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Rosenberg admite atritos passados com Andrés e diz: "nunca imaginei voltar"

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

16/02/2018 04h00

Ao lado de Andrés Sanchez, Luís Paulo Rosenberg foi a figura mais midiática e eloquente dos primeiros anos de Corinthians do grupo "Renovação & Transparência". De volta ao clube como diretor de marketing e, na prática, o número dois da nova gestão Andrés, Luís Paulo admite que o regresso era algo muito distante quando, no fim de 2012, cancelou o título de sócio corintiano e se afastou da vice-presidência.

Nesta entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Rosenberg conta que Sanchez era um desafio para ele e o então presidente Mário Gobbi pelo "envolvimento constante" com o Corinthians. A dificuldade em lidar com a presença de Andrés, entre outros fatores, fez com que Luís Paulo se afastasse, mas também motivou o retorno. Hoje responsável por marketing, Arena Corinthians, financeiro, jurídico e comunicação, ele é a maior aposta do presidente para uma nova ascensão administrativa do clube.

Incumbido de renegociar o financiamento da Arena com a Caixa, pois é o padrinho do plano comercial original do estádio, ele pediu à reportagem para não abordar o tema com profundidade. Mas não fugiu de outras questões atuais e mais antigas, além de avisar que Ronaldo já teve o seu primeiro envolvimento na nova fase do Corinthians.

Confira a entrevista com Luís Paulo Rosenberg:

UOL - A maior dificuldade para a renegociação da Arena é a questão das garantias?
Rosenberg - É uma negociação. O que eu contar alimenta os meus adversários. Essa discussão [de garantias] não é relevante. No primeiro contrato, está escrito que as receitas da Arena devem completar um Fundo que serve para pagar as prestações. Então isso já é do Fundo. O mecanismo de passagem é que pode ser trabalhado. Vamos ter calma. Garanto que, ao final, transmitiremos tudo que esteve em jogo. Não tem ameaça, confronto, é um clima muito legal com a Caixa, com todos encontrando solução.

UOL - O prazo final para o pagamento é realmente inegociável?
Rosenberg - Do meu lado, eu negocio. É saber do lado de lá. (Luis Paulo pede para não falar mais do tema).

UOL - Como colunista da Rádio Bandeirantes, o senhor costuma fazer comentários sobre o governo Temer. Como isso influencia ao se sentar com a Caixa para negociar?
Rosenberg - Mantenho muito separados. Uma coisa é uma coluna independente em que exponho posições e dou porrada quando tem que dar e, se tiver que elogiar, eu elogio. Tenho seis anos como funcionário do Governo Federal. Nunca pedi favor, não estive envolvido em sacanagem, não pertenci a nenhum partido, pró ou contra. Na negociação original, com BNDES, Banco do Brasil e Caixa, são pessoas técnicas, o relacionamento flui muito. Tem uma coisa que, quando saí do governo, adotei como norma: não proponho ao funcionário público o que eu não aceitaria.

UOL - Como se sente voltando ao clube?
Rosenberg -
Ser cartola é um eterno conflito entre o prazer que se tem por estar se esforçando para dar felicidade para a Fiel e de sacrifício que é trabalhar com profissionalismo e racionalismo em um barril de emoções. É muito complicado. Dizer que a situação financeira e de imagem é danificada...é um trabalho de resgate, e dizer que é como foi da primeira vez, é exagero. Não é o mesmo cenário, o time está treinado, passamos pelas dificuldades.

UOL - O senhor hoje é praticamente um número dois na hierarquia, embora não seja vice-presidente?
Rosenberg -
Sem dúvida que, no clube de futebol, o maior braço é o futebol. O que a gente tenta fazer, e nisso o Andrés foi muito incisivo, é o seguinte: ele quer que primeiro a concepção do estádio é sob o marketing. Assim que aprovamos e negociamos [o estádio], de alguma forma, houve um desgarramento e isso não é bom. São duas equipes comerciais, duas financeiras, e às vezes acontece dos dois irem bater no mesmo possível patrocinador.

UOL - O senhor cuida de marketing, estádio, financeiro, comunicação e jurídico.
Rosenberg -
A junção tem essa grande vantagem, de aproveitar energias e reduzir custos. A comunicação de um clube de futebol tem duas faces da mesma moeda. Uma é do futebol em si, dos exemplos diários no CT, de contratações e vendas, o dia do jogo, é uma assessoria de mídia muito especializada, definida, e que vamos dizer que a área econômica não acrescenta e não se mete. A imagem do clube, a postura perante desafios, a comunicação das decisões, a direção do marketing, a Arena é uma coisa importante pelo impacto econômico e o Andrés exigiu que ficasse com a gente.

