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Bertoglio vence dúvidas sobre Brasil, vira 'xodó' e mira seguir no Grêmio

Facundo Bertoglio mira permanecer no Grêmio e conta com apoio dos torcedores - Lucas Uebel/Txt Assessoria
Facundo Bertoglio mira permanecer no Grêmio e conta com apoio dos torcedores Imagem: Lucas Uebel/Txt Assessoria

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

27/03/2013 06h00

Bertoglio já viveu tanto em sua carreira que nem parece ter só 22 anos. Surgimento relâmpago na Argentina, ida cedo para Europa, lesões, chance na seleção com um ídolo de infância. Tudo passou como em uma de suas arrancadas rumo a área adversária. Ele nunca esperou, por exemplo, jogar no Brasil. "Nunca tinha pensado nisso", disse.

Mas no início do ano passado, o futuro apontou para Porto Alegre. Mal sabia ele que encontraria uma torcida de braços abertos. "Vivi coisas aqui que nunca imaginei viver", reconhece.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Facundo Daniel Bertoglio - quase xará do Papa Francisco, tratado por ele de 'Tio' - revelou sua obsessão de momento: seguir no clube, que aprendeu a chamar de casa.

BERTOGLIO É XODÓ DA TORCIDA DO GRÊMIO, QUE O RECEBEU COMO ÍDOLO

UOL Esporte: O que significa o Grêmio na tua carreira?
Bertoglio: O Grêmio significa muito para mim. Desde que cheguei no clube, me senti em casa. Todos me acolheram muito bem, sempre me deram força. Tive azar de me lesionar no começo do ano, e mesmo assim todos sempre me trataram muito bem. Eu nunca pensava que algo desta forma aconteceria, algo tão bom. Me sinto em casa no clube.

UOL Esporte: Seu contrato está acabando com o Grêmio [Bertoglio está emprestado até 30 de  junho e tem mais dois anos de contrato com o Dínamo de Kiev, da Ucrânia]. Você pretende permanecer?
Bertoglio: Eu adoraria. Mas procuro não pensar muito nisso. Infelizmente tive uma lesão no começo do ano no tornozelo quando poderia jogar. Na verdade o que eu quero mesmo é trabalhar bastante para ficar à disposição e poder jogar novamente.

UOL Esporte: Mas o contrato com o Dínamo de Kiev é longo...
Bertoglio: É verdade. Mas ainda tenho algum tempo para conseguir jogar e provar que posso ficar no clube. Tenho muita vontade de mostrar para o treinador e para os torcedores que sempre me apoiaram que posso ficar. Quero jogar no Grêmio, gosto muito daqui.

UOL Esporte: Mas se tiver que sair...
Bertoglio: Se tiver que sair, o futebol é assim. Não é algo que eu queira ou pense agora. Me sinto completamente à vontade, é como eu falei, o Grêmio é minha casa. Não penso em sair. Se tiver que ir, que seja, mas não quero sair do Grêmio.

UOL Esporte: O contrato com o Grêmio vence em junho...
Bertoglio: Não penso em quando tiver que sair, se meu contrato acabar, ou não. Penso em ficar, em fazer meu trabalho, em poder ajudar o Grêmio a conseguir as vitórias. A relação que tenho com todos aqui é muito boa, só quero poder entrar em campo e jogar, mostrar meu futebol para convencer a todos que minha permanência é importante.

UOL Esporte: Quando você voltou ao Grêmio para o segundo período de empréstimo, os torcedores fizeram uma festa digna de ídolo para você no aeroporto. O que você sentiu naquele momento?
Bertoglio: Quando voltei e vi todos os torcedores esperando, na minha chegada, foi uma coisa linda. Jamais esperava que isso aconteceria, ainda mais em outro país. Eu tinha atuado somente seis meses no Grêmio e todos estavam me esperando. Foi algo que me marcou muito. Algo que jamais pensei que fosse acontecer

UOL Esporte: Até por este reconhecimento, você se considera em dívida com a torcida. Precisando mostrar, recompensar este carinho?
Bertoglio: Sim, acho que tenho que trabalhar para conseguir retribuir todo este carinho da torcida. Infelizmente acabei me machucando e não pude jogar muito para fazer isso. Eu gostaria muito de poder dar ainda mais para torcida que me trata muito bem.

