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Tite recorda racismo ao pedir reforços em time do RS em 1º título

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Imagem: reprodução/SporTV

Do UOL, em São Paulo

22/12/2018 21h53

O primeiro título de Tite como treinador foi conquistado com o Veranópolis, do Rio Grande do Sul, em 1993. Agora, 25 anos depois, o técnico recorda as reações racistas que recebeu ao pedir a contratação de dois atletas negros.

"Eu tenho isso em relação ao negro. Vivo em uma região preconceituosa. O meu primeiro título foi no Veranópolis, e a contratação que eu pedi foi de dois jogadores negros. Aquilo gerou impacto", contou durante o programa "Grande Círculo", novidade do SporTV.

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"Uma das maiores ligações e reconhecimentos que eu tenho é com o atleta negro. Existe o outro lado de mídias sociais, algo obscuro. Elas são podres e atacam jogadores que erram em um jogo. Ela te oportuniza ofender família, ofender o cara em termos raciais", completou.

Neste ponto, Tite foi logo questionado sobre as ofensas racistas recebidas pelo jogador Fernandinho após a Copa do Mundo da Rússia, em 2018. O meio-campista fez gol contra na derrota do Brasil para a Bélgica nas quartas de final.

"O primeiro que tive vontade de convocar foi Fernandinho. Número 1. Eu disse: 'Não vou arriar as minhas convicções, meu lado humano'. É um cara extraordinário, joga muito. Eu vou cortar a cabeça do cara e colocar na bandeja? Esse preço não pago para vencer", afirmou.

"Existem outros intervenientes que essa crueldade ocasionou na família dele. Ele disse para mim: 'Eu prometi para a minha família que não voltaria'. Eu disse para ele: 'Conversa de novo. A seleção brasileira tem muito orgulho de ter um atleta com a sua dignidade e competência profissional. Eu não sou burro de convocar jogador ruim'. Ele ficou de pensar", revelou o treinador.

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Imagem: reprodução/SporTV

Inveja em sua cidade

Se antes o preconceito incomodava Tite no Rio Grande do Sul, agora o que o agride é a inveja. O técnico citou tal sentimento ao lamentar por pessoas de sua cidade, Caxias do Sul, que comemoraram a eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo deste ano.

"Teve gente que soltou fogos após a derrota para a Bélgica. Isso é cruel, isso é desrespeitoso. Liguei pro meu irmão e ele disse que a mãe chorou, chorou. Mas depois rezou e tudo passou".

Homofobia no futebol

Na visão de muitos estudiosos e apaixonados pelo esporte, as ofensas com teor homofóbico no futebol, como o grito de "bicha" no tiro de meta, impedem que jogadores LGBT assumam suas diferentes orientações sexuais. Na opinião de Tite, este tipo de comportamento deve ser combatido com rigor.

"Eu acho que deve haver punição, educação por punição. Nós precisamos de uma sociedade com igualdade social maior para que o garoto seja educado com princípios. É uma questão de prioridade de investimentos. Para mim, educação é investimento prioritário. Associado a isso, uma punição. Enquanto não vier a punição, tem a sensação de: 'Eu vou sair impune, vou fazer mesmo'. Tem de haver punição", respondeu, enfático.

Tite pareceu consternado ao dizer que nunca trabalhou com um atleta assumidamente LGBT. "Olha, eu estou olhando, olhando, e não me lembro de nenhum que fosse assumido. Pode ser que eu tenha treinado algum atleta [LGBT] sem saber!", lamentou.