UOL - Como funciona essa função?
Rosenberg -
São duas rodas em paralelo. São duas diretorias da mesma importância e que trabalhavam soltas, desligadas do marketing. Agora estamos juntos: o marketing, o financeiro, o jurídico. Isso dá uma consistência, uma redução de custos. A gente cuida disso, e a gente não se mete em futebol nem para cornetear, para sugerir, ainda que as duas comunicações estejam integradas e se conversam. Em uma negociação complexa como do Ronaldo, vamos ser convocados e trabalharemos com muito prazer. Essa dicotomia entre futebol e não futebol o Andrés administra muito bem. Desde a morte do Juvenal, não há como questionar que ele é o maior cartola em saber de futebol, em lidar com jogador, conhecer os retrospectos dos jogadores, as facilidades, depois da seleção em que teve um contato internacional. Andrés nisso é mestre.

Rosenberg deixou gestão Gobbi após somente um ano como vice-presidente - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Rosenberg deixou gestão Gobbi após somente um ano como vice-presidente
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians


UOL - Mas em entrevistas durante a gestão do doutor Mário Gobbi, em que houve problemas com o Andrés, o senhor chegou a criticar 'ex-presidente que compra apartamento em frente ao Parque São Jorge', em menção ao atual presidente. Aconteceu isso?
Rosenberg -
É uma pergunta retórica [risos]. Quem consegue conter o Andrés? Ele tem um envolvimento emocional que é sobre humano. Como alguém deixa de ser presidente para morar em frente ao clube? Ele não consegue se desligar, a política não o absorveu, a CBF não conseguiu absorver. Ele é Corinthians, Corinthians e Corinthians.

UOL - Mas de fato houve um desgaste para a então administração.
Rosenberg -
Sim, tem os dois lados da moeda. Quem está de presidente sofre demais, é um privilégio ter alguém tão versado no futebol brasileiro e com coração e visão estratégica. Eu era vice-presidente, levar "chuchada" dele não é fácil [risos].

UOL - Nesse mesmo período, o senhor deixou de ser sócio do Corinthians. Se arrepende?
Rosenberg -
Deixei. Olha, confesso que nunca imaginei que voltaria. Quando fui para o Corinthians, nunca me imaginei em profissão de cartola. Combinei com o Andrés, vamos fazer o seguinte: temos a obrigação de voltar para Série A, ganharmos a Libertadores e dar o estádio da Fiel. Quando fizermos isso, vou embora. Ainda caiu um Mundial maravilhoso no colo, aí desci do avião e falei que não tinha mais nada para fazer e nisso eu até achava que dava exemplo de mostrar que o Corinthians era maior que todos nós, que vão surgir talentos.

UOL - Há alguns nomes dessa turma mais antiga na atual diretoria.
Rosenberg -
Nesta gestão trouxemos um diretor financeiro jovem, um avião, moderno. Na comunicação, o Tiago Oliveira, que nunca trabalhou com futebol, mas conhece as redes sociais, o jornalismo moderno, é familiarizado com isso. O jurídico também não era sócio, mas é um corintiano fanático, é ligado no futebol, doutor em várias especialidades do Direito e chefe de departamento do Mackenzie e abaixo de 40 anos. Isso é muito bonito e importante. Ficam os dois coroas, Duílio e eu, que damos lastro para essa moçada.

NR.: Wesley Mello (diretor financeiro), Tiago Oliveira (assessor de imprensa), Fábio Trubilhano (diretor jurídico) e Duílio Monteiro Alves (diretor adjunto de futebol) são membros da nova gestão.

UOL - O que pode ainda ser feito com a camisa? O uniforme está quase cheio, mas resta o espaço máster.
Rosenberg -
Botar marca no espaço vazio. Veja, meu problema central é falta de grana, então vou tentar obter o máximo possível no uniforme inteiro. Vamos ver. Entramos em negociação e, dependendo de como evoluir, a gente se adapta. Sento sem restrições à mesa. Tenho um problema financeiro grave e o uniforme é um patrimônio importante para gerar receitas.

UOL - Existe alguma situação adiantada?
Rosenberg -
Então, vamos lá. Se existem interessados em negociação? Vários. Se o Andrés me pede para dizer em quanto tempo nós teremos um contrato, eu pulo fora. O que aprendemos no mundo dos negócios é que quem entra com data para fechar, sai perdendo.

UOL - A gestão anterior anunciou um novo patrocínio com a marca Positivo no último dia. Isso foi bom ou ruim para o senhor?
Rosenberg -
Veja, o mandato do Roberto ia até as 6h da tarde do sábado. O que ele fez no período é legítimo. Uma negociação como essa toma tempo, então deve ter começado bem antes. Não fui nem comunicado nem consultado, como não deveria ser, pois não se sabia o próximo presidente. Mas é uma marca respeitada, que acrescenta valor à nossa.

