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Erguida com mutirão e influência política, 1ª casa corintiana faz cem anos

Ponte Grande, primeiro estádio do Corinthians, foi inaugurado há exatos 100 anos - Departamento Cultural do Corinthians
Ponte Grande, primeiro estádio do Corinthians, foi inaugurado há exatos 100 anos Imagem: Departamento Cultural do Corinthians

Diego Salgado

Do UOL, em São Paulo

17/03/2018 04h00

O Corinthians passou a jogar em Itaquera na temporada 2014 depois de adotar o Pacaembu por décadas e também utilizar o Morumbi em muitas decisões. Ainda dono do Parque São Jorge, onde está localizada a Fazendinha, o clube comemora neste sábado o centenário do seu primeiro estádio: a Ponte Grande, que recebeu o primeiro jogo no dia 17 de março de 1918.

Lá, o Corinthians atuou por pouco mais de nove anos, até migrar para o Parque São Jorge, em 1928. E para ter seu próprio campo, o clube, ainda incipiente no cenário do esporte, conseguiu erguer seu primeiro estádio por meio de um mutirão de sócios e influência política de um importante dirigente, que era também deputado estadual.

Além disso, o surgimento do campo da Ponte Grande se tornou um dos primeiros capítulos da rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, que à época ainda era Palestra Itália. Apenas dois anos depois de o clube alvinegro se tornar proprietário de um campo, o rival conseguiu fazer o mesmo ao comprar o Parque Antártica, já em 1920.

O caminho até a Ponte Grande

O primeiro estádio do Corinthians era localizado onde hoje é o Centro Esportivo Tietê, próximo à Ponte das Bandeiras, na Marginal do Tietê. No espaço, havia outro campo famoso, a Floresta, e uma área ligada ao Clube de Regatas Tietê. Lá, formou-se, então, um grande espaço destinado a esportes.

Até conseguir ter o seu próprio estádio, o Corinthians alugava espaços pela cidade de São Paulo. Da fundação em setembro de 1910 até o primeiro jogo na Ponte Grande, o time disputou 87 partidas, sendo 70 delas na capital paulista.

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Dez mil torcedores foram à inauguração
Imagem: Departamento Cultural do Corinthians

Por incrível que pareça, o Corinthians mandou 44 partidas no Parque Antártica, que ainda era um campo com uma estrutura de clube destinado aos funcionários da Companhia Antártica. Pela localização, estrutura e um preço de aluguel atrativo, o clube passou a dar preferência ao lugar.

Mas, segundo o historiador Marco Lourenço, autor de uma tese de mestrado na USP que abordou a rivalidade entre Corinthians e Palmeiras, os clubes, àquela altura, buscavam um local próprio para jogar. "O clube precisava ter uma sede, um campo para mandar os jogos. Estava virando uma determinação", disse Lourenço, que é um dos fundadores do site Ludopédio.

Ainda de acordo com o historiador, os espaços de futebol começavam a ser alterados na cidade, que já tinha visto o desaparecimento do Velódromo, campo mais importante de São Paulo entre 1902 e 1915. "A várzea começa a ser modificada. A prefeitura tinha interesse em mudar esse futebol informal e enquadrar dentro de um modelo", ressaltou.

Em meados de 1916, assim, o Corinthians costurou um acordo para arrendar o terreno da Ponte Grande. Para isso, contou com a força política de Alcântara Machado, eleito deputado estadual em 1915 depois de ter sido vereador.

De acordo com Fernando Wanner, historiador do Corinthians, o político e dirigente ajudou a minimizar as dificuldades burocráticas e orientou a tramitação do processo com os órgãos municipais de São Paulo. Com ele, então, o clube conseguiu arrendar o terreno sob pagamento valores previstos no contrato.

Para Lourenço, esse auxílio abriu precedente para a relação entre o poder público e os clubes de futebol, que é visto até hoje. São Paulo e Palmeiras, por exemplo, arrendaram as áreas de seus centros de treinamento, assim como o terreno da Arena Corinthians foi cedido pela prefeitura em 1988.

Mutirão até o sonho virar realidade

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Ponte Grande ainda tinha a Floresta, da Associação Atlética das Palmeiras, e o Tietê
Imagem: Departamento Cultural do Corinthians

Por quase dois anos, o Corinthians contou com o apoio de seus sócios para erguer as arquibancadas e uma estrutura mínima para o recebimento de partidas - vestiários e um bar também foram construídos. "Foi um estádio construído pela torcida. Não tinha publicidade, era na base do mutirão", frisou Wanner.

Segundo Lourenço, as obras foram orçadas em até 80 mil réis. No mutirão, sócios inadimplentes ajudaram o clube em troca da regularização. Parafusos e pregos foram doados por Alfredo Schürig, dono de uma loja de material de construção e futuro presidente do Corinthians.

No dia 17 de março de 1918, um domingo, o Corinthians recebeu o Palestra Itália na Ponte Grande. Dez mil pessoas assistiram ao empate por 3 a 3. Neco, ídolo corintiano no começo do século passado, marcou o primeiro gol do estádio.

Lá, a equipe alvinegra conquistou o título paulista de 1923, além de atuar no estádio durante as campanhas vitoriosas de 1922 e 1924. Ao todo, segundo o Corinthians, o time disputou 102 partidas no local. Em 1926, o clube acertou a compra do Parque São Jorge, que era usado pelo Esporte Clube Sírio.

Antes, o Corinthians devolveu o espaço da Ponte Grande à prefeitura, que pagou 45 contos de réis ao clube. "Como era um contrato de arrendamento, foi pago esse valor pela benfeitorias", afirmou Wanner.

Depois, a extinta Associação Atlética São Bento comprou o campo. Anos depois, ele foi incorporado pelo Clube de Regatas Tietê, que, com dívidas, perdeu o direito ao terreno no fim de 2016.

Para se transferir ao Parque São Jorge, o Corinthians contou novamente com a ajuda de Alfredo Schürig, que bancou parte do pagamento parcelado em dez anos e ainda voltou a fazer doações para a melhoria das estruturas - por isso, o estádio leva o seu nome.