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Tite relata conselho a Neymar e vê racismo contra Fernandinho

"Se tivesse bem, decidia contra a Bélgica", disse Neymar a Tite (foto) - ANDREW BOYERS/Getty Images
"Se tivesse bem, decidia contra a Bélgica", disse Neymar a Tite (foto) Imagem: ANDREW BOYERS/Getty Images

Do UOL, em São Paulo (SP)

06/12/2018 09h43

O técnico Tite tem utilizado este primeiro semestre pós-Copa do Mundo para conversar e se aproximar ainda mais de Neymar e dos outros atletas da seleção brasileira. A queda precoce para a Bélgica na Rússia ainda incomoda dono da camisa 10, que recebeu conselhos nestes primeiros compromissos com a equipe nacional após eliminação. Até quem está fora do grupo recebe atenção do comandante, como o volante Fernandinho.

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Em entrevista concedida ao jornal O Globo, Tite contou sobre as conversas com Neymar depois do Mundial e ainda se mostrou extremamente incomodado com o excesso de críticas a Fernandinho. Inclusive, o treinador da seleção acredita que os questionamentos ao jogador, que vive excelente fase no Manchester City, ultrapassaram o lado técnico para a ofensa pessoal, racista.

"Ele [Neymar] recuperou a plenitude física e técnica. A velocidade de raciocínio e de execução dele são impressionantes. Em que percentual ele estava na Copa? Não sei, mas tinha feito cinco jogos. Mas posso falar uma coisa que ele disse pra mim: 'se eu estou bem na Copa do Mundo, eu decido o jogo com a Bélgica'", contou Tite para o jornal carioca, enxergando evolução no jogo do 12º colocado na Bola de Ouro.

"Você [Tite] disse a ele o que precisa melhorar? Sim. Quer dizer para nós? Não. É uma coisa íntima. Digo que ele é uma liderança técnica que também pode ser líder comportamental. E cresceu neste sentido, melhorou na relação com vocês [imprensa]. Ele se expôs mais. Eu disse: 'Mostra seu lado humano com mais frequência'. É um lado que nós conhecemos", acrescentou o treinador.

O lado humano tão valorizado por Tite também serve na análise sobre Fernandinho, talvez o nome mais estigmatizado pelo revés para os belgas nas quartas de final do Mundial. Responsável pelo desvio que terminou com o primeiro gol belga e abaixo do nível que apresenta no City diante de Hazard e De Bruyne, o meio-campista saiu da Rússia "como vilão".

Além da frustração do torcedor pela derrota, Tite acredita que muitas das críticas surgiram como uma forma de expor um preconceito anteriormente velado. Foi ao falar de Fernandinho que o racismo entrou em pauta na conversa do técnico da seleção nacional com o jornal. O jogador, inclusive, deve voltar ao time nacional nas próximas listas em 2019.

"Queria que o primeiro convocado pós-Copa fosse ele. Para mostrar que ninguém iria cortar cabeças. Não fiz para preservar sua imagem pública. Há um lado podre, racista, depreciativo, de que tenho vergonha: são as mídias sociais, onde atrás do anonimato atacam esposa, mãe, por ser negro. Não vou me curvar", sentenciou o comandante, que já abordou o retorno de Fernandinho para o grupo de jogadores.

"Numa preleção para o time, eu disse que tinha chamado uma parte do grupo da Copa em cada convocação e que na seguinte viriam os que estavam faltando, e que o Fernandinho seria chamado. Ele ficou sabendo lá em Manchester. Chamei os companheiros dele de time, Ederson, Danilo e Gabriel para saber quem avisou. Os três confirmaram. Eu falei: "Pode ir treinar, era pra avisar mesmo'", completou o treinador.

Tite e a seleção brasileira só retornam às atividades no início do ano que vem. O principal objetivo da seleção para 2019 é o título da Copa América, competição que será sediada no Brasil.