| 14/09/2004 - 09h30 Seleção terá que "fabricar" levantadoras para Pequim-2008 Luciana de Oliveira Em São Paulo Sem técnico, a seleção brasileira feminina de vôlei também busca substitutas para outro delicado posto, o de levantadora. Com a "Era Fernanda Venturini-Fofão" por terminar, o Brasil pagará o preço por ter tido duas jogadoras de tão alto nível ao mesmo tempo e durante tantos anos -fato que resultou em muitas conquistas, mas "fechou" as portas da seleção para as demais atletas da posição.
 | | Melhor levantadora do Mundial-2002, Marcelle (d) poderá voltar à seleção | "Com a saída delas, hoje não temos uma jogadora com maturidade para conduzir uma equipe e fazer as outras atletas crescerem", opina Antonio Rizola Neto, o técnico da seleção brasileira juvenil.
Ele e outros especialistas dizem que há boas candidatas para serem trabalhadas neste posto até os Jogos de Pequim-2008. A mais cotada é Marcelle, 27, irmã da jogadora de vôlei de praia Ana Paula e uma das poucas atletas que conseguiram um espaço na Era Venturini-Fofão. "Tenho uma certa experiência na seleção, mas ainda preciso adquirir muito mais", diz a própria jogadora, que é titular no ACF/Campos (RJ).
É justamente a pouca ou nenhuma prática em competições internacionais que compromete as levantadoras brasileiras. "Acho que a Fofão devia ficar mais um ou dois anos para passar sua experiência às demais", diz Willian Carvalho, ex-levantador da seleção e hoje técnico do time feminino Brasil Telecom (RJ).
Chance 'caiu do céu'
Nos últimos 12 anos, as oportunidades na seleção foram raras para as outras levantadoras. Marcelle teve sua chance durante a crise que a equipe viveu entre a saída de Bernardinho, em 2001, e a vinda de José Roberto Guimarães, em 2003.
Na época, Venturini estava "aposentada" e Fofão foi uma das que pediram dispensa do grupo por discordar do então técnico Marco Aurélio Motta. "A oportunidade de ser titular da seleção caiu do céu", lembra Marcelle.
PRINCIPAIS CANDIDATAS | Marcelle Idade: 27 anos Altura: 1,81 m Equipe: ACF/Campos (RJ)
| Fabíola Idade: 21 anos Altura: 1,84m Equipe: São Caetano (SP)
| Fernandinha Idade: 24 anos Altura: 1,73 m Equipe: Pinheiros (SP)
| Danielle Lins Idade: 19 anos Altura: 1,84 m Equipe: Finasa/Osasco (SP)
| A mineira assumiu o posto no Grand Prix 2002. "No começo eu estava assustada. O pior foi a turbulência que a seleção vivia", conta a levantadora. "Com o pedido de dispensa das jogadoras mais experientes, o novo grupo foi formado às pressas, com atletas que eram reserva até nos seus clubes." O Brasil ficou em quarto.
No mesmo ano, Marcelle foi eleita a melhor levantadora do Mundial, mesmo com a seleção terminando apenas em sétimo. "Ela mostrou que tem competência. É uma pena que o trabalho dela na seleção tenha sido interrompido", opina Rizola.
Marcelle encerrou sua passagem pela equipe no Grand Prix de 2003, com outro resultado desastroso da seleção (sétimo lugar). Zé Roberto assumiu logo depois e trouxe Venturini e Fofão de volta.
"É claro que eu fiquei chateada. Mas realmente não havia espaço para outra levantadora quando se tinha duas do nível da Fernanda e da Fofão", conforma-se a atleta que, numa época em que teve de se afastar das quadras devido a uma contusão no joelho, pediu que Venturini lhe emprestasse vídeos de seus jogos para assistir em casa as atuações da levantadora titular da seleção. "Aprendi muito observando a Fernanda", diz.
Paciência
Rizola avisa que será preciso ter paciência com a fase de transição da seleção. Além de levantadoras, o time precisará de novas jogadoras para substituir outras veteranas, como Virna. "Cuba passou por esta transformação. Obteve resultados desastrosos nos últimos anos, mas na Olimpíada de Atenas se manteve no pódio (bronze)", compara. "Me preocupa o que pode acontecer com o Brasil. Será preciso paciência para o time amadurecer. Teremos o Pan no Rio de Janeiro, em 2007, e o torcedor brasileiro precisa ser condicionado a entender que a vitória será difícil."
Zé Roberto, cujo contrato com a seleção terminou após os Jogos de Atenas, alerta que é preciso pensar mais à frente ainda. "Além de substitutas imediatas, precisamos nos preocupar em formar futuras levantadoras. Atualmente não temos tantas jogadoras boas para a posição, isso inclusive é um fenômeno mundial", diz o atual comandante do Finasa/Osasco (SP).
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