! Universo de Romário gira em torno de 'peixes' e desafetos - 28/12/2004 - UOL Esporte - Futebol

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  28/12/2004 - 21h40
Universo de Romário gira em torno de 'peixes' e desafetos

Da Redação
Em São Paulo

Arquivo/Folha Imagem 
No Vasco, Edmundo e Romário não conseguiram ter um clima amistoso
Na trajetória de conquistas, derrapadas e polêmicas no futebol, Romário virou um ícone tão grande nacionalmente a ponto de criar ao seu redor um universo próprio, onde circulavam seus amigos, chamados peculiarmente de 'peixes', e desafetos.

A sede do reino de Romário se constituiu no bairro da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro. Lá, além da suntuosa cobertura, o atacante montou a danceteria Café do Gol. No entanto, a 'corte' do Baixinho costumava se reunir no Viajandão, um quiosque na praia onde os 'peixes' bebiam, comiam e, principalmente, jogavam futvôlei. Lá rodeavam o astro alguns jogadores menos famosos e figuras fáceis da televisão, como o ator Eri Johnson.

Um personagem interessante neste mundo de Romário é Edmundo, que transitou entre o grupo de amigos e desafetos durante a última década. Apresentados pelo então dirigente do Vasco Paulo Angione, os dois atacantes cariocas se tornaram parceiros quase inseparáveis.

A corte agora está contente. O rei, o príncipe e o bobo"
Romário, ao falar sobre a "harmonia" que imperava em 2000 no Vasco entre Eurico, o Rei, ele próprio, o príncipe, e Edmundo, o bobo

Em 1995, no auge dos tempos do Viajandão, o 'casamento' da dupla atingiu o ápice quando os dois foram contratados pelo Flamengo para compor o 'ataque dos sonhos', ao lado do novato Sávio. De quebra, Romário e Edmundo ainda lançaram uma música de funk, surfando na onda dos 'bad boys'.

A amizade começou a degringolar por vaidades financeiras, tanto no Flamengo quanto na incipiente parceria musical. O então 'peixe' Edmundo alegava que Romário tinha privilégios demais. Em pouco tempo a dupla já não se falava.

Com a saída de Edmundo do Flamengo, os dois começaram a se cutucar através da imprensa. Mesmo com a pública animosidade, o Vasco apostou em reunir a dupla novamente em 2000, para a disputa do Mundial de Clubes da Fifa.

"Romário pensa que é o rei da cocada preta. O que esperar de um cara que se acha Deus?"
Zico, alvo preferencial das críticas do atacante

Mais uma vez a parceria passou longe dos títulos. E, integrando o mesmo elenco, a rivalidade explodiu de novo em São Januário. Romário e Edmundo mal se falavam e não faziam questão de se entender em campo. Nesta época, os microfones da imprensa recebiam o duelo de ironias da dupla.

Mas, mesmo depois de tudo, Romário e Edmundo voltaram a se reunir, provando que pode-se esperar qualquer coisa do futebol carioca. Em 2004, a dupla se reuniu no elenco do Fluminense e ensaiou uma trégua. No entanto, em baixa técnica, o novo conflito dos atacantes não ganhou o eco das brigas anteriores.

Outros desafetos clássicos na carreira de Romário são Zagallo e Zico, responsáveis pelo corte do Baixinho nas vésperas da Copa de 1998. Mesmo lesionado, o atacante alegava na época que podia se recuperar a tempo de reforçar a seleção durante o Mundial.

Meses depois, Romário acabou jogando fogo na relação com os outros dois grandes nomes do futebol brasileiro ao colocar desenhos jocosos de Zagallo e Zico em portas de banheiro em seu Café do Gol. A brincadeira acabou resolvida na Justiça.

Arquivo/Folha Imagem 
Romário e Ronaldo ensaiaram uma parceria na seleção e hoje trocam farpas
"Não devo nada a essa pessoa (Zico). Não tenho culpa se tem gente que nasce perdedora", cututou Romário na época do incidente.

