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Presidente há um mês, Marin impõe seu estilo na CBF em meio a pressão de opositores e gafes

Mais simpático e receptivo, Marin busca novas alianças para tocar projetos próprios - REUTERS/Ricardo Moraes
Mais simpático e receptivo, Marin busca novas alianças para tocar projetos próprios Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/04/2012 06h00

Há exatamente um mês, o então vice-presidente da CBF José Maria Marin convocou a imprensa e leu a carta de renúncia definitiva de Ricardo Teixeira ao comando da entidade máxima do futebol nacional.
 
No mesmo evento, Marin assumiu oficialmente a presidência da confederação. Em seu discurso, disse que daria “continuidade à gestão de Teixeira” e que não faria grandes mudanças na CBF.
 
O tempo passou e, apesar da promessa de continuidade, Marin vem impondo pouco a pouco seu estilo pessoal à CBF. Diferentemente de seu antecessor, ele recebe frequentemente presidentes de clubes e federações de todo o país e procura atender melhor a imprensa. Também se mostra mais bem-humorado que o antigo presidente da CBF e comete, inclusive, algumas gafes com piadas em eventos públicos.
 
Confira abaixo algumas características do “jeito Marin” de comandar a CBF e alguns de seus projetos para a entidade e o futebol brasileiro.

CBF MAIS PAULISTA

José Maria Marin nasceu em São Paulo e construiu no estado toda sua carreira política. Chegou a ser governador e, depois, assumiu a presidência da Federação Paulista de Futebol (FPF). É na FPF que Marin tem seu maior polo de apoio. O presidente da federação, Marco Polo Del Nero, é um aliado muito próximo de Marin e tem ganhado cada vez mais importância na CBF. Del Nero acompanha Marin em compromissos e, com sua ajuda, assumiu um cargo na Fifa, a despeito de protestos de alguns presidentes de federações.

CBF MAIS ABERTA AOS CARTOLAS

Pressionado pela oposição, que o acusa de favorecimento a paulistas, Marin resolveu abrir a CBF aos cartolas do futebol nacional. Temendo uma revolta dos presidentes tidos como "rebeldes", que chegaram a cogitar uma nova eleição na confederação, Marin passou a receber pessoalmente e com frequência todos os dirigentes do futebol que o procuram. Chegou, inclusive, a anunciar reformas na sede da CBF para atender melhor os cartolas. Até mandou construir uma sala para que eles possam trabalhar quando vão à confederação.

CBF COM NOVA SEDE

Mesmo com as reformas na sede da CBF, Marin já disse que não está satisfeito com o local da confederação. Segundo ele, a sede da entidade, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, não é mais adequada. Por isso, Marin já anunciou que a CBF sairá de lá assim que possível. Ainda neste ano, a CBF deve mudar-se para a sede do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 (COL), que ficará no Riocentro. Marin também quer agilizar a construção de uma nova sede permanente para a CBF, que também ganhará um novo centro de treinamento e novo espaço para coletivas de imprensa.

MARIN E OS JORNALISTAS

José Maria Marin é mais simpático à imprensa que seu antecessor, Ricardo Teixeira. Desde que assumiu o cargo, já concedeu duas entrevistas coletivas, e nelas não se recusou a responder a nenhuma pergunta dos repórteres, nem mesmo sobre o caso do suposto roubo da medalha na cerimônia de premiação da Copa São Paulo. Nas entrevistas, Marin ainda é mais bem humorado que Teixeira e costuma fazer algumas piadas, nem sempre tão bem recebidas.

MARIN E AS GAFES

Desde que assumiu a CBF, Marin já cometeu algumas gafes em eventos públicos. Na última coletiva de imprensa de que participou, anunciou que a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, seria a chefe da delegação da seleção feminina de futebol na Olimpíada de Londres e perguntou em tom de brincadeira: "Temos que levar um cozinheiro. Sabe cozinhar?". Patricia respondeu secamente que não cozinha e, de quebra, disse que iria "pensar" sobre o convite para a Olimpíada. Antes disso, no dia em que assumiu a presidência da CBF, Marin também disse que seria um prazer trabalhar com o "fenômeno Romário" na organização da Copa do Mundo de 2014. Quem faz parte do comitê organizador do Mundial, porém, é o ex-jogador Ronaldo.

CBF E A SELEÇÃO

Apesar de Marin ter mantido toda a direção da CBF empossada por Teixeira, ele já demonstrou que não está muito comprometido com a manutenção do comando da seleção brasileira. Mesmo dizendo que está satisfeito com o trabalho do técnico Mano Menezes, Marin não garante que ele será mantido no cargo em caso de derrota na Olimpíada de Londres. "O futuro a Deus pertence", disse ele quando questionado sobre o assunto. Contrariando o diretor de seleções Andres Sanchez, Marin acredita que a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos é uma das prioridades para a seleção. Chegou a parabenizar jogadores que disseram ter como meta a Olimpíada de 2012.

CBF E A ARBITRAGEM

Ainda sobre futebol, Marin anunciou que uma de suas maiores preocupações é a arbitragem. Em um mês na CBF, o novo presidente já criou uma ouvidoria e uma corregedoria para tratar do assunto. Deu a elas independência para apurar erros em jogos no país. Marin também quer colocar mais árbitros em partidas de futebol dos torneios organizados pela CBF, como o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Por isso, encaminhou à Fifa um pedido para que esses jogos possam contar também com um par de árbitros de linha, que ficam ao lado dos gols.

MARIN E A POLÍTICA

Há um mês na presidência da CBF, Marin já foi duas vezes ao Congresso Nacional. Na primeira, poucos dias após sua posse, encontrou-se com parlamentares da chamada “bancada da bola”. Nesta quarta-feira, foi à Câmara falar da preparação para a Copa a deputados federais. Um dos que receberam Marin em Brasília foi o ex-jogador e agora deputado Romário. Inimigo declarado de Ricardo Teixeira, Romário aplaudiu Marin e disse “conte com meu apoio”.