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MPF diz que grupo de Nuzman tinha lista de propina para "nossos amigos"

Coletiva da Polícia Federal sobre prisão de Nuzman  - Leo Burla/UOL
Coletiva da Polícia Federal sobre prisão de Nuzman Imagem: Leo Burla/UOL

Bernardo Gentile, Demétrio Vecchioli e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

05/10/2017 11h36

O Ministério Público Federal (MPF-RJ) identificou o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, como um dos responsáveis por fazer a intermediação do pagamento de propina a dirigente para ajudar na escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016 e também atrelou o dirigente a uma lista de pagamentos que seriam feitos a dirigentes.

Segundo a investigação, foram encontrados e-mails que revelam pagamento de propina por parte do dirigente a um grupo conhecido como "nossos amigos". Nuzman e o dirigente geral da Rio-2016, Leonardo Gryner, foram presos na manhã desta quinta-feira no Rio de Janeiro. A Polícia Federal cumpriu mandados de prisão temporária de cinco dias dos dirigentes.

"E-mails (foram encontrados) com conteúdo revelador e determinante sobre a efetiva participação dos integrantes do COB. Demonstra a intermediação de pagamentos do lado brasileiro a Papa Diack (filho de Lamine Diack, presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo)", explicou a procuradora Fabiana Schneider.

Segundo a investigação, a primeira fase da operação Unfair Play mostrou que uma empresa ligada a Arthur Soares depositou R$ 2 milhões em uma conta ligada a Papa Diack, na véspera da eleição que escolheu o Rio como sede da Olimpíada de 2016. Mas não havia ficado "totalmente esclarecido" quem intermediou o pagamento da propina. Para o MPF, foram Nuzman e seu "braço-direito" Leonardo Gryner.

Nuzman Cabral - Reprodução/MPF - Reprodução/MPF
Imagem: Reprodução/MPF
Isso ficou comprovado a partir de e-mails trocados entre Diack, Gryner e Nuzman no fim de 2009, poucos meses depois da votação, no qual o senegalês cobra depósitos que deveriam ter sido realizados em contas bancárias em Moscou e no Senegal. Nessas mesmas contas, a empresa de Arthur Soares, a Matlock, havia feito depósitos que somam US$ 2 milhões.

Em outro e-mail, Papa Diack diz que está tendo dificuldades com um "problema" e diz que está enfrentando todo tipo de constrangimento de pessoas que confiaram no comprometimento dos senegaleses em Copenhague. Foi na capital dinamarquesa que aconteceu a escolha do Rio como sede da Olimpíada. Depois, Gryner responde pedindo desculpas e dizendo que tem um novo "patrocinador".

Para os investigadores, isso não apenas comprova que Nuzman e Gryner tinham conhecimento do fato como "fizeram todo o trabalho de intermediação". Além disso, deixa claro que os pagamentos não se limitaram a US$ 2 milhões, uma vez que foram feitos depósitos subsequentes.

Segundo a procuradora, havia uma nomenclatura específica para o grupo. "E-mails revelam que dinheiro era para um conjunto de pessoas, designados como "nossos amigos". Identificamos planilhas com contas a pagar, com destinação de dinheiro ao comitê organizador, que contratou a empresa Masan (Serviços Especializados). O fluxo deveria ser o contrário", apontou Fabiane.

No pedido de prisão apresentado pelo Ministério Público Federal, Nuzman é acusado de tentativa de ocultação de bens. Também é apontado um aumento de patrimônio de Nuzman de mais de 457% entre os anos de 2006 e 2016.

Como exemplo, o Ministério Público citou uma chave apreendida na primeira fase da operação que poderia corresponder a um cofre na Suíça, considerando que estava guardada junto a cartões de visita de agentes que trabalham como serviço de locação.

Nuzman patrimônio - Reprodução/MPF - Reprodução/MPF
Imagem: Reprodução/MPF