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Ex-SPFC sugere mudança de esquema, aprova Cuca e vê Paulistão como solução

Atacante Leandro comemora título brasileiro de 2006 pelo São Paulo - AFP PHOTO/Mauricio LIMA
Atacante Leandro comemora título brasileiro de 2006 pelo São Paulo Imagem: AFP PHOTO/Mauricio LIMA

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

17/02/2019 04h00

Se tem alguém que conhece bem o São Paulo, esse alguém é Leandro. Ou Leandro Gianecchini, como ficou mais conhecido. Tricolor de coração, bicampeão brasileiro (2006 e 2007) e ídolo da torcida, o ex-atacante - que também passou pelo Corinthians - é mais um entre vários aficionados que sofre com o atual momento são-paulino. Presente no Morumbi na eliminação para o Talleres-ARG, na última quarta-feira (13), ele viu de perto mais um jogo para ser esquecido na história do clube.

E como torcedor assumido que é, Leandro contou ao UOL Esporte tudo que passa em sua cabeça sobre o atual momento do São Paulo. Ele sugere a mudança de esquema que vem sendo utilizado pelo time tricolor, aprova o nome de Cuca para o comando técnico e coloca o título do Campeonato Paulista como solução para que a crise comece a deixar o Morumbi.

"A solução para as coisas andarem é ganhar o Paulista, tem que ganhar título, não adianta. Ganhando o Paulista você pega confiança, o torcedor se anima, a diretoria e o treinador ganham fôlego. Então tem que ganhar o Paulista, meu pensamento é esse. Não adianta falar 'foi bem no Paulista', mas não ganhar, 'foi bem no Brasileiro', mas ficar na pré-Libertadores. Isso não é bom. Ganhando o Paulista você ganha fôlego, começa a ficar mais leve, vai tirando o peso", diz.

Time pode melhorar mudando o sistema

Na visão de Leandro, que descarta ser treinador e sonha em trabalhar com categorias de base, o São Paulo precisa rever o esquema de jogo que vem sendo utilizado - o que, provavelmente, deve acontecer com a contratação de Cuca e a efetivação temporária de Mancini. O sistema com três atacantes não agrada o ex-atacante, que vê o time sem criação de jogadas. Ele ainda evita colocar a culpa do insucesso do time tricolor apenas no demitido André Jardine.

Atacante Leandro foi campeão brasileiro com o São Paulo em 2006 e 2007 - Folha Imagem - Folha Imagem
Imagem: Folha Imagem
"O time não está jogando bem e não é justo transferir a culpa toda para o treinador. Eu sempre vejo o lado coletivo das coisas. Quando se fala de futebol, analiso um todo: clube, diretoria, comissão técnica e jogadores. Então, vendo o time, não está jogando bem. O exemplo foi o jogo contra o Talleres: eu estava na expectativa de que o goleiro do Talleres fizesse pelo menos umas cinco defesas, tivessem quatro bolas na trave, aquele sufoco, mas não teve isso. O goleiro praticamente não fez defesas. A situação está complicada no geral. Eu jamais posso vir aqui e falar que a culpa é exclusiva do treinador, o problema é geral. Agora, o que o São Paulo vai fazer daqui para frente, eu, sinceramente, não sei", diz Leandro.

"Será talvez a mudança de jogo? Eu vendo o São Paulo hoje num 4-3-3 penso pode mudar um pouco. Três atacantes me dá um sono, porque não tem peça para fazer isso aí, não encaixa. Os jogadores abertos pela beirada são um pouco limitados, ficam somente pelo lado de campo, não vêm por dentro, não flutuam, não dão opção, não aparecem na meia para o jogo, ficam abertos na lateral só esperando a bola perto da linha e, se não for esperto, a bola até sai. Então, hoje o São Paulo, mudando o esquema de jogo, tem condições de melhorar. Eu vejo o Hernanes e o Nenê na meia, tentando criar. Mudando o sistema de jogo, eu tenho certeza que o time pode melhorar bem. O sistema não está legal, o esquema de jogo não encaixou, desde o início do ano. Ganhou do Mirassol por 4 a 1 com três gols de bola parada. Não é aquele São Paulo que mete quatro bolas na trave, que o ataque faz aquela loucura de ir para cima e sufoca o adversário. Estão jogando com três atacantes e nada está acontecendo, então tem alguma coisa errada. Na minha época, a gente jogava com um atacante, mas era perigo de gol toda hora. Não é porque você tem três atacantes que vai golear. Não vai. É o que aconteceu na última quarta. O time estava praticamente com quatro atacantes e o goleiro do Talleres não fez uma defesa", analisa.

