Topo

Dadá Maravilha vira alvo de atleticanos por criticar fase ruim do clube em programa de TV

Vestido de coelho, Dadá paga aposta feita durante o programa Alterosa Esporte - Gustavo Andrade/UOL Esporte
Vestido de coelho, Dadá paga aposta feita durante o programa Alterosa Esporte Imagem: Gustavo Andrade/UOL Esporte

Bernardo Lacerda

Em Belo Horizonte

05/08/2011 07h00

Um dos maiores ídolos da história do Atlético-MG, o tricampeão mundial Dadá Maravilha encontrou uma forma criativa de se manter no mundo do futebol. Ele é a principal atração do Alterosa Esporte, programa na hora do almoço exibido ao vivo pela afiliada do SBT em Minas. Representante atleticano na bancada (que tem ainda um cruzeirense e outro americano), o ‘Peito de Aço’ virou uma espécie de torcedor profissional. Recentemente, o folclórico ex-jogador vestiu-se de palhaço e chorou no ar como desabafo pela situação do Atlético-MG.

  • https://e.imguol.com/esporte/futebol/2011/07/07/dada-maravilha-se-veste-de-palhaco-e-chora-por-ma-fase-do-atletico-1310071927335_300x300.jpg

    Dario revela que se vestir de palhaço foi a forma que encontrou para expressar tristeza por fase do Galo

“Com o futebol que os jogadores estão apresentando, me sentia quase como um palhaço em torcer. Eu chorei no programa de tristeza”, contou Dadá, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, quando lamentou que suas críticas à situação atual do seu time de coração sejam mal compreendidas por boa parte da torcida atleticana. “Hoje, passo na rua e tem torcedor do Atlético que me xinga de tudo quanto é jeito, me chama de invejoso, fala que estou com raiva do Atlético, só porque eu critico o time”, acrescentou.

Depois de encerrar sua carreira em 1986, no União de Rondonópolis (Mato Grosso), Dario, que além do Atlético-MG defendeu outros grandes clubes como Internacional, Flamengo, Sport, Bahia e Coritiba, entre outros, tentou uma carreira de treinador, mas se descobriu como um comentarista que ‘fala a linguagem do torcedor’. “Ninguém queria o Dadá como treinador”, reconheceu o autor do gol do maior título conquistado pelo alvinegro, o Campeonato Nacional, em 1971.

UOL Esporte: Como é representar uma grande torcida em um programa de esportes que mexe com a paixão do torcedor?

Dadá: É uma situação prazerosa ao extremo, mas muito complicada. Estou lidando com pessoas que conhecem a minha vida no Atlético, que sabem da minha história no clube. Trabalho com a paixão do torcedor e quando se mexe com isso é muito complicado. Mas eu posso representar muito bem esta torcida, conheço este clube como ninguém. Posso falar tudo o que acontece, o que o clube representa, pois eu sou atleticano de coração. O Atlético é a minha razão de viver, fica atrás apenas do amor que tenho pelos meus filhos. Eu escrevi a história do Atlético, eu ajudei este time. Posso representar muito bem o clube, mas é complicado quando se mexe tanto com emoção de pessoas, com uma paixão como é o futebol.

UOL Esporte: O seu papel é para tentar dar voz ao torcedor? Preocupa-se com isso?

Dadá: Claro, eu escuto o torcedor, sei o que eles querem, o que eles sentem, pois eu sou um torcedor. Não sou daqui, sou carioca, mas aprendi a amar este clube. Sou atleticano, sou mineiro de coração, então eu sei o que passa, o que todos sentem. Quando o Atlético perde eu fico sem dormir, sem comer direito, minha vontade é não sair de casa, ficar o dia todo trancado, com celular desligado, sem conversar com ninguém. Mas é difícil defender o Atlético hoje. É como fazer omelete sem ovos. Não tem mais justificativa para o time não render. Vou falar que é azar? Mas vejo o azar relacionado a competência. Só tem sorte quem é competente. Você não via Dadá, Pelé, Tostão, Romário perderem gols, culpar a falta de sorte, pois a gente sabia fazer gol, a gente não perdia, então, tinha muita sorte, pois era competente. O Atlético, hoje, não é. Antigamente não tinha isso. O Atlético ia ao Rio de Janeiro e vencia. Em São Paulo, no Sul, vencia também. Hoje não acontece isso e a culpa é do juiz que roubou, da falta de sorte, de lesão.

Quando o Atlético perde eu fico sem dormir, sem comer direito, minha vontade é não sair de casa, ficar o dia todo trancado, com celular desligado, sem conversar com ninguém. Mas para mim é difícil defender o Atlético, falar do Atlético, é como fazer omelete sem ovos. Não tem mais justificativa para o time não render

UOL Esporte: Você se considera um torcedor símbolo do Atlético-MG?

