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Balanço da gestão: Andrés completa um ano no Corinthians sem cumprir metas

Andrés Sanchez completa um ano em seu terceiro mandato como presidente do Corinthians - Daniel Vorley/AGIF
Andrés Sanchez completa um ano em seu terceiro mandato como presidente do Corinthians Imagem: Daniel Vorley/AGIF

Arthur Sandes*

Do UOL, em São Paulo

05/02/2019 04h00

Foi em 5 de fevereiro de 2018 que Andrés Sanchez deu início a seu terceiro mandato como presidente do Corinthians. Nesta terça-feira, ao completar um ano no cargo, o dirigente parece encaminhar a Arena alvinegra rumo à modernização, mas ainda tem as finanças do clube bem aquém do prometido durante sua campanha.

O UOL Esporte escolheu algumas das principais promessas feitas por Andrés antes da eleição e, em um balanço de sua gestão, elenca o que já foi cumprido e o que ainda está longe de ser atingido. Então candidato, ele traçou como objetivo o aumento das receitas e o corte de gastos; a modernização da Arena; a reestruturação do departamento de marketing; e a internacionalização da marca do clube.

A começar pelas finanças, as promessas vão mal. Andrés Sanchez havia proposto um aumento de 20% das receitas com marketing, mas o orçamento de 2019 fica longe desta meta: a arrecadação com patrocínios no uniforme está prevista em R$ 42,4 milhões. O clube diz já ter alcançado este valor, o que cumpre o objetivo deste ano, mas fica longe das ambições de crescimento.

Receitas caem

Em 2018 a previsão era de R$ 63,5 milhões, mas nem um terço disso entrou nos cofres - muito devido à ausência de um patrocinador master. Em vez de crescer 20%, portanto, a expectativa pelas receitas baixou cerca de 30%.

Ainda durante a campanha presidencial do Corinthians, outra proposta de Andrés Sanchez era a diminuição dos gastos administrativos em 20%. Também no orçamento deste ano, as despesas gerais e administrativas estão previstas em R$ 38,5 milhões, uma redução de apenas 3% do que foi gasto nesta área em 2018.

Procurada pelo UOL Esporte, a diretoria do Corinthians preferiu não se pronunciar sobre qualquer um dos pontos abordados neste texto. Já os opositores de Andrés Sanchez deram sugestões e apontaram alternativas para que a gestão esteja mais próxima das promessas feitas pelo presidente.

Felipe Ezabella, líder do Movimento Corinthians Grande e ex-candidato à presidência do clube, admite que as receitas com marketing neste ano cumprem a meta, mas pondera. "Ainda é pouco", opina, cobrando incremento nas receitas de licenciamentos. "Enxergamos que o clube precisa urgentemente implementar boas práticas de governança para poder atrair mais e grandes patrocinadores no mercado. A falta de transparência em suas atividades ainda é um grande obstáculo", afirma.

Romeu Tuma Jr. vai mais longe. Também ex-candidato à presidência, ele lembra que as promessas de Andrés não são apenas simbólicas. "O Estatuto [do Corinthians] obriga as chapas a apresentarem um programa de administração a ser implementado em caso de vitória. Ao não cumprir este compromisso, há claramente uma infringência. Esta previsão existe justamente para se evitar promessas eleitoreiras", reclama.

Antonio Roque Citadini, que também concorreu ao cargo de presidente do Corinthians há um ano, vê o clube insistindo em um cenário que estaria ultrapassado. "A lógica da atual diretoria é a mesma de antes da Copa do Mundo [de 2014]: acreditam que todo o mundo quer investir no futebol, cada vez com valores maiores. O foco está errado; agora há uma outra situação. Nossa direção está antiga nesse quesito, retrógrada", critica.

A reportagem ainda tentou ouvir Paulo Garcia, segundo colocado na eleição vencida por Andrés em 2018, mas ele não retornou os contatos.

Arena Corinthians e a parceria com a IBM

Um dos planos de Andrés Sanchez era agregar no estádio corintiano uma série de negócios, para tornar a Arena uma espécie de centro comercial. Ainda que tenha inaugurado uma academia no local, o plano de ter um shopping center e um centro de convenções no prédio oeste parece distante. O mesmo vale para os tão falados naming rights. A expectativa do clube é que a parceria com a IBM, anunciada em dezembro, ajude a captar recursos.

"Não creio que se consiga algo efetivo enquanto não tivermos um Departamento de Compliance e Integridade Administrativa", opina Romeu Tuma Jr. "Isso é que dará um norte aos investidores que buscam transparência para aportarem seus recursos em parcerias efetivas. Ninguém conhece o projeto com a IBM; até agora pareceu apenas uma troca de empresas entre a IBM e a OMNI", compara, em referência à antiga gestora do estádio.

"A demora está muito atrelada à falta de transparência em tudo que se relaciona com o estádio", afirma Felipe Ezabella, que vê com bons olhos a chegada da IBM, mas também cobra transparência "sobre os contratos e sobre a forma de rescisão e do pagamento da suposta dívida que o clube tinha com a OMNI".

Internacionalização da marca

Há cerca de um ano, Andrés pretendia internacionalizar a marca do Corinthians. Em suas palavras, haveria uma parceria com o Corinthian-Casuals para "criar uma vitrine do clube na Europa". Na prática, isso não aconteceu. Também ficou no papel a intenção de "reatar os laços com o futebol chinês".

"Os amistosos com o Corinthian-Casuals se renovam; nós tivemos um histórico no Pacaembu, por exemplo. Aí não tem novidade", aponta Citadini, lacônico.

Ezabella engrossa o coro dos opositores. "Isso é pífio. Não existe qualquer iniciativa neste sentido, mesmo com um ano inteiro de gestão. Acreditamos que foi apenas mais uma daquelas promessas de político, da boca para fora", critica o ex-candidato.

"Nada ocorreu. Essas coisas não se fazem com promessas, mas com ações efetivas. Primeiro precisa arrumar a casa, o que não me parece ter sido bem sucedido", complementa Romeu Tuma Jr.

Reestruturação do marketing

Andrés ainda havia prometido reformular o departamento de marketing do clube, criando equipes específicas para cada modalidade. Questionado, o clube não esclarece se implantou tal projeto. Fato é que equipes de esportes amadores seguem com dificuldade na captação de recursos; o basquete, por exemplo, disputa o NBB sem patrocinadores na camisa.

*Colaborou Ricardo Perrone, do UOL, em São Paulo