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Caso Daniel: Meia estava alcoolizado e completamente indefeso, diz delegado

Marcello Zambrana/AGIF
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, em São José dos Pinhais (PR)

06/11/2018 11h22

O assassinato de Daniel Corrêa Freitas, ex-meia de São Paulo, Botafogo e Coritiba, deve ser tratado como homicídio qualificado por conta do estado de embriaguez da vítima. A informação foi divulgada nesta terça-feira (6) pelo delegado de São José dos Pinhais (PR), Amadeu Trevisan, cidade onde foi encontrado o corpo do jogador no sábado (27).

Segundo o delegado, o meia, que defendia o São Bento na Série B do Brasileiro, não poderia se defender. "Recebemos um laudo só até agora, que é o de dosagem alcoólica do corpo da vítima. Percebe-se que o Daniel estava bastante embriagado. Ele estava com 13,4 dg/l de álcool no sangue", explicou o delegado, afirmando que "não havia presença de drogas" nos exames.

O delegado relatou os nomes de outros três suspeitos que devem ser indiciados por homicídio qualificado. Além do empresário Edison Brittes Júnior, único a confessar participação no crime, foram citados David Willian Vollero da Silva (18 anos) e Igor King (19), amigos de Allana que já se apresentaram à Polícia Civil, e Eduardo Henrique Ribeiro da Silva (19), primo da Cristiana.

"Pode-se colocar uma qualificadora. A vítima estava completamente indefesa, com 13,4 dg/l de álcool no sangue. E também foram quatro pessoas que dominaram a vítima: o David, o Eduardo, o Igor e mais o Edison”, acrescentou.

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Outro fator que deve complicar Edison e outros membros da família Brittes foi a coação de testemunhas dias após o crime, confirmada pela investigação da polícia.

"Houve a coação de testemunhas em um shopping. Eles foram na segunda-feira, quando coagiram a testemunha", afirmou o delegado. "Cristiana, Allana e Edison se reuniram com a testemunha em um shopping, onde o Edison pede para que eles fechem uma história só. Eles queriam tirar algumas pessoas que estavam na casa do rol de testemunhas. O Edison é muito claro, e ele alerta, adverte, ameaça a testemunha que não poderia romper aquele elo”, acrescentou.

Delegado confirmou que houve encontro entre família Brittes e testemunhas para confirmar versão do crime - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Delegado confirmou que houve encontro entre família Brittes e testemunhas para confirmar versão do crime
Imagem: Reprodução/Facebook
De acordo com a versão combinada, Daniel teria visto o portão da casa aberto pela manhã e ido embora, tomando “rumo ignorado”. Posteriormente, o jogador teria aparecido morto.

“Ele [Edison] manteve essa história de que eram amigos, que havia saído pelo portão, até o momento de que a Polícia não sabia que eram os autores. Ele mudou a versão dele. Enquanto só tinha um cadáver no chão. Depois de levantada essa testemunha, mudou essa versão para uma violenta emoção”, afirmou Trevisan.

De acordo com a segunda versão de Edison, a família havia recebido amigos em casa – incluindo Daniel – após o aniversário de Allana em uma casa noturna de Curitiba. Em determinado momento, Cristiana teria pedido socorro no quarto; ao entrar, Edison teria visto Daniel sem calças sobre a mulher. No entanto, segundo relatos de uma testemunha, os gritos só teriam começado após a entrada de Edison na casa.

“Eles (família Brittes) começaram mentindo, inventando uma história. Logo após descoberta a autoria, eles mudaram a versão. A família tentou modificar toda a primeira história em uma fraude processual inconteste, em uma coação de testemunhas. Iremos mostrar isso após a oitiva das testemunhas agora no período da tarde”, disse o delegado.

Quatro testemunhas envolvidas no caso deverão ser ouvidas ainda na tarde desta terça-feira (6). “Na parte da tarde, às 15h, devemos ouvir quatro testemunhas, importantes, que estavam na casa após a balada”, anunciou Trevisan.