Dadá: Não, eu sou uma pessoa que graças a Deus teve a sorte de escrever a história do Atlético. Mas sei que o Atlético é muito maior do que o Dadá. Sou um grãozinho perto do que é o Atlético. Eu não tenho poderes, não tenho amizade. Na verdade, sou muito mais amigo do Perrella (Zezé, presidente do Cruzeiro) do que de dirigentes dentro do Atlético. O torcedor não entende isso, acha que eu posso fazer mágica para salvar o time, que posso chegar até a diretoria e cobrar. Não posso. O que eu posso fazer é como bom cristão, rezar e pedir à Deus que tenha ainda mais bondade com o Atlético. Mas tem muita coisa errada. Há dez anos o clube vem contratando vários jogadores e não monta um time forte. Todo mundo que sai daqui dá certo em outros clubes. Na minha época não era assim, todo mundo vinha para o Atlético para arrebentar. O Atlético é o time mais fácil de jogar do mundo. Se você tiver raça e der carrinho, der o sangue, a torcida te considera ídolo.

UOL Esporte: Você tem um retorno dos atleticanos? E os torcedores cruzeirenses como o tratam nas ruas?

Dadá: Eu ando na rua e sempre me param, todos torcedores de futebol, para conversar, para me cobrar e até para xingar. Estou vivendo um momento na minha vida engraçado. A torcida do Atlético me xinga quando eu critico o time. Sou chamado de invejoso. Antigamente, a torcida do Cruzeiro me odiava, andava na rua e me xingavam de tudo. Um dia, estava com o meu filho andando, um torcedor me xingou e eu fiquei quieto. Meu filho se revoltou e perguntou se eu não ia fazer nada. Falei para ele que ia conquistar a torcida do Cruzeiro. Um dia no programa, perguntaram quem era o melhor goleiro do Brasil e eu respondi que era o Fábio e que ele tinha de ser titular da seleção brasileira. Depois disso, a torcida do Cruzeiro passou a me respeitar, na rua me param e falam que gostam de mim. As mulheres cruzeirenses me beijam, abraçam, tudo mudou. Então, estou vivendo um momento que nunca esperei. Sou amado por grande parte da torcida do Atlético, odiado por alguns e também amado por torcedores do maior rival, é muita felicidade.

  • Divulgação

    Dario é um dos maiores ídolos da história atleticana e fez o gol do título do Campeonato Brasileiro de 71

UOL Esporte: Você chegou a se vestir de palhaço, chorou durante o programa, tudo por causa do momento do Atlético. Qual foi a reação ao seu protesto?

Dadá: Eu me vesti de palhaço para tentar expressar o que eu estava sentindo. Sempre que eu andava na rua me cobravam para dar resposta ao momento do time. Com o futebol que os jogadores estão apresentando eu me sentia quase como um palhaço em torcer. Eu chorei no programa de tristeza. Perguntaram o que eu sentia, o que podia falar de um time que estava tão mal no Brasileiro. Não consegui segurar a emoção. Com a angustia, acabei chorando. A repercussão foi muito grande, os torcedores falaram que também se emocionaram comigo, que eu represento bem o Atlético. Mas é muito complicado ter o time nesta situação e não poder fazer nada.

UOL Esporte: Você disse, na ocasião, que seu celular não parava de tocar com provocações de pessoas de todo o Brasil. Isso continua?

Dadá: Continua, a cada derrota piora, é mais torcedor me ligando para provocar, para fazer chacota com o Atlético, comigo. Não aguento mais. Não é fácil  receber ligações o dia todo, passar na rua e torcedores, amigos tirarem sarro de você, do seu time. Quando eu era jogador eu podia responder em campo. Um torcedor gozava o Dadá, eu ia no jogo seguinte com raiva e guardava três gols, dava a resposta. Hoje, eu não posso, dependo do time jogar bola, dos outros responderem em campo, mas não tem acontecido isso.

UOL Esporte: Acredita que por ser um torcedor oficial, que aparece na televisão e ser um ex-jogador com história, pode ser mais ouvido por pessoas ligadas ao clube?

Dadá: Eu acho que eu deveria ser mais ouvido, sim. Não digo ser influente no clube, nada disso. Mas tentar ajudar a melhorar. Modéstia a parte, não existe ninguém que conheça o Atlético como eu conheço. Fui jogador, tive a sorte divina de escrever a história mais bonita do clube (campeão Brasileiro de 1971), conheço dentro e fora de campo, conheço a torcida, sou ouvido, a torcida me ama. O torcedor acha que eu tenho participação no Atlético, que posso ir até a diretoria e falar, mas não tenho contato com ninguém. Sou apenas um torcedor, um comentarista e um ex-jogador do clube. Cobram na rua para que eu faça milagre. Querem que eu cobre jogadores,  dirigentes, que eu tire o time do buraco. Mas eu não posso fazer nada além do que eu já faço. Eu apenas torço, rezo para que dê certo.

