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Mundial resgata feito histórico do Atlético nos gramados gelados da Europa

Elenco do Atlético-MG, campeão do Gelo em 1950, responsável por feito que entrou para a história do clube - Reprodução/Centro Atleticano de Memória
Elenco do Atlético-MG, campeão do Gelo em 1950, responsável por feito que entrou para a história do clube Imagem: Reprodução/Centro Atleticano de Memória

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Belo Horizonte

17/12/2013 06h00

 

Estreante no Mundial de Clubes, o Atlético-MG resgata com sua inédita participação no torneio organizado pela Fifa, feito histórico, ocorrido há 63 anos,e que está marcado até mesmo no hino oficial do clube. Jogando em terras estrangeiras e geladas, o alvinegro mineiro tornou-se o “campeão do gelo”, façanha cantada com orgulho pelos torcedores atleticanos. 

Em 1950, o alvinegro mineiro foi a primeira equipe do Brasil a viajar para realizar um torneio na Europa, contra adversários tradicionais e temidos, enfrentando times como Munique 1860, Hamburgo, Werder Bremen, Schalke 04, todos da Alemanha, além de clubes da Áustria, Bélgica, França e um combinado de Luxemburgo.

Curiosamente, o alvinegro mineiro não foi a primeira equipe convidada a participar da excursão. Entretanto, foi a única a aceitar viajar para países que viviam momentos difíceis e de reconstrução, cinco anos após o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

A excursão europeia, que tomou ares épicos pelas condições adversas enfrentadas, aconteceu de 1º de novembro a 7 de dezembro daquele ano, e foi batizada como campeonato de inverno, por causa da época do ano e das baixas temperaturas. Os países pelos quais o esquadrão alvinegro passou foram Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e França.

Além da força das equipes europeias, o Atlético enfrentou o forte frio como obstáculo. As partidas aconteceram em gramados cobertos por camadas de gelo, situação que batizou o alvinegro mineiro de ‘campeão do gelo’. Temperaturas como 12 e 15 graus negativos fizeram parte do dia a dia de treinos e jogos do time atleticano. 

“Lembro de ouvir relatos na época, de que os jogadores tinham de procurar formas para se esquentar, pois os pés ficavam quase congelados, as mãos. Os membros do Atlético esquentavam água para ajudar a evitar os problemas do forte frio”, contou o engenheiro aposentado Sebastião Garcia Silva, 75 anos, torcedor atleticano e que tinha 12 anos na ocasião.

O clube alvinegro estava pouco preparado para enfrentar o frio intenso que enfrentou na excursão. O grupo viajou com o uniforme que usava no Brasil, de algodão. Para tentar amenizar o clima adverso, os atletas passaram a jogar com agasalhos, mais de um par de meia e luvas de lã, artigos adquiridos na Europa.

Lutar, Lutar, Lutar Pelos gramados do mundo pra vencer Clube Atlético Mineiro Uma vez até morrer. Nós somos Campeões do Gelo O nosso time é imortal Nós somos Campeões dos Campeões Somos o orgulho do esporte nacional

TRECHO DO HINO DO ATLÉTICO-MG AUTOR VICENTE MOTTA

Além das temperaturas baixas, os jogadores atleticanos conviveram ao longo da excursão, com boa presença de torcedores, que ainda viviam com temor da guerra, gramados em diferentes estados, como no duelo contra o Schalke 04, na Prússia, aonde o campo não possuía grama, com os atletas jogando em um campo de terra.

Foi contra o Stade Francais que o Atlético se sentiu mais em casa, mesmo com o frio intenso na França. Ao entrarem em campo, os jogadores logo escutaram o barulho de baterias músicas de samba e marchas de carnaval, tocado por estudantes brasileiros. O Atlético venceu por 2 a 1.

A campanha atleticana teve altos e baixos. Ao todo, foram dez jogos em pouco mais de 30 dias. O time mineiro venceu seis vezes, tendo o triunfo sobre o Hamburgo, por 4 a 0, como a maior goleada, duas derrotas, para o Werder Bremen e Rapid Viena e dois empates, com a seleção de Luxemburgo e Eintracht Braunschweig.

“O Atlético viajou desacreditado, muitos achavam que era loucura viajar para a Alemanha naquela época. Para muitos, o time iria apenas passear, ninguém acreditava em um sucesso do time, que era pouco conhecido”, comentou Sebastião Silva.

Kafunga, Mão de Onça; Afonso, Osvaldo, Juca, Moreno, Vicente, Zé do Monte, Haroldo, Barbatana, Vicente Perez e Márcio; Lucas, Lauro, Zezinho, Alvinho, Nívio, Vavá, Murilinho e Vaguinho participaram da excursão e dos jogos nos cinco países diferentes. Os artilheiros do time foram Vaguinho e Lucas, com 6 gols cada um. Vavá é o único dos ‘heróis’ atleticanos da campanha no gelo que está vivo.

De volta a uma competição internacional, desta vez no Marrocos, o time mineiro encontra situação diferente, longe do frio enfrentado na competição do gelo, mas curiosamente, podendo enfrentar um time alemão, o Bayern de Munique, em uma possível final do Mundial de Clubes.

“Mais de 60 anos depois e o Atlético volta a representar o Brasil fora do país. Hoje, todos terão a oportunidade de acompanhar o time, ver os jogos, ver Ronaldinho Gaúcho, Diego Tardelli. É uma situação muito diferente, mas de importância enorme para o Atlético”, observou o ex-jogador do alvinegro mineiro, Paulo Isidoro.