Edison deve ser interrogado apenas na quarta-feira (7). Segundo o delegado, "era para ter sido ouvido agora de manhã, até antes da coletiva". No entanto, "o advogado não compareceu, e ele deve ser ouvido amanhã pela manhã".

Cristiana e Allana Brittes, respectivamente mulher e filha de Edison, já foram ouvidas e devem ser transferidas. Segundo testemunhas, as duas participaram da reunião com outras testemunhas na segunda-feira (29) após o crime para combinar uma versão que seria dada às autoridades que investigam o caso.

“Tudo que elas (mãe e filha) disseram (em depoimento) já era esperado. Mas precisamos ter isso devidamente documentado. O depoimento delas para esclarecimento do caso foi muito importante”, explicou Amadeu Trevisan na coletiva desta terça-feira.

Segundo testemunhas citadas pelo delegado, “inclusive depoimento da própria Allana”, Daniel se mexia ao sair da casa. “Logo, obviamente, estava vivo. Ele se mexia, mas não falava mais nada”, disse o delegado.

Mensagens do celular de Daniel

O delegado ainda adotou cautela a respeito do conteúdo de mensagens que teriam sido enviadas por Daniel por WhatsApp na madrugada do crime.

"Todas as mensagens são bem-vindas, mas óbvio que elas passam por um filtro. Nós não vamos acreditando na primeira mensagem. Por isso que pode se pensar que a Polícia está demorando. Precisamos depurar", afirmou o delegado.

O celular do jogador, segundo ele, ainda não foi localizado. "Segundo informações, ele (Edison) teria queimado celular e roupas. Essa será uma das perguntas que vamos fazer ao Edison", acrescentou.

A Polícia Civil do Paraná ainda não descarta a possibilidade de um crime premeditado. “Nós temos que observar o lapso temporal, porque houve muito tempo para que esse crime fosse evitado”, disse, indo além.

"O Edison teve tempo para pensar nesse crime. Não foi assim de violenta emoção. E outra: violenta emoção dele, o marido – (mas) e os demais que participaram? Participaram a título de quê? Levados a violenta emoção também? A violenta emoção não se transmite, é apenas do marido. Os demais participaram para que o resultado ocorresse", acrescentou.

A respeito do corte no pênis de Daniel, o delegado afirmou acreditar ter sido feito quando o jogador estava já desacordado. Ao ser colocado no porta-malas do carro, o jogador ainda estava com vida.

Por fim, o delegado afirmou que a filha de Edison "tinha contato com a família de Daniel” desde antes do crime. Segundo a investigação, Allana escondeu informações dos familiares do jogador a mando do pai.

"A Allana fala e se coloca à disposição da família do Daniel para o que fosse preciso para resolver o desaparecimento daquela família. Você se coloca à disposição sabendo que o Daniel estava morto, e ela me disse que era a história que o pai dela pediu para que fosse contada."

O pijama e a versão de Cristiana

Em entrevista à RPC, afiliada da Rede Globo em Curitiba, Edison afirmou que Cristiana teria se sentido mal; por isso, em casa, escovou os dentes da mulher, vestiu nela um pijama e a colocou para dormir. A informação, porém, foi desmentida pelo delegado.

“Não foi o Edison. Quem coloca o pijama curto na mãe foi a Allana. A mãe estava dançando em cima da mesa, e a Allana coloca o pijama nela. Não para dormir”, afirmou.

Em seu depoimento, Cristiana afirmou ter sido alvo de uma tentativa de estupro. O delegado, no entanto, aguarda por mais provas que endossem a versão.

“Só temos a palavra dela. Ela teria despertado com o Daniel na cama”, diz o delegado, sem entrar em detalhes. “Ela teria despertado com o Daniel na cama, mas não posso dizer o que ela revelou nos autos”, acrescentou. O UOL Esporte teve acesso ao depoimento de Cristiana, no qual ela afirma que o jogador teria friccionado seu pênis no corpo dela.