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Respeito, amizade e conversa: A receita que levou Melo de volta ao topo

Marcelo Melo (à direita) e Lukasz Kubot recebem de Wimbledon - Shaun Botterill/Getty Images
Marcelo Melo (à direita) e Lukasz Kubot recebem de Wimbledon Imagem: Shaun Botterill/Getty Images

Lucas Pastore

Do UOL, em São Paulo

18/07/2017 11h17

Depois de se tornar o primeiro homem profissional brasileiro campeão em Wimbledon, Marcelo Melo começou a semana como líder do ranking de duplas da ATP. A fase de glórias se dá ao lado de Lukasz Kubot, em parceria que nasceu em outubro do ano passado. O respeito, a amizade e as conversas entre a dupla são apontados pelo mineiro como motivo para o sucesso do tenista, que voltou ao topo em sua primeira temporada completa ao lado do polonês.

Melo e Kubot jogaram juntos pela primeira vez no ATP 500 de Pequim, em outubro do ano passado, e chegaram até as semifinais da competição. Até o fim da temporada, o brasileiro ainda dividiu as quadras com Bruno Soares, Vasek Pospisil e Ivan Dodig.

A parceria foi retomada em janeiro, e Melo e Kubot jogaram juntos desde o começo do ano. Se a dupla não começou bem o ano, sendo eliminada nas oitavas de final do Aberto da Austrália e na segunda rodada em Roland Garros, a redenção veio na grama.

A boa sequência, que enfileirou títulos em ‘s-Hertogenbosch e Halle terminou com a conquista em Wimbledon. Melo se tornou o primeiro profissional brasileiro a se sagrar campeão do Grand Slam, sucedendo Maria Esther Bueno, que venceu a chave de simples em 1959, 1960 e 1964 e a de duplas em 1958, 1960, 1963, 1965 e 1966).

De acordo com Melo, a relação com Kubot, tanto dentro quanto fora da quadra, foi fundamental para que a dupla subisse de produção e se sagrasse campeã no Reino Unido.

"É importante você ter um bom relacionamento com seu parceiro. Às vezes, nos altos e baixos, é muito importante ter uma conversa aberta para saber onde a dupla pode melhorar. Acho que um parceiro que você possa conversar dentro e fora de quadra e que o jogo também se complete, que é o caso meu e do Lukasz, torna a dupla boa. A gente é diferente um do outro. Ele devolve muito bem, eu consigo ajudar ele muito na rede, nós dois temos um bom saque, então isso é muito importante para ter um equilíbrio na dupla", disse Melo, ao UOL Esporte.

"Um respeito mútuo entre os jogadores também é muito bom. O Lukasz sempre foi muito aberto e sempre acreditou muito que a gente poderia ir longe, fazer resultados importantes, como a gente vem fazendo. É muito gratificante ter um parceiro assim, e eu espero continuar jogando com ele por um tempo, porque eu venho desfrutando muito desse momento", completou.

Marcelo Melo e Lukasz Kubot disputam a final de Wimbledon contra Oliver Marach e Mate Pavic -  Clive Brunskill/Getty Images -  Clive Brunskill/Getty Images
Imagem: Clive Brunskill/Getty Images

A liderança do ranking veio após mais de um ano. A última vez que o brasileiro apareceu na primeira colocação havia sido no dia 23 de maio do ano passado. De acordo com o tenista, o respeito e a confiança que Kubot demonstrou foram fundamentais para que a marca fosse alcançada.

"O Lukasz é um cara muito gente fina dentro e fora da quadra. Ele é muito positivo, e eu acho isso muito importante. Ele está sempre querendo buscar a melhora da dupla, o que de repente ele pode fazer melhor, o que eu posso fazer melhor... A gente está sempre tendo uma conversa muito aberta, e eu tenho certeza que isso foi muito importante para a gente encontrar o caminho ideal para a nossa dupla, especialmente nos momentos difíceis que a gente teve no início do ano”, contou Melo.

“Eu estou realmente desfrutando muito esses momentos dentro e fora de quadra com ele. Ele é um jogador que me respeita muito. Ele sempre me pergunta várias coisas porque ele acredita na minha experiência. Ele sempre brincava comigo, "número 1", "vamos ser número 1", "vamos lá". É muito legal você poder jogar com uma pessoa que te respeita dessa maneira, que acredita, que sabe que você pode fazer grandes resultados como a gente vem fazendo. Isso é muito importante em uma dupla”, completou.

A experiência a que Melo se refere foi importante em Wimbledon. Apesar de ser dois anos mais jovem que seu parceiro, foi o brasileiro quem deu o conselho fundamental para que a dupla mantivesse a força mental durante a final do Grand Slam, vencida após quase cinco horas.

"Eu acho que os três jogos que a gente tinha feito antes em cinco sets foram muito importantes para a gente controlar esse jogo. Antes do jogo, eu falei com o Lukasz, e até durante, que a gente tinha que usar o que a gente passou em Wimbledon na final. Isso que é poder usar a nossa experiência, é poder usar a confiança que a gente vinha em outros torneios, usar todo aquele momento, saber que nós estávamos bem preparados, bem fisicamente", relatou.

O título foi o segundo de Melo em torneios do tipo Grand Slam. Em 2015, jogando ao lado de Dodig, o tenista foi campeão em Roland Garros.

Ainda faltam palavras

Horas após sagrar-se campeão em Wimbledon, título mais desejado de sua carreira, Melo não encontrou as palavras para descrever sua emoção. Dois dias depois, o tenista ainda tem dificuldades de expressar o que sente com a conquista garantida.

"Eu ainda continuo sem palavras. Não tenho como descrever esse momento ainda. Eu imagino que quando chegar no Brasil eu vou saber mais, como aconteceu depois de ganhar Ronald Garros também. Mas eu sei que Wimbledon é muito especial, ainda mais sendo o primeiro brasileiro a poder conquistar esse título. Então, eu realmente estou sem palavras ainda. Espero que caia a ficha o mais rapidamente possível para eu poder desfrutar o máximo possível deste momento", afirmou.