Os meses que antecederam a Copa do Mundo seguinte adicionaram mais um desafeto à carreira de Romário. Na reta final da turbulenta campanha da seleção nas eliminatórias, o atacante fez sua despedida oficial em derrota para o Uruguai em Montevidéu.

Na ocasião, um incidente nebuloso na capital uruguaia fez o então técnico Luiz Felipe Scolari preterir Romário definitivamente do planejamento para o Mundial de 2002. Meses depois, com o Brasil já classificado, o treinador resistiu à massacrante pressão popular pela convocação do Baixinho, que contou até com 'lobby' do presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

Nem mesmo Romário se debulhando em lágrimas em uma entrevista coletiva, convocada para pedir uma chance na seleção, fizeram Felipão mudar de idéia. Aparentemente com o respaldo de seu elenco, o treinador foi à Copa sem o herói de 1994 e acabou triunfando com o pentacampeonato mundial.

"Isso foi criado no Brasil, mas até hoje eu tenho bom ambiente com o Baixinho. Eu apenas fiz uma escolha e naquele momento entendi que outros estavam melhores para jogar", declarou em 2003 Scolari, hoje comandante da seleção portuguesa.

O incidente no Uruguai em 2003 também pôs fim à sonhada dupla entre Romário e Ronaldo na seleção, que de fato nunca chegou a emplacar. A parceria denominada de Ro-Ro. A amizade ensaiada em alguns amistosos acabou não progredindo depois, muito por causa de uma rivalidade velada.

"Acho que o jogador se auto-intitular como o melhor é pretensão demais. Nem tenho esse costume""
Ronaldo, sobre o fato do ex-parceiro se considerar publicamente o melhor depois de Pelé

Os dois maiores astros da história recente do futebol brasileiro jamais escancararam, mas em ações indiretas apimentaram a disputa sobre quem teria sido o melhor. Neste ano, Romário afirmou que se considera o mais completo depois de Pelé.

No mesmo discurso, o Baixinho declarou que Ronaldinho Gaúcho é superior que Ronaldo. De forma imediata, o goleador do Real Madrid rebateu, dizendo que era pretensão demais alguém se considerar melhor. O 'Fenômeno' também afirmou que seus números o colocam na elite, quer gostem ou não.

"Fico muito feliz por ter entrado para a história, mas não tenho nenhuma pretensão de superar os números de Pelé", retrucou Ronaldo.

Nem mesmo Pelé passou ileso pela metralhadora verborrágica de Romário. Depois de ser criticado pelo 'Rei' em uma atuação pela seleção, o Baixinho disparou contra o maior artilheiro do Brasil, dizendo que "Deus abençoou os pés desse cidadão, mas se esqueceu do resto e principalmente da boca", entre outras coisas menos cordiais.

Deus abençoou os pés desse cidadão, mas se esqueceu do resto e principalmente da boca, porque quando ele fala só sai besteira, ou melhor: só sai merda
Romário, em 1998, após ter suas atuações na Copa Ouro criticadas pelo Rei

Entre os dirigentes, o principal 'peixe' de Romário foi o manda-chuva vascaíno Eurico Miranda, mesmo com alguns altos e baixos de relacionamento. Foi o presidente do Vasco que investiu na contratação do atacante depois de sua polêmica saída do Flamengo.

Em São Januário, numa brilhante temporada 2000, Romário teve o último suspiro de glória com a conquista da Copa João Havelange e da Mercosul, numa final épica contra o Palmeiras, quando marcou três gols.

Eurico Miranda, que teve a ajuda de Romário para equilibrar a folha salarial do clube, em troca ficou do lado do atacante na briga com Edmundo e ainda promoveu a iniciativa inédita no futebol brasileiro de aposentar uma camisa. Depois da saída do Baixinho de São Januário, o número 11 jamais foi usado novamente.


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