Depois de 'mendigar' em Munique, Borussia sonha com bi europeu

Surpresa não é ver o Borussia Dortmund indo longe na Liga dos Campeões da Uefa de 2012/13, já que a equipe do berço industrial alemão, o Vale do Ruhr, venceu o Campeonato Alemão duas vezes nas últimas três temporadas e recebeu elogios ao redor da Europa por seu estilo de jogo envolvente e direto. Notável mesmo é saber que nesta quarta-feira, a partir das 15h45 (horário de Brasília), o clube que mede forças com o poderoso Real Madrid por uma vaga na final de Wembley é o mesmo que há 10 anos precisou mendigar junto ao principal rival para evitar a falência.

Ironia das ironias, o rival em questão, o Bayern de Munique, é quem está do outro lado chave do torneio. Em 2003, foi um empréstimo de €2 milhões do principal clube alemão que permitiu ao Borussia cobrir alguns buracos no orçamento e evitar uma punição ou mesmo um fechamento de portas. Um quadro de caos financeiro alimentado por altos salários de jogadores e um desastrado esquema de emissão de ações na bolsa de valores praticamente arruinou o clube campeão europeu de 1997.

A salvação só foi garantida pela venda de seu estádio, o Westfallenstadion, para um grupo imobiliário, e por um trabalho de saneamento financeiro cujo efeito imediato foi uma série de desempenhos medíocres dentro de campo. Quando a equipe amarelo-preta ficou em 13^o lugar na Bundesliga de 2008, sua diretoria sonhava alto mas podia bancar pouco. Foi esse cenário que Jurgen Klopp mergulhou em 2008 ao aceitar o convite para assumir o cargo de treinador.

Longe de ser um completo desconhecido, pois levantara algumas sobrancelhas na Alemanha ao levar o pequeno Mainz para a Copa da Uefa de 2005, Klopp tampouco estava com a estrela em alta depois de o Mainz ter sido rebaixado no final da temporada 2006/7. Mas o homem apelidado pela mídia alemã de "cientista louco" se encaixou como uma luva na filosofia de austeridade em Dortmund. Sem estrelas, apostou na base e num esquema tático marcado pela movimentação coletiva e uma ênfase espartana em treinos, com exercícios pouco ortodoxos de equilíbrio e coordenação motora.

"É importante que jogadores saibam pensar no que estão  fazendo. Claro que não é tão simples. Nos meus tempos de jogador, por exemplo, tinha uma cabeça digna da Bundesliga, mas a habilidade de um zagueiro de várzea", brinca o alemão, numa das muitas frases de efeito que ajudaram a reforçar a imagem de excêntrico reforçada pelos óculos ‘’nerd’’ e pelo comportamento de um adolescente hiperativo à beira do campo.

Beneficiando-se de um grupo jovem (a média de idade do elenco do Borussia é de 24 anos), Klopp teve tempo para arquitetar a revolução do time. Em sua terceira temporada, colheu os frutos: o Borussia conquistou seu primeiro título alemão desde 2002, repetindo a dose na temporada de 2011/12, quando coroou o calendário com chave de ouro ao golear o ex-credor Bayern por 5 a 2 na final da Copa da Alemanha.

No front europeu, o Borussia tem sido uma das sensações da Liga dos Campeões. Sobreviveu ao grupo da morte, em que tinha a companhia de Real Madrid, Manchester City e Ajax, passando no mata-mata por Shakhtar Donetsk, que ajudara a eliminar o Chelsea (atual campeão europeu) e teve uma combinação de coragem e estrela para superar o Málaga – o jogo foi decidido com dois gols nos acréscimos do segundo tempo.

O diagnóstico até agora tem sido de que os meninos de Klopp podem estar sentindo a falta de experiência. Mas não é especulação dizer que estão diante de sua grande chance europeia. Até porque um desmanche desponta: Mario Goetze, um dos principais jogadores do Borussia e da seleção, já foi negociado com o Bayern de Munique, que também está numa fila de interessados pelo centroavante polonês Robert Lewandowski.

Klopp é outro que também pode sair. Embora tenha contrato com o Borussia até 2016 ele interessa ao Chelsea e mesmo ao Real, seu adversário desta quarta-feira.