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Volta por cima de Ronaldinho reforça tradição atleticana de recuperar 'estrelas cadentes'

Ronaldinho e Jô comemoraram a volta por cima no Atlético, que mantém tradição - Bruno Cantini/Atlético-MG
Ronaldinho e Jô comemoraram a volta por cima no Atlético, que mantém tradição Imagem: Bruno Cantini/Atlético-MG

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Vespasiano (MG)

15/11/2012 06h00

A recuperação para o futebol de Ronaldinho Gaúcho, que em pouco mais de cinco meses após sua chegada ao Atlético-MG transformou a desconfiança em reconhecimento, está longe de ser caso isolado. O alvinegro mineiro defende uma espécie de tradição em ajudar jogadores a dar a volta por cima. A lista é extensa e contempla, entre outros, Marques, Guilherme, Robert e Valdo, na década de 90 e início dos anos 2000. Mais recentemente, os atacantes Diego Tardelli e Obina engrossam a relação.

Na montagem do elenco para 2012, o Atlético-MG usou e abusou da expectativa de recuperar ‘estrelas cadentes’. Com exceção do goleiro Victor, que era titular do Grêmio e chegou em alta ao Atlético-MG, as contratações atleticanas para a atual temporada se caracterizaram pela aposta em jogadores esquecidos e desacreditados em outros clubes.

  • Folhapress

    Atacantes Marques e Guilherme, que vieram de outros times por baixo, formaram dupla de sucesso no Atlético-MG e se destacaram especialmente na campanha do no vice-campeonato em 1999

Ronaldinho Gaúcho é o mais badalado exemplo. Ele estava às voltas com polêmicas extra-campo com o Flamengo, e recorreu à Justiça do Trabalho do Rio para rescindir unilateralmente seu vínculo com o rubro-negro carioca. Outros reforços atleticanos, no entanto, se encaixam nessa situação, como o atacante Jô, parceiro inseparável de Gaúcho, que tinha sido afastado do Internacional por indisciplina.

A lista passa por outros bons jogadores, que viviam momentos ruins em seus times de origem, como o lateral esquerdo Júnior César, emprestado pelo Flamengo; o zagueiro Rafael Marques e o volante Leandro Donizete, que vieram respectivamente de Grêmio e Coritiba. Na temporada anterior, o zagueiro Leonardo Silva, que vinha de longa recuperação de lesão no arquirrival Cruzeiro, e o volante Pierre, liberado pelo Palmeiras.

Para os jogadores ‘recuperados’, a receita passa pela confiança que foi depositada neles por todos no Atlético-MG, da torcida ao presidente Alexandre Kalil, passando pelo técnico Cuca e pelos companheiros de time. “O Atlético apostou em mim, me deu tudo que eu precisava para trabalhar”, ressaltou Ronaldinho Gaúcho, que já fez agradecimentos públicos a Kalil, Cuca e, principalmente aos torcedores.

  • Bernardo Lacerda/UOL

    Diego Tardelli, que está envolvido em difícil negociação para voltar ao Atlético-MG, é exemplo recente da política de recuperação de atletas do clube

Ronaldinho Gaúcho não tem dúvida em afirmar que a recuperação de seu futebol passa pela alegria em jogar futebol. “Sou muito feliz aqui, um clube que é muito correto, que cumpre com tudo aquilo que promete, está tudo andando muito bem”, comentou o camisa 49, que garante estar focado em ajudar o Atlético-MG a se classificar diretamente à Libertadores.

Para Ronaldinho Gaúcho, sua volta por cima no Atlético-MG se deve à somatória de fatores: a torcida carente de ídolo, a necessidade dele se recuperar, estrutura e correção do clube ao cumprir seus compromissos. “Tudo foi se encaixando. Era bom para os dois lados, e as coisas acabaram dando certo. Um treinador que entendeu a minha forma de jogar, um grande amigo, um cara que eu admiro muito. Acho que tudo isso foi muito importante”, complementou.

O atacante Jô, artilheiro alvinegro no Brasileiro, com 10 gols, foi dispensado pelo Internacional, também destaca o papel fundamental do clube em sua recuperação, por dar tranquilidade para trabalhar. “No Atlético, do Cuca ao presidente, todos me apoiaram. A torcida acabou me apoiando, estava um pouco desconfiada, mas consegui apresentar meu futebol e conquistei o torcedor. Se algum jogador vier me perguntar, posso falar com toda certeza que é um clube onde você trabalha em paz”, disse.

  • Lucas Uebel/Preview.com

    Primeiro reforço do Atlético-MG para a próxima temporada, Gilberto Silva é aposta pela idade elevada

Outros dois exemplos se encaixam no projeto atleticano de 2012. O lateral esquerdo Júnior César teve passagem apagada e criticada pelo Flamengo em 2011 e principalmente no primeiro semestre de 2012, mas foi aposta do diretor de futebol Eduardo Maluf para suprir a carência na posição. Já Rafael Marques encerrou o vínculo contratual com o Grêmio, clube que defendeu por três anos e teve uma temporada em baixa no time do Rio Grande do Sul, ficando próximo de acertar com o Sport, mas foi indicação do técnico Cuca e ganhou a vaga de titular no primeiro semestre.

“Todos esses jogadores mostraram em suas carreiras qualidade para estarem jogando no Atlético. Nós conseguimos resolver algumas situações que os atrapalhavam, na vida particular e profissional e demos toda a estrutura e condição para que dessem a volta por cima. Por isso o sucesso no projeto, que irá continuar”, analisou o diretor de futebol Eduardo Maluf.

Ao longo da história, o clube atleticano conviveu com esta rotina de ajudar atletas desacreditados e em final de carreira a renderem. Robert, Veloso, Guilherme e Marques, em 1999; Valdo, em 2001, e Marcelo Djian, no mesmo ano, entre outros, foram exemplos de jogadores que chegaram com idades avançadas, em baixa em outros trabalhos, mas que renderam lucros. Em 99, o alvinegro mineiro foi vice-campeão brasileiro, dois anos depois, foi semifinalista do torneio, com base formada por times desacreditados.

Em 2009 e 2010, a diretoria atleticana conseguiu lucrar em campo e também fora dele, com outros dois atletas que deram a volta por cima em Belo Horizonte. Diego Tardelli foi contratado, por indicação de Emerson Leão, junto ao Flamengo, recuperando-se de problemas fora de campo e de comportamento, tornando-se ídolo do torcedor atleticano, que defende sua volta ao clube para 2013. Já Obina, no ano seguinte, viveu a mesma situação, sendo artilheiro do time e caindo nos braços do torcedor.

E a experiência com Ronaldinho foi considerada tão positiva que o Atlético-MG projeta utilizar esse aprendizado específico com outros atletas. Com isso, a tática do bom, mas desacreditado, continuará em 2013. O volante e zagueiro Gilberto Silva, primeiro reforço atleticano confirmado para 2013, vem de boas atuações pelo Grêmio no atual Brasileirão, mas por ter 36 anos terá de vencer a desconfiança dos torcedores atleticanos.