Neymar já descumpriu código de ética com torcida, mas foi poupado por PSG

Entre vários itens do “bônus por ética” estipulado em contrato no Paris Saint-Germain há a obrigação de Neymar em cumprimentar e aplaudir os torcedores ao final de cada jogo. O ato já foi desrespeitado por Neymar em duas ocasiões na temporada passada, mas nenhuma multa foi aplicada pelo clube com o entendimento de que os episódios foram pontuais e motivados pela vaia da torcida ao brasileiro. Jamais algum jogador do PSG foi punido por descumprir o gesto comum de comemoração com a torcida.

Os contratos divulgados pela emissora francesa “France 2” mostram que Neymar recebe 375 mil euros por mês (cerca de R$ 1,6 milhão) para cumprir com várias normas de conduta. De acordo com apuração do UOL Esporte, o camisa 10 jamais foi multado em um ano e meio no PSG, recebendo assim o valor integral do prêmio.

Os problemas com a torcida aconteceram no mês de janeiro em jogos pelo Campeonato Francês. Na goleada por 8 a 0 contra o Dijon, Neymar brilhou com 4 gols, mas foi vaiado por impedir o ídolo Cavani de cobrar um pênalti. Na ocasião, o brasileiro deixou o campo irritado, sem a tradicional comemoração com os torcedores. A cena se repetiu dias depois na goleada por 4 a 0 diante do Montpellier.

A diretoria do PSG alega que o item do respeito ao torcedor não foi descumprido por Neymar em nenhuma ocasião. O entendimento é de que a vaia justificava uma saída de campo cabisbaixo, e sem retribuição do carinho de parte da torcida. Como a cena foi vista apenas nos dois jogos, o camisa 10 não teve o bônus descontado.

Neymar tem conduta considerada exemplar internamente. No caso do episódios com os torcedores, o argumento do jogador foi de que dores na costas o fizeram ir ao vestiário rapidamente.

Sem atrasos em treinamentos e cumprindo todas as demandas de entrevistas e ações comerciais programadas pelo clube, o jogador jamais teve ameaça de desconto do “bônus por ética”.

O prêmio de Neymar é extremamente maior que os demais jogadores do elenco por ser proporcional ao salario recebido no clube, segundo o PSG. Kylian Mbappé embolsa 117 mil euros mensais (cerca de R$ 500 mil), enquanto Daniel Alves e Edinson Cavani ganham 70 mil euros (R$ 300 mil) e Thiago Silva leva 33 mil euros (cerca de R$ 140 mil).

Após ver o tema do “bônus por ética” explodir na França, o PSG reagiu com comunicado em que diz que "cumprimentar os torcedores é apenas uma das regras que, se for respeitada, permite que os jogadores ganhem um prêmio de ética. O objetivo deste bônus é educativo e, acima de tudo, permite lembrar aos jogadores a incorporarem a imagem e os valores do clube”.

Um caso de desconto na bonificação ocorreu na semana passada. O volante Verratti foi preso por dirigir embriagado em Paris e teve decréscimo de 40 mil euros no valor da premiação do mês. O PSG diz que qualquer valor descontado é investido na Fundação PSG, que realiza diversos projetos sociais ao redor do mundo.

Confira o comunicado do Paris Saint-Germain

RESUMO PRÊMIOS DE ÉTICA

1. Todos os contratos esportivos do Clube e de seus subsidiários estipulam um bônus de ética mensal, cujo pagamento está vinculado à obtenção dos chamados objetivos éticos. Este bônus variável é, portanto, uma parte da remuneração mensal.

2. Todos os atletas do Clube (futebol, futebol feminino, handebol, judô) têm este bônus ético em seu contrato, independentemente de sua idade e status (desde o primeiro contrato no centro de formação até o mais alto nível profissional). 

3. Entre estas 12 regras éticas: comportamento exemplar em relação a parceiros, adversários, árbitros e delegados oficiais; pontualidade e diligência em todo treinamento; a ausência de apostas relacionadas a competições nas quais o Clube participa ou o respeito aos compromissos do jogador com a mídia.

4.Nenhum jogador jamais foi penalizado por não ter aplaudido os torcedores no fina de uma partida.

5. Este sistema visa enfatizar o peso e a importância da instituição como um todo (clube, torcedores, dirigentes, funcionários, parceiros, patrocinadores). O objetivo não é dar um bônus para alcançar esses objetivos; o objetivo é pedagógico em torno dos valores que o clube pretende incorporar.

6. Antes da assinatura do contrato, um discurso completo e claro acompanha a apresentação desta cláusula. É particularmente lembrado que estas regras de senso comum são ainda mais essenciais no contexto ultra midiático do clube. 

Em quais casos os jogadores tem uma parte de seu bônus pela ética retirado?

Em casos excepcionais. Em particular, ausências injustificadas ou comentários negativos como no caso Periscope (lateral Sergie Aurier foi punido por xingar o treinador do PSG). Na extrema maioria dos casos, os objetivos perseguidos por esta cláusula são alcançados.

Para onde vai o dinheiro retirado dos prêmios de ética?

É inteiramente doado para a Fundação Paris Saint-Germain.

Esses bônus de ética só existem no PSG??

Não. Nós os encontramos hoje em muitos clubes esportivos, mas também na Carta dos Bleus criada em 2013 pela FFF. Em geral, esses bônus estão previstos na Convenção coletiva do esporte de 7 de julho de 2005, para jogadores profissionais, no artigo 12-6.