índia é um exemplo. É um novo horizonte no Brasil", afirma.

BRUNO ELEGE OS MELHORES MOMENTOS DE 2013: DAVIS LIDERA

E será nas Finais da ATP que ele tentará provar este ponto. Ao lado do austríaco Alexander Peya, sua dupla desde 2012, terá como principais adversários os irmãos Bob e Mike Bryan, dupla número um do mundo, e também Radek Stepanek e Leander Paes, que bateram Soares e Peya na decisão do Aberto dos EUA. O torneio começa dia 4 de novembro e terá Londres como sede.

Porém, ele começou atuando também nas simples. "Priorizei simples até 2005, aí tive uma lesão e me afastei dois anos das quadras. Depois não tinha ranking. Tinha que direcionar e obtive bons resultados nas duplas. Resolvi focar pra ver onde podia chegar. Como fui bem, isso me impossibilitou de seguir nas simples", explica.

"Mudei um pouco meu estilo, passei a treinar e ser mais ofensivo na rede. Variava muito antes, tento ter um jogo mais agressivo nesses os últimos anos, principalmente meu voleio. Como tenista melhorei demais nesse sentido. Os resultados mostram isso, aprendi muita coisa nas ultimas temporadas. Ganhar essa confiança, o "chegar lá" melhora automaticamente seu jogo", completa.

SOARES DUVIDA DE DOPING DE NADAL: "É IMPOSSÍVEL"

  • No final de setembro, o austríaco Daniel Köllerer, banido do esporte por ter se envolvido em escândalo de apostas, acusou Rafael Nadal de doping. Para Soares ,que conviveu com Kölleres durante torneio da série Challenger no Brasil, o espanhol utilizar substância proibidas é “impossível”.

    “Quem controla é a Wada (agência mundial antidoping), não tem como burlar o sistema. Não é a ATP que controla, não tem como ter regalia para o Nadal. As pessoas precisam valorizar o Nadal, que trabalha demais. É um grande trabalhador e quem fala isso é porque quer aparecer”, opinou.

Antes das Finais, ele e Peya ainda devem atuar em Viena, Valencia e no Masters 1000 de Paris. O austríaco se recupera de contusão sentida no Aberto dos EUA (ele sentiu a lesão nas costas na semifinal, e atuou na decisão no sacrifício) e voltou a treinar na última semana - o fato contribuiu com a subida no ranking de Bruno, já que assim ele ultrapassa o próprio Peya, pois o torneio de Tóquio de 2012, que eles conquistaram, deixou de contar na pontuação (Bruno soma pontos pela conquista em Auckland, em janeiro, quando jogou com o britânico Colin Fleming.

"Tem sido uma temporada fantástica, venho conseguindo coisas bacanas. (O top 3 é) Mais um número que se soma. É motivo de muito orgulho", fala.

Independentemente do resultado em Londres, ele já tem novo foco: Rio-2016. Em 2012, ele e Melo caíram nas quartas de final. "Estou pensando nisso já, focando meu planejamento nisso. Acredito que eu e Marcelo estaremos no auge, estamos evoluindo, estamos em uma crescente", opina.

Se a medalha olímpica não vir em 2016, ele mantém a fé: "Gostaria de jogar até 2020", finaliza o novo número três do mundo.

SOARES EVITA COMPARAR CALENDÁRIO DA ATP COM FUTEBOL

  • Na final do Aberto dos EUA, Soares acabou prejudicado pela lesão de seu parceiro Alexander Peya, que contundiu músculo das costas. Com o Bom Senso FC em voga no futebol, com jogadores unidos por um calendário melhor e com menos jogos, Soares evita essa comparação, apesar do cansaço.

    “O calendário é puxado. Mas no tênis varia pelos resultados. Em 2013 ficou puxado porque todo torneio chegamos às finais. Acaba se desgastando mais e tem que saber dosar, incluir e tirar torneios. Por isso descansei essa semana. Cabe a cada um”, declarou.