Topo

Vídeos

Cabral pagou US$ 2 milhões para comprar voto na Olimpíada, diz MPF

Do UOL, em São Paulo

05/09/2017 09h27

O Ministério Público Federal do Rio comunicou nesta terça-feira que o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, teria pagado US$ 2 milhões (R$ 7,4 milhões na cotação atual) para comprar voto na escolha do Rio de Janeiro para sede da Olimpíada.

O dinheiro teria sido repassado em outubro de 2009 para o então presidente da Federação Internacional de Atletismo, o senegalês Lamine Diack, que tinha direito a voto.

Cabral está preso em Bangu desde novembro de 2016, suspeito de receber propina em contratos públicos, conforme apuração da operação Lava Jato.

Segundo o MPF, Cabral montou esquema criminoso que envolvia Carlos Arhtur Nuzman, Arhtur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, e a sua sócia Eliane Pereira Cavalcante.

“Trata-se de um esquema altamente sofisticado, que agia internacionalmente com desenvoltura e uma engenhosa e complexa relação corrupta”, diz o comunicado do MPF/RJ.

Nesta terça, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, e na própria sede da entidade. A operação, batizada de Unfair Play, é um desdobramento da Lava Jato e investiga compra de votos da Olimpíada de 2016.
 
As autoridades cumprem mandados de prisão preventiva contra "Rei Arthur" e Eliane Cavalcante, além de onze mandados de busca e apreensão, expedidos pela 7ª Vara Federal Criminal/RJ, na cidade do Rio de Janeiro (Leblon, Ipanema, Lagoa, Centro, São Conrado, Barra da Tijuca e Jacaré), no município de Nova Iguaçu/RJ e em Paris/França. Os presos serão indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Arthur César Soares reside em Miami, nos Estados Unidos, e deve entrar na lista de procurados da Interpool.
 

MPF diz que "Rei Arthur" entrou no esquema porque visava contratos com governo

O pagamento de US$ 2 milhões veio da empresa Matlock Capital Group, do empresário “Rei Arthur”. O empresário mantinha contratos com o governo do Rio de Janeiro, dividindo propinas com Cabral.

Segundo o MPF, para compensar os US$ 2 milhões que saíram de sua empresa, "Rei Arthur" deduziu dívida de esquemas de propinas que tinha com Cabral.

“Ele nada mais fez do que repassar a propina que pagaria a Sérgio Cabral diretamente para o senegalês, em troca dos votos pela escolha da cidade-sede das Olimpíadas de 2016. Somadas as investigações realizadas pelos Ministérios Públicos Brasileiro e Francês, temos o ciclo completo de como ocorreu a venda de voto para escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016”, destacam os procuradores da força-tarefa Leonardo Cardoso de Freitas, José Augusto Simões Vagos, Eduardo Ribeiro Gomes El Hage, Rodrigo Timóteo da Costa e Silva, Rafael Barretto dos Santos, Sérgio Luiz Pinel Dias, Fabiana Schneider e Marisa Varotto Ferrari.

O MPF diz que "Rei Arthur" tinha interesse direto no esquema, pois vislumbrava, em troca, maior entrada em contratos do Estado do Rio de Janeiro. 

O MPF acrescenta: “Neste grande esquema ganha-ganha, Arthur Soares é mais um dos integrantes dessa grande organização criminosa. O esquema criminoso completa-se com a ponta faltante: a atuação do Comitê Olímpico Brasileiro, por atuação de Carlos Arthur Nuzman, figura central nas tratativas para escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Sem a presença e negociação entabulada por ele, a engenhosa e complexa relação corrupta aqui narrada poderia não alcançar o sucesso que efetivamente alcançou. Nuzman foi o agente responsável por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Cabral diretamente a membros africanos do COI, o que foi efetivamente feito por meio de Arthur Soares”, explicam os procuradores. 

Com a realização da Rio-16, o grupo político capitaneado por Cabral teve ampla possibilidade de capitalizar-se politicamente e receber milhões em investimentos para realização de obras públicas. Diversas dessas obras (Arco Metropolitano, Maracanã e Linha 4 do Metrô), anunciadas como “legado” das Olimpíadas de 2016, renderam milhões em pagamento de vantagens indevidas (propina) ao ex-governador e demais membros da organização criminosa. 

Advogado de Nuzman nega irregularidade

O MPF diz que todo o esquema de compras de votos teve Nuzman como figura central. Era ele quem teria intermediado os contatos entre Cabral e o integrante do COI (Diack). Sem ele não seria possível o esquema, frisa o MPF.
 
Horas após a Polícia Federal cumprir mandado de busca e apreensão na casa de Carlos Arthur Nuzman, nesta terça-feira (5), Sergio Mazzillo, advogado do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, afirmou que o dirigente é inocente da acusação de compra de votos na escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016. Ele ainda classificou a operação, batizada de Unfair Play, como “espetáculo midiático”.
 
"É difícil dizer qualquer coisa porque não tivemos acesso ao processo. Desde já, afirmo que ele não cometeu nenhuma irregularidade. Infelizmente, já se criou esse espetáculo midiático", disse Mazzillo.
 
Questionado pelos repórteres presentes no local sobre os indícios de compra de votos, o advogado voltou a afirmar que Nuzman é inocente.
 
"Não existem fortes indícios. Ele não fez nada. Está tranquilo e sereno", declarou.