  • Fernando Santos/Folha Imagem

    ??Modéstia a parte não existe ninguém que conheça o Atlético como eu conheço. Fui jogador, tive a sorte divina de escrever sua história mais bonita?

UOL Esporte: Como um dos maiores ídolos da história do Atlético não teme que sua imagem possa ficar desgastada com essa exposição como torcedor?

Dadá: Claro, pode sim. Hoje, passo na rua e tem torcedor do Atlético que me xinga de tudo quanto é jeito, me chama de invejoso, fala que estou com raiva do Atlético, só porque eu critico o time. Mas estou no meu papel, tenho de criticar, apontar o que não está certo. Todo mundo pode criticar, mas o Dadá não pode.

UOL Esporte: Você já atuou como comentarista, sem ser tão associado ao Atlético, na Rede Globo? Como foi a experiência?

Dadá: Foi excelente, eu fui considerado na Copa do Mundo de 2006 o principal comentarista da Rede Globo, eu conseguia prever os gols, os resultados antes de acontecerem. Eu não errava quase nenhum. Todo mundo ficou impressionado, eu era muito querido por lá. Ganhei esta indicação lá, a minha bola de cristal funciona mesmo. Na Alterosa também é assim, eu consigo acertar resultados, comentar sobre algo que vai acontecer. A passagem pela Globo foi muito importante, um momento bom para mim, poder comentar vários jogos, inclusive da Copa do Mundo.

UOL Esporte: Você já passou também pela Record e retornou à Alterosa (SBT). Por quê? Tem mais liberdade nessa emissora?

Dadá: A Alterosa é a minha casa, foi lá que tudo se iniciou. O formato do programa me ajuda a fazer o que sei, que é comentar sobre o Atlético. Eu conheço a história, eu ajudei a escrever esta história no clube, então, posso falar de carteirinha sobre isso. Para mim é fácil ter o conhecimento do Atlético, mas é complicado falar sobre o time nesta situação calamitosa que se encontra.

UOL Esporte: Você já se vestiu de palhaço, He-Man, coelho, entre várias outras fantasias. A iniciativa é sempre sua? A emissora sugere? Você é ‘dirigido’ durante o programa ou é tudo na base do improviso?

Eu não tenho poderes no Atlético, não tenho amizade, na verdade, sou muito mais amigo do Perrella (Zezé, presidente do Cruzeiro) do que de dirigentes dentro do Atlético. O torcedor não entende isso, acha que eu posso fazer mágica para salvar o time, que posso chegar até a diretoria e cobrar, ajudar e não posso. O que eu posso fazer é como bom cristão, rezar e pedir à Deus que tenha ainda mais bondade com o Atlético.

Dadá: Não, tudo aconteceu com ideia minha. Eu posso falar o que quiser, digo que sou escravo da minha palavra, tudo o que falo tenho de ter certeza. Mas eu sou comedido, mais tranquilo. Eu falo o que me vem à cabeça, mas respondo por isso. Não falo mentira, apenas o que eu sei, o que eu posso falar. É quase como se fosse 2 e 2 são quatro. Falo o que é verdade. Mas antigamente era muito mais fácil poder falar, porque eu falava, provocava e cumpria em campo, me defendia. Falava que ia arrebentar com o Flamengo, com o Cruzeiro e entrava em campo e fazia os gols. Hoje não. Falo e dependo do time ajudar, é muito mais complicado.

UOL Esporte: Atuar como uma espécie de torcedor profissional foi a forma que você encontrou para continuar ligado ao futebol? Você tentou se inserir no futebol de outras maneiras e não conseguiu?

Dadá: Fui treinador no Amapá e levei o time a ser campeão, coisa que não acontecia há anos. Depois fui para São José e fui campeão também, então todos os times que eu treinei fui vencedor. Mas eu não tive as mesmas oportunidades na carreira, era uma época diferente. Quando eu saí desses times, percebi que ninguém queria o Dadá, ninguém falava do Dadá como treinador. Procurei outra maneira de aparecer e foi como comentarista de futebol e que deu muito certo. Hoje, tenho muita identificação com o futebol, fora de campo também, como torcedor que fala o que o torcedor espera ouvir. Realmente como o torcedor que tem uma bancada para poder falar por eles.