APÓS UMA SÉRIE DE LESÕES, BERTOGLIO VOLTOU A ATUAR NESTA TEMPORADA

Grêmio 5 x 1 São José13 min em campo - 1 gol
Grêmio 1 x 2 Juventudeentrou no 2º tempo - 45 min em campo
Grêmio 5 x 0 Santa Cruz75 min em campo - 2 gols
Grêmio 1 x 0 Veranópolis19 min em campo
Grêmio 1 x 2 Interentrou no intervalo - 45 min em campo
Grêmio 3 x 1 Pelotas21 min em campo
TOTAL6 JOGOS/3 GOLS218 min jogados - 1 gol a cada 72,6 min


UOL Esporte: Se percebe que você está totalmente adaptado ao clube, a Porto Alegre, ao país. Você pensava que seria assim? Há muitos argentinos que evitam jogar no Brasil pela rivalidade...
Bertoglio: Nunca pensava em jogar no Brasil. Brasil e Argentina tem toda esta rivalidade... Além disso, não há quase brasileiros na Argentina. Jogando praticamente nenhum. Quando surgiu a possibilidade, não pensava muito em jogar no Brasil. Mas logo que cheguei vi que era muito bom, que todos me trataram muito bem e me adaptei fácil. Hoje posso dizer que me sinto totalmente adaptado com todos os jogadores do grupo. Todos me tratam muito bem, é um ambiente maravilhoso.

UOL Esporte: E no Grêmio você encontrou uma série de estrangeiros ainda. Mais agora, com Vargas, Barcos e Moreno. Como é a relação com eles?
Bertoglio: No ano passado tive o Miralles aqui no começo. Agora foi muito bom a chegada do Barcos e do Vargas. São dois companheiros estrangeiros. Estamos sempre juntos, nos damos bem. Posso ajudar, conversar, me dou bem com todos.

UOL Esporte: Mas no geral os companheiros gostam muito de você não é? Não é somente os estrangeiros...
Bertoglio: Eu sou um jogador muito jovem, nosso elenco é muito forte. Temos jogadores campeões do mundo, com passagens pela Europa, eu vejo que preciso ouvir. Tenho 22 anos, temos jogadores muito experientes aqui. Eu trato de ouvir, aprender com eles o máximo possível. Brinco, dou risada, me dou bem com todos. Sinto isso aqui, é como uma família. Por isso falo que estou em casa. E tento sempre aprender com eles.

UOL Esporte: Na tua carreira consta uma única convocação para seleção argentina [em amistoso contra o Haiti. Bertoglio marcou dois gols]. Como foi a experiência?
Bertoglio: Foi uma experiência muito linda na seleção. Mas ainda mais por estar junto com Maradona. Quando era criança diziam que ele me treinaria um dia, eu jamais acreditava. Era meu ídolo, o maior de todos. Imagina você ver seu ídolo de infância ali, te chamando pelo nome, conversando com você, isso significou muito para mim. Foi algo impossível de descrever.

UOL Esporte: Pretende voltar?
Bertoglio: Para voltar à seleção argentina primeiro eu tenho que jogar pelo Grêmio. Tenho que trabalhar muito para poder recuperar espaço aqui.

UOL Esporte: Quando foi eleito o novo Papa, você brincou no Twitter sobre o nome dele, quase igual ao seu. Como foi no vestiário?
Bertoglio: Foi uma brincadeira. Eu estava treinando no coletivo e quando entrei no vestiário todos estavam rindo, brincando que o Papa era Bergoglio, era meu tio. Eu fui para o Twitter e brinquei. Fiquei muito feliz com isso. Foi uma brincadeira. Hoje chamo ele de tio (risos).