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Bitcoin no mercado da bola? "Moeda da moda" entra no mundo do futebol

Moeda virtual entrou de fato no futebol; empresários querem iniciar trabalho no Brasil - Benoit Tessier/Reuters
Moeda virtual entrou de fato no futebol; empresários querem iniciar trabalho no Brasil Imagem: Benoit Tessier/Reuters

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo (SP)

01/02/2018 04h00

A moeda virtual bitcoin ganhou espaço na economia mundial no último ano em virtude da alta valorização e recentemente invadiu o mundo do futebol. O Real Madrid agora aceita o pagamento via criptomoedas para o tour do estádio Santiago Bernabéu; o Bragantino fechou dois patrocínios pelo sistema; e empresários já levam esta tendência para o mercado de transferências. Depois de o clube turco Harunustaspor usar o serviço digital para comprar um atleta, agentes brasileiros enxergaram uma oportunidade de mercado.

“O mercado está se ajustando para isso, embora seja uma moeda de risco como alguns colocam. Estamos amadurecendo isso com um empresário que também trabalha com bitcoin. A ideia é negociar uma quantidade de bitcoins para negociar a participação na representação do atleta. Estamos conversando, já adiantados”, explicou ao UOL Esporte o agente Márcio Schmidt.

“Quando vimos o Real Madrid e alguns clubes pedindo patrocínio, lojas conhecidas aceitando e outras situações, tivemos curiosidade. Estamos atentos a esta expectativa de mercado, e o futebol pode perfeitamente ser um objeto deste mercado”, acrescentou o empresário.

Rael Avaí - Divulgação/Arquivo Pessoal - Divulgação/Arquivo Pessoal
Rael, jovem do Avaí, investe parte do próprio salário em moedas virtuais
Imagem: Divulgação/Arquivo Pessoal

O empresário citado por Schmidt é Maurice Cohen. Sócio ao lado de outros dois empresários (Bernardo Schucman e Denis Mandelbaun) de uma companhia que lida com a "mineiração" das moedas virtuais -, Cohen crê que a operação ocorrida na Turquia inicia uma tendência. Na visão dele, o futebol vai se render às criptomoedas em um curto espaço de tempo.

“Isso vai ser inevitável no futebol. Desta forma, praticamente inexiste a necessidade de ter um intermediário, um banco. Se quiser fazer agora uma transferência para a Turquia, posso fazer em um segundo. Sem depender de um banco ou de ninguém, e sem pagar taxas abusivas. Todas as transações ficam registradas no blockchain, uma rede de dados que impede a violação de tudo o que se coloca lá – um documento ou um contrato, por exemplo”, afirmou.

Cohen repassa o conhecimento sobre a moeda virtual aos seus agenciados. O jovem Rael, um dos destaques na campanha do Avaí na Copa São Paulo – anotou um gol contra o Corinthians nas oitavas de final do torneio-, tem aulas constantes sobre bitcoin e destina parte dos seus vencimentos ao sistema, contou o empresário.

“O bitcoin no futebol acabaria com a inadimplência tão comum no futebol brasileiro. Como o sistema é público em todas as transferências, você conseguiria fiscalizar se um clube está pagando direito. O bitcoin seria vinculado ao clube, que transferiria para a carteira de cada jogador o valor em bitcoin. A Fifa poderia fiscalizar isso, principalmente se o clube teria condições de arcar com as despesas pré-determinadas”, defende.

Bragantino fecha patrocínio por Bitcoin

Como citado no início desta reportagem, o Bragantino decidiu inovar e entrar neste mercado financeiro virtual. O clube passou a aceitar Bitcoin como pagamento de patrocínio e já conseguiu dois acordos. Empresas ligadas a este mercado de moedas estamparam suas marcas já na partida do último domingo contra o Palmeiras, válida pelo Campeonato Paulista.

Bragantino bitcoin - Cesar Greco/Ag. Palmeiras - Cesar Greco/Ag. Palmeiras
Bragantino estreou patrocínios via Bitcoin no jogo com o Palmeiras
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras

“Foi muito bem aceito. Mostrou que o Bragantino vai além de revelar jogadores e estamos trabalhando para difundir novas formas de negócio. Não só no mercado do futebol”, afirmou à reportagem Luiz Arthur Abi Chedid, vice-presidente do clube, antes de explicar o modus operandi do Bragantino com as criptomoedas.

“Abrimos uma carteira digital, recolhemos o valor pago em bitcoin e fizemos a transferência para o Real em uma casa de câmbio. Entra no nosso balanço como Real”, acrescentou.

O dirigente afirma que há mais três negociações de patrocínio em andamento via criptomoedas. O clube de Bragança Paulista ainda estuda com uma das patrocinadoras de usar o Bitcoin para realizar o pagamento de premiações. Abi  Chedid, assim como os empresários anteriormente ouvidos pela reportagem, também crê que isso será uma nova tendência de mercado.

“Não só bitcoin, mas todas as criptomoedas. A única coisa que tem que ficar atento é a questão da regularização disso. Os clubes precisam ter todos os meios legais”, discursou o cartola.

O que é bitcoin?

O conceito é de uma moeda virtual, que replica o dinheiro físico, protegida por criptografia e que ganhou espaço nos últimos meses em virtude da hipervalorização. A alta em um ano chegou a 1.300%. Em dezembro de 2017, por exemplo, um Bitcoin ultrapassou a casa dos R$ 69 mil, segundo cotação da época.

Outra vantagem exposta por quem investe neste novo campo financeiro se refere às transações, feitas de usuário para usuário, sem intermediário ou interferência de banco ou órgãos reguladores; a questão regulatória, aliás, faz alguns países já iniciarem movimentos para proibir a circulação das criptomoedas.

O preço é definido livremente pelo mercado; nesta semana, por exemplo, houve queda de 8% (R$ 33 mil). Cada acordo é criptografado, rastreado e autenticado, segundo as regras de um software e dos participantes desta rede.

A criação do dinheiro virtual vem da tecnologia blockchain (corrente de blocos), que forma a base desta nova estrutura monetária. Computadores de todo o planeta resolvem problemas matemáticos em que são aprovadas compras e vendas da moeda virtual; quem soluciona (os mineradores) recebe frações de bitcoins como recompensa.