UOL - O Ronaldo volta mesmo a participar?
Rosenberg -
Ele não tem uma função específica. É um corintiano fanático, isso é notório no mundo todo. Em um furo de reportagem, posso avançar que ele já está participando em Londres de uma iniciativa experimental nossa. A gente vê no Ronaldo um irmão que se pode pedir qualquer coisa, respeitando as restrições e o tempo disponível dele. É um aliado muito forte, é pessoa física. Eu recebi mais de 50 mensagens de corintianos notórios dizendo 'olha, o que precisar, estamos aqui'.

NR.: Luís Paulo se nega a dar mais detalhes sobre a ação que Ronaldo participa na Inglaterra.

Rosenberg em anúncio de novo patrocinador corintiano em 2009 - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Rosenberg em anúncio de novo patrocinador corintiano em 2009
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians


UOL - Com a SPR, houve muitos atritos na gestão Roberto e fechamento em massa de lojas oficiais. Qual a situação? Seu gerente de marketing, Caio Campos, deixou o Corinthians para trabalhar na empresa e retornou agora ao clube.
Rosenberg -
Vou tratar de uma forma objetiva, como todos os parceiros têm que ser tratados. Construímos uma rede de lojas e passamos por uma crise no Brasil que foi muito grave e graças a Deus está se revertendo.

UOL - Qual deve ser o objetivo com as lojas?
Rosenberg -
Quero chegar a um faturamento de R$ 10 milhões de receitas nas lojas. Vamos tentar alavancar esse tipo de receita, como vamos tentar com a Nike para todos licenciados receberem estimulação. Na verdade, vamos criar um portal de vendas de tudo que o Corinthians licencie.

UOL - Como funciona isso?
Rosenberg -
Desde serviço, roupa, de tal forma que a gente facilite ao torcedor entrando num só lugar e podendo adquirir o que bem entende. Falando da essência do marketing que é criar produtos que o consumidor está desejoso e facilitar o acesso a esses produtos. Vejo a SPR como parte do esforço do mesmo jeito que a Nike, a venda do estacionamento, o Tour da Arena, uma agência de turismo para levar os torcedores em jogos fora.

Todo um núcleo que consiga repetir o sucesso que tivemos no cruzeiro marítimo de corintianos, vamos trazer de volta. Lembra a campanha de botar fotos dos torcedores na camisa? É tão Corinthians isso. Durante o ano inteiro, o torcedor veste o clube no peito. No último jogo, o time joga com a cara do torcedor no peito. Quero agitar, mobilizar, colocar à venda.

UOL - Como conseguir vender os camarotes da Arena?
Rosenberg -
Vamos vender tudo, você vai ver. O problema na Arena é quebrar um círculo vicioso. Como ela ficou pronta em um período em que se perdia dinamismo, se viu em apuros financeiros e não consegui implementar uma programação de atividades que a gente tinha previsto. Aquela Arena, se comparar com o Allianz, é localizada em lugar 'mosca branca', um privilégio enorme, fácil de chegar e é tão gratificante a experiência de ver um show lá que se realiza de 80 a 100 eventos por ano. A nossa não concorre com o Allianz Parque.

UOL - Quais as diferenças para o estádio do Palmeiras?
Rosenberg -
Está mais distante do centro econômico e geográfico de São Paulo, mas agora ela é naturalmente o point da Zona Leste. Então, temos a oportunidade de ter muito mais espaço que outra, de se transformar esse privilégio de estar no coração da Zona Leste em um espaço disponível para estacionamento, para shows em um estacionamento descoberto que não vai a Madonna, mas de músicas populares uma vez por semana, uma academia, lojas, restaurantes, para funcionar 7 dias por semana. Tenho que ter casamentos, convenções, peças de teatro.

UOL - Quais as experiências positivas a implantar?
Rosenberg -
Andrés e eu estivemos no River Plate. Aquele estádio tem tudo cheio, e é decadente como o Morumbi, mas tem um 'appeal' que lá dentro tem escola desde o maternal até pós-graduação. É o dia todo ocupado pelos jovens, o que dá uma atmosfera genial. É fazer tudo isso para tornar o estádio cumpridor da missão social na Zona Leste. Se você compara o que era o miolo antes do estádio e depois, é espetacular.

UOL - Mas e o camarote, como o senhor pretende vender?
Rosenberg -
É todo um trabalho de atrair, de se integrar com shopping, fazer com que a moçada de noite se encontre no shopping. Se vão jogar boliche, se vão numa lanchonete ou assistir aula, o point onde vão se encontrar é a Arena. Nessa hora, meu valor como naming rights explode, a exposição da marca que coloque o nome fica maior que os 80 ou 100 shows da Allianz. Esse respeito à vocação de cada Arena é que precisa haver.