Cuca aprovado: "está acostumado a chegar em clubes com problemas"

Cuca no São Paulo em 2004 - Por Rubens Chiri / saopaulofc.net - Por Rubens Chiri / saopaulofc.net
Imagem: Por Rubens Chiri / saopaulofc.net
Na última quinta-feira (14), o São Paulo anunciou a contratação de Cuca, que já comandou o São Paulo em 2004. Por questões médicas, porém, ele ainda não poderá assumir a equipe, o que fará com que Vágner Mancini comande o time por enquanto. Para Leandro, nome aprovado.

"Com certeza [está aprovado]. Ele é um bom treinador, vencedor, um cara que está acostumado a mudar clima, situação, a chegar em clubes com problemas, em situação adversa, e também já é um cara experiente", afirma o ex-jogador, que se aposentou em 2006 pelo Catanduvense, hoje atua como empresário e tem até um camarote no Morumbi que funciona em dias de jogos para receber, em especial, personalidades e torcedores.

São Paulo tem mais obrigação de ganhar o clássico

Hoje, o São Paulo encara o Corinthians em Itaquera e tenta deixar para trás o retrospecto ruim dentro da casa alvinegra para começar a reagir na temporada. Leandro ressalta que, apesar de jogar como visitante, o time tricolor está com a obrigação de vencer por conta da fase atual.

Leandro, ex-atacante do São Paulo - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução
"Clássico é jogo igual, independentemente de onde vai jogar. Os dois times têm 50% de chance de ganhar. Penso que o São Paulo, que saiu de uma competição importante, tem mais obrigação de ganhar do que o Corinthians, mas estamos falando de futebol. Futebol, quando se trata de clássico, você pode esperar tudo. O importante depois do jogo contra o Talleres e da eliminação na Libertadores é ter um resultado positivo. Mas penso que o São Paulo vai jogar de igual para igual e aproveitar a chance que tiver porque o Corinthians é um time que defende muito, e se defende muito bem, então você tem que aproveitar a chance quando tiver", completa Leandro.

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Sofreu junto com a torcida contra os Talleres

Eu estava lá. Tá louco, pelo amor de Deus! Não é nem sofrer, não está dando para sofrer, está meio que desacreditado. Falta time. O São Paulo está num momento que não pode pensar em fazer aposta. Hoje, do jeito que está o clube, não dá para apostar, tem que trazer o cara pontual, que resolve. Infelizmente, a fase que está é essa, não vai dar tempo para o cara se adaptar. Hoje, o cara tem que chegar, pôr a camisa, ir para o campo e resolver.

Raí está preparado, mas sofre com falta de recursos

O Raí é um excelente profissional. Ele se preparou para o cargo que exerce, sabe o que está fazendo. A gente não pode colocar a culpa 100% na diretoria até porque o São Paulo não tem mais aquele recurso que tinha antigamente, no momento não tem. Hoje, é difícil para o São Paulo fazer contratação do nível de um Palmeiras, Flamengo e Grêmio, a verdade é essa. Faz o time como a sua realidade. Mas eu creio que o São Paulo tem um time bom e, no momento, precisa de tempo, mas não está tendo, não dá para esperar pelo amanhã, tem que ser hoje. Então é difícil.

Coração são-paulino, mas respeito total pelo Corinthians

Leandro em treino do Corinthians no dia 9/5/2003 - Fernando Santos/Folha Imagem - Fernando Santos/Folha Imagem
Imagem: Fernando Santos/Folha Imagem
Eu sou são-paulino, mas respeito demais o Corinthians. Fui mais vezes campeão no Corinthians do que no São Paulo. Fui duas vezes campeão no São Paulo (Brasileiros de 2006 e 2007) e três no Corinthians (Copa do Brasil de 2002, Rio-São Paulo 2002 e Paulista de 2003), então tenho o maior respeito do mundo, mas o reconhecimento do torcedor são-paulino... O que o torcedor faz comigo é absurdo, surreal, aquela loucura do travessão é inesquecível [quando subiu no travessão após o título de 2006]. Ele me abraça. Tem um carinho e um respeito até aqui dentro do clube, do Morumbi, dos funcionários, o que eles fazem comigo é sensacional. Eu sou são-paulino, mas quando joguei fui sempre profissional. Era são-paulino quando criança, fui profissional por um bom tempo e depois voltei a ser são-paulino. Meu coração é esse. Mas eu tenho um respeito gigante pelo Corinthians, que me abriu muitas portas. Fui campeão, conheci muito cara fera, parceiros que me ajudaram demais, então sou muito grato. Mas o coração é são-paulino mesmo.