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Borussia vive lua de mel com Dortmund e vira única atração turística da cidade

Adriano Wilkson

Em Dortmund (Alemanha)

05/05/2013 06h00

Às 18h45 do último sábado, a Hohe Street, principal via de acesso ao Westfalenstadion, estava em silêncio quase absoluto. Não se viam pessoas nas largas calçadas. Poucos carros. Em ou dois, eles cruzavam o asfalto em intervalos de dez, quinze segundos, silenciosos. Só o que se ouvia era uma vibração vinda do horizonte, cruzando os jardins que se coloriam de primavera: uma melodia contínua, ascendente, incansável.

Era um dos maiores estádios da Europa pulsando a 200 metros de distância. Dos 600 mil habitantes de Dortmund, quase 15% estavam dentro do estádio ou em suas imediações, cantando a melodia que se ouvia de longe. Outros tantos se espremiam em bares e pubs, hipnotizados por grandes telas de TV.

Era a prova de que Dortmund vive, hoje, uma verdadeira lua de mel com seu time. Após vencer um processo falimentar e reencontrar o caminho do sucesso com dois títulos alemães seguidos, o Borussia voltou a ser a principal atração da cidade em que nasceu. Tudo isso graças à catarse causada pela boa campanha na Liga dos Campeões.

Desde que o time começou sua arrancada rumo à final do torneio europeu tem sido assim. E deve continuar sendo ao menos até 25 de maio. Neste dia, os rivais Borussia e Bayern de Munique, que empataram em 1 a 1 neste sábado, voltarão a se enfrentar no jogo mais aguardado do ano: a decisão do título em Wembley, Londres, a primeira final de Champions entre duas equipes alemães.

No centro do mundo

O sucesso recente do Borussia Dortmund levou esta pequena cidade ao centro do futebol europeu. Sem grandes atrações turísticas, Dortmund anda colhendo os frutos plantados pelo time nos campos da Champions League: em jogos grandes como o de sábado, a cidade recebe muitos estrangeiros que chegam para tentar responder à pergunta fundamental: o que é que o Borussia tem?

“Tenho vindo sempre aqui nos últimos fins de semana”, diz o holandês Rutge Borst, torcedor do Twente, um copo de cerveja na mão, em um bar ao lado do Westfalenstadion. “Já estive lá dentro, é incrível, mas a cerveja aqui é ainda melhor.”

Torcedores do Bayern também cruzaram o país e compareceram em grande número ao estádio, se misturando sem constrangimento à muralha amarela e preta que escoava pelos jardins do Westfalen (batizado oficialmente como Signal Iduna Park, graças ao patrocínio de uma empresa de seguros).

Os poucos hotéis da região faturam com o turismo boleiro e aproveitam para elevar os preços em dia de jogo. Neste fim de semana, havia apenas uma acomodação na cidade oferecendo camas por menos de 100 euros, em quartos compartilhados com até cinco pessoas.

O poder público também entrou em campo, de olho na oportunidade de aquecer a economia local, herdeira de um processo de industrialização de médio porte. A prefeitura já prometeu que no dia 25 instalará um telão gigante pra que locais e turistas assistam à final em Wembley.

Em caso de vitória, uma carreata e um carnaval fora de época já estão pré-agendados para o dia seguinte, a exemplo do que aconteceu no ano passado, quando o Borussia foi bicampeão nacional.

Muralha amarela

Com a impressionante média de 80.451 pessoas por jogo, o Borussia é o time europeu com os torcedores mais assíduos. A muralha amarela, como é conhecido o setor atrás de um dos gols do Westfalen, impressiona não só pelo tamanho, mas pela criatividade de seus membros. 

Em abril, em um jogo contra o Málaga pela Champions League, eles apresentaram ao mundo um mosaico em três dimensões.

No sábado, a torcida também mostrou que não vive só de amor. A raiva contra o meia e anti-herói Mario Götze se traduziu em protestos nas arquibancadas e camisetas com seu nome riscado. 

Mas foi até pouco: na semana passada, homens adultos e com barba feita, sentindo-se mortalmente traídos, haviam queimado em público uniformes do antigo ídolo.

Tudo porque, pecado dos pecados na ética do futebol, Götze trocou o amarelo e preto do Borussia por um salário maior e a chance de ser treinado por Pep Guardiola no arquirrival - o ex-técnico do Barcelona assumirá o time de Munique na próxima temporada.

Mas o torcedor do Borussia não tem muito motivo para estar infeliz, mesmo após o empate com sabor de derrota em casa. O time está em alta. E a união entre arquibancada e campo parece não ter data para acabar.

A presença maciça da torcida é o reflexo de uma reviravolta administrativa que transformou um ex-campeão mundial à beira da falência em 2005 em uma potência do futebol. Do fundo do poço, o Borussia precisou pedir dinheiro emprestado de rivais (como o próprio Bayern) para se reerguer.

Oito anos depois, a equipe, sua fanática torcida e a modesta Dortmund se preparam para chegar novamente ao topo do mundo, dessa vez alçando voo a partir de Londres.