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Diego Alves vê protestos como combustível no Fla: "Desistir é para fracos"

Diego Alves festeja vitória do Flamengo sobre o Emelec - Alexandre Vidal e Marcelo Cortes/Flamengo
Diego Alves festeja vitória do Flamengo sobre o Emelec Imagem: Alexandre Vidal e Marcelo Cortes/Flamengo

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/08/2019 04h00

Na montanha russa rubro-negra, o goleiro Diego Alves precisou de apenas 72 horas para trocar a fantasia de vilão pela de herói da torcida do Flamengo. Ao pegar o pênalti cobrado por Arroyo, o camisa 1 deu início ao carnaval que explodiu tão logo Queiroz, do Emelec, chutou seu pênalti no travessão e garantiu ao clube a vaga nas quartas da Libertadores. No domingo anterior, viveu o outro lado da moeda ao ser vaiado por supostas falhas na vitória por 3 a 2 sobre o Botafogo.

Bem-humorado, o jogador recebeu o UOL Esporte para uma conversa horas depois de sua noite mais feliz com a camisa do clube, que ocorreu justamente quando completou 100 jogos vestindo vermelho e preto.

Diego admitiu que o elenco tem de trabalhar a ansiedade da torcida por grandes títulos e pediu uma reflexão geral sobre "protestos" no aeroporto. O atleta, que já se indispôs em um episódio semelhante, quando atirou um copo de café na direção de um grupo que protestava antes de um embarque, classificou as pessoas que ameaçaram Diego (Ribas) como "vândalos", mas deu a eles sua resposta:

"As pessoas que querem criar tumulto querem isso. Nós já temos uma bagagem grande. Mas eles não sabem que, quanto mais fazem, mais temos vontade de provar o contrário. Desistir seria para os fracos".

Confira a íntegra do papo com o rubro-negro;.

Noite após a classificação

"É difícil descansar pela euforia, nervosismo e ansiedade, mas a gente tenta estar com a família e os amigos. Precisamos de tempo para desfrutar esses momentos. Tempo é muito curto para desfrutar. Quando temos essa possibilidade depois de um jogo daquele, vale a pena. O problema é dormir, perdi a noite completamente, mas é prazeroso".

Montanha russa rubro-negra

O futebol é assim, gera esse tipo de repercussão e emoção. Por se tratar de Flamengo, de grandeza, de pressão, é normal. O clube faz com que isso seja normal. Os debates, notícias inventadas e muitas coisas que podem repercutir para o bem e para o mal. Com o passar do tempo, a gente vai se acostumando. A gente já sabe. Confio muito no meu trabalho, estou bem preparado para qualquer situação.

Peso extra na Libertadores

"Ano passado, já havia não sei quanto tempo que o Flamengo não ia para as oitavas. Classificamos e saímos no início. Esse ano, passamos para as quartas. Em determinada circunstâncias, quebramos nove anos que o clube não passava. Esses tabus estão aí para ser quebrados, os jogadores sabem disso. Não acredito em carga extra. Não tem como você ter 100% de certeza do que vai acontecer numa Libertadores. Ainda mais que o Flamengo está construindo um time para ser campeão, time com mentalidade positiva e preparado para essas situações. Estamos preparados para encarar esse objetivo de frente".

Preparo mental para lidar com a pressão

"Isso tem de ser trabalhado. A ansiedade gerada pode influenciar dentro de campo, mas é uma coisa trabalhada por nós. Temos de ter o controle dentro do jogo para podermos escolher as melhores opções quando elas surgirem. O Jorge (Jesus) trabalha muito isso, pede para a gente fazer o que treina, isso facilita. Mas a ansiedade existe, a torcida do Flamengo envolve muita emoção. Isso gera essa ansiedade. Mas contra o Emelec a torcida foi 100%, foi irretocável o que eles fizeram. Jogaram junto e isso ajudou".

Trabalho do "Mental coach" no Flamengo

"O Evandro (Mota) é muito conhecido no meio, é um coach que trabalha muito a parte emocional do jogador. Conversa diariamente e é uma ligação direta com o treinador, para o técnico ter essa sintonia. É um cara que ajuda bastante. Estamos bem direcionados, com todas as posições do clube bem cobertas para que a gente atinja o objetivo principal".

Ansiedade rubro-negra por conquistas
Diego Alves festeja com jogadores do Flamengo - Bruna Prado/Getty Images - Bruna Prado/Getty Images
Diego Alves festeja com jogadores do Flamengo
Imagem: Bruna Prado/Getty Images

"Talvez a obsessão traz a ansiedade, todos querem ganhar a Libertadores, todos querem ganhar o Brasileiro. Um time com a grandeza do Flamengo, com tantos torcedores e que está sem títulos de expressão há tanto tempo, gera esse tipo de situação. É aparentemente normal pelo que o clube viveu e o que o clube vive. O que a gente está tentando é trabalhar o máximo possível para buscar esse título que o torcedor tanto quer. O objetivo principal é a Libertadores e o Brasileiro. Queríamos a Copa do Brasil, mas fomos eliminados. Essa obsessão não pode atrapalhar o jogador. Do lado de dentro, a gente tem de saber que é o trabalho que vai nos levar ao título".

Incômodo com protestos no aeroporto

"Não só eu me incomodo. Se perguntar para os jogadores do Palmeiras e do Corinthians, eles também. Nós somos profissionais, jogadores de futebol. A cobrança e a pressão são normais. Não pode acontecer a falta de respeito, a agressividade, a agressão e a covardia. Isso não pode existir, não só no Flamengo. Se quiser protestar, dentro do campo você pode protestar, mas não no aeroporto. Não é torcida, são vândalos que vão para criar tumulto. Se uma pessoa entrar no UOL, te xingar e te jogar um monte e coisa, como você reagiria? É um ambiente de trabalho. Com a força que a imprensa tem, isso tem de acabar no mundo e no Brasil. Não pode existir isso em 2019. A imagem que se passa lá fora são de vândalos e pessoas descontroladas. Temos de melhorar muito isso no Brasil".

Como digerir o episódio

"As pessoas que querem criar tumulto querem isso. Nós já temos uma bagagem grande. Eles não sabem que, quanto mais fazem, mais temos vontade de provar o contrário. Desistir seria para os fracos. O que não pode é aceitar a banalidade, isso é coisa de vândalo. A pressão, a crítica e a vaia fazem parte do futebol, estou de acordo plenamente".

Mentalidade europeia no clube
Diego Alves, do Flamengo, defende pênalti contra o Emelec - Alexandre Vidal e Marcelo Cortes/Flamengo - Alexandre Vidal e Marcelo Cortes/Flamengo
Diego Alves, do Flamengo, defende pênalti contra o Emelec
Imagem: Alexandre Vidal e Marcelo Cortes/Flamengo

"A partir do momento em que o clube brasileiro começa a trazer os jogadores da Europa, está atingindo um nível superior ao anterior. Está tudo sendo direcionado para isso. Não para se tornar um clube europeu, já que o Flamengo é o Flamengo brasileiro. Mas um clube vencedor. Para ser vencedor e ganhar títulos todos os anos, você tem de ter uma estrutura importante por trás. É o que o Flamengo está fazendo. Reestruturando a parte financeira, de centro de treinamento e todo o resto".

Seleção brasileira

"Minha prioridade é o Flamengo, independentemente de seleção ou não. Estou concentrado para render o máximo no Flamengo. A partir daí, o que te leva a seleção é o rendimento no seu clube. É uma decisão que cabe ao treinador".