Topo

Atleticano supera tiro na perna, cirurgia e desemprego para ver time na final

Bruno aguarda cirurgia em hospital de Belo Horizonte após ser baleado no Paraguai - Arquivo pessoal
Bruno aguarda cirurgia em hospital de Belo Horizonte após ser baleado no Paraguai Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Oliveira

Do UOL, em Belo Horizonte

22/07/2013 11h07

Bruno Augusto da Silva é presença garantida nas arquibancadas nos jogos do Atlético-MG, especialmente quando se trata do ‘jogo da vida’, como ele mesmo define a final da Libertadores.  Mas dessa vez terá que torcer na cama de um hospital depois de ser baleado durante viagem ao Paraguai para o primeiro jogo da decisão contra o Olimpia.

Os dias de Bruno não têm sido fáceis. Está internado à espera de uma cirurgia e perdeu o emprego como vigilante ao acumular muitas faltas por causa das seguidas viagens para acompanhar o time na competição. Mas ele parece levar a situação de letra e não perde o bom humor . “Dessa vez não vai dar para ir. Mas pode escrever aí: eu vou para o Marrocos”, diz, aos risos, confiante de que o time disputará o Mundial de Clubes.

Depois de levar um tiro na perna que correu risco até de amputação, o membro da Galoucura, principal organizada do time, está internado no hospital São João, no Centro de Belo Horizonte, e aguarda o agendamento de uma cirurgia que deve ser feita até quarta-feira, data da grande decisão no Mineirão. “Estou sentindo que vai ser antes. Tenho que ver o jogo”.

Bruno sabe que tem sorte em estar vivo depois de cair em uma emboscada, segundo ele, e que sua perna saudável é um troféu mais valiosos que conquistar a América. Mas, mesmo com outras preocupações, a chance do inédito título batendo na porta do Alvinegro pela primeira vez na história insiste em martelar na cabeça.

“Não dá para não pensar. Sempre sonhei com o Atlético na final . O Atlético sempre foi visto como um time grande, como um grande nome no passado, que tem torcida grande que agita, que enche estadio, mas também precisamos de títulos”.

Para alcançar a graça, já quer fazer até uma promessa. “Eu gosto de uma cervejinha. Já pensei em prometer ficar sem beber até o fim do ano. Mas se ganha na quarta, como é que não bebe? Vou ter adiar um pouquinho”, brinca.

Bruno está internado desde sábado no hospital São José, após ser transferido  do hospital Risoleta Neves pela dificuldade de atendimento e a longa espera na fila para uma cirurgia que já tinha 150 pessoas.  Ele precisa colocar pinos e corrigir a lesão gerada na perna por um tiro na canela que quebrou o osso e gerou uma fratura exposta. Enquanto não vai para a mesma de operação, se locomove com uma cadeira de rodas e usa uma tala na perna que está enfaixada.

Bruno diz que caiu em uma emboscada formada por torcedores do Olimpia e policiais paraguaios pouco depois de deixar o estádio Defensores del Chaco, palco do primeiro jogo da decisão, na última quarta-feira. Ele conta que estava em um dos três ônibus alugados pela Galoucura que pegaram uma estrada para voltar ao Brasil, quando os veículos começaram a ser alvo de pedradas e coquetéis molotov.

Os torcedores desceram do ônibus e começaram uma grande briga com os rivais. Ele afirma que quando a torcida do Olimpia recuou e ficou acuada, os policiais entraram em ação já dando tiros com arma de fogo.

Uma das balas acertou Bruno que começou a perder muito sangue na perna e foi levado pelos companheiros a um hospital. Mas a situação precária o assustou. “Tinha enfermeiro sem luva, fiquei com medo, queriam fazer a cirurgia, mas achei que poderia ter complicações. Só melhorei quando o consulado entrou em ação. Depois fui atendido por um médico paraguaio que salvou minha vida e pediu desculpas pelo povo paraguaio”.

O episódio gerou grande repercussão. Revoltados com o que aconteceu, torcedores do Atlético-MG criaram um evento nas redes sociais com a intenção de organizar uma vingança contra os rivais que vierem a Belo Horizonte. O Olimpia foi à Conmebol pedir garantias de segurança e chegou a ameaçar não entrar em campo na quarta-feira.

Bruno diz que não quer qualquer tipo de revanche. “O que sinto por eles é pena. Não quero que eles passem o que eu passei. Vi a pobreza. Criança pegando resto de comida no chão depois do jogo. É